Renato Kramer

Como será o mundo quando os jovens do milênio estiverem no comando?

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Os jovens de hoje fazem parte da geração dos milenares (millennials), fazendo referência à virada do milênio. "Os milenares nunca foram tão conectados com o que se passa no mundo", observa Jorge Pontual no "Sem Fronteiras" (GloboNews) do último domingo (28).

"Via smartphones, internet, redes sociais, estão mais ligados, expressão mais apropriada deles mesmos", conclui Pontual. A geração do milênio nos Estados Unidos enfrenta um desafio sombrio: é a primeira em muitas décadas que não vai ter uma vida melhor do que a anterior, informa a locutora.

E acrescenta: "A economia encrencou. Os avanços da alta tecnologia dão a ilusão de que o progresso continua, mas no fundo o que os jovens têm pela frente não é nada animador: salários e empregos estagnados, dívidas enormes para pagar a faculdade, saúde cada vez mais cara, desigualdade crescente. Quem se beneficia dos avanços é uma pequena elite, menos de 1% da população".

A maioria dos jovens milenares trabalha por conta própria, com múltiplas tarefas. Eles criaram a economia do trabalho avulso, que paga muito mal, exige longas horas, mas permite independência, criatividade e flexibilidade, informa a matéria.

Ao serem questionada sobre os motivos de os jovens atualmente quererem ser mais politicamente ativos, uma jovem radialista negra, de um programa de sucesso, argumenta: "Acho que o ativismo político tem crescido muito entre as gerações mais jovens por causa das redes sociais. É mais fácil de se organizar hoje em dia, de ter acesso sobre as notícias horríveis e as atrocidades que estão acontecendo. Isso nos faz sentir que podemos fazer alguma coisa".

A repórter comenta que fez uma pesquisa na internet e achou um artigo sobre os seis hábitos secretos dos "millennials": milenares de sucesso dormem muito, mais de 8 horas; eles abraçam a tecnologia; eles querem ser seus próprios chefes; eles são focados em manter atividades diárias alinhadas a objetivos estratégicos; eles são multitarefas e levam numa boa ter uma tarefa de 24 horas.

Silio Boccanera informa que estatísticas e pesquisas feitas em plano global revelam que os desta faixa etária são mais tolerantes em relação a minorias raciais e preferências sexuais. E que têm um grau de educação formal e um nível de inteligência mais elevados do que seus antecessores. 

No entanto, o desemprego entre 18 e 24 anos, conforme o padrão usado pela Organização Mundial do Trabalho, chega a 48% na Grécia e na Espanha, 40% na Itália, 63% na África do Sul. Na média mundial, três vezes mais jovens do que adultos estão sem emprego.

"Jovens do milênio enfrentam dificuldade maior para conseguir trabalho, renda, moradia independente dos pais. Em parte, como resultado disso estão demorando mais a se casar e ter filhos", diz Boccanera. 

Os jovens são também quem mais se envolve em violência, como autores ou vítimas. Ou em conflitos armados pelo mundo, ou em criminalidade comum perto de casa. "Mais jovens matam e mais jovens são mortos", observa o jornalista.

Como vai ser o mundo quando essa geração dos milenares estiverem no comando? O editor do "The Economist" Robert Guest é quem responde: "Acho que vamos ver um mundo mais tolerante, porque o que se pode são jovens significantemente mais tolerantes em relação à homossexualidade, por exemplo, do que os mais velhos", afirma Guest.

E conclui: "Eles também tendem a ser mais tolerantes em relação a pessoas de outros grupos étnicos e mais favoráveis a ideia de casar com pessoas de outros grupos raciais ou étnicos. Provavelmente teremos um mundo mais consciente em relação ao meio ambiente".

Tonico Ferreira faz um parâmetro com o que aconteceu com a juventude brasileira nesse meio tempo. E relembra que, nas jornadas de junho de 2013, inesperadamente o jovem brasileiro do milênio foi apresentado ao Brasil dos mais velhos. Rios de tinta foram gastos para entender a, entre aspas, ideologia dos que foram às ruas protestar.

"Os manifestantes passaram por cima dos partidos oficiais e da sociologia política convencional. Seria uma 'primavera árabe'? Ou um 'ocupar Wall Street' à moda brasileira? Não foi uma manifestação puramente política como a do 'fora Collor' de 1992", relembra Ferreira.

E acrescenta: "Começou com uma reivindicação específica: contra o aumento do bilhete de ônibus, mas mostrou o poder de mobilização de jovens conectados que conquistaram seu espaço na sociedade com novas aspirações de vida –aspirações que aqui e lá fora são muito parecidas".

Jorge Pontual à frente da estação de trem em Detroit, que já foi uma das mais movimentadas do mundo e hoje está desativada
Jorge Pontual à frente da estação de trem em Detroit, que já foi uma das mais movimentadas do mundo e hoje está desativada - Globo News/Divulgação
 

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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