Renato Kramer

Brigitte Bardot volta ao Brasil na pele da atriz Bruna Thedy

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"Como interpretar um mito? Como será a minha Brigitte? Onde eu consigo alcançá-la?", foram algumas das perguntas que se fez a atriz Bruna Thedy que está vivendo no teatro o maior mito do cinema francês de todos os tempos: a BB – Brigitte Bardot.

Uma missão e tanto, sem dúvida, mas Bruna conseguiu de um jeito manso, suave, sensual sem exageros alcançar Brigitte. A atriz não procurou imitar a estrela francesa, mas concentrou-se em trazer à cena a alma da mulher por trás do mito.

Aos poucos, com a ajuda essencial do texto fluente e profundo de Franz Keppler e da direção sensível de Fabio Ock, a Brigitte de Bruna vai se desvencilhando da atriz para encarnar com verossimilhança os conflitos existenciais que o maior sex symbol dos anos 60 está enfrentando no momento.

E o momento é baseado numa visita que Bardot fez ao Brasil em 1964, então no auge do seu sucesso internacional, e precisou ficar escondida no apartamento de um amigo para fugir do assédio do público e, principalmente, da imprensa ensandecida.

Na peça "Com Amor, Brigitte", a musa e então esposa do diretor francês Roger Vadim ("E Deus Criou a Mulher" - 1956) se esconde na casa de Álvaro (André Corrêa), um camareiro do hotel onde ela deveria se hospedar.

Álvaro é fã ardoroso de BB e transforma a sua vida num redemoinho de emoções ao recebê-la em sua casa e vida solitárias. Seu drama pessoal intenso e todo o seu encantamento com tal proximidade com o ídolo é muito bem demonstrado pela atuação de André Corrêa.

Enriquecem o espetáculo a luz de Fran Barros, o figurino caprichado de Zé Henrique de Paula, a caracterização de BB realizada pelo make up designer Beto França. Em especial, a colaboração do talentoso Laerte Késsimos, responsável pelo projeto gráfico, pela assistência de direção e, junto a Ock, pela brilhante criação de vídeos imprescindíveis para a riqueza da encenação.

"Não há beleza na velhice", declara BB em conversa com Álvaro. "Eu tenho muito medo de envelhecer. A velhice me lembra de uma tarde de outono cheia de melancolia", diz a diva do cinema ainda no auge.

Há boatos de que BB, hoje com 81 anos de idade, declarou em alguma entrevista ao deixar o cinema: "Aos homens dediquei o que eles queriam de mim: a minha beleza, que era finita. Aos animais vou dedicar a minha alma, que é eterna".

"Às vezes penso que pode ser que ela (Bardot) tenha me escolhido de alguma maneira. E a partir de agora estaremos conectadas. Brigitte, estou aqui com amor", declara Bruna Thedy no programa da peça. Se ela a escolheu ou não será difícil saber. Mas que você a alcançou, e a sua Brigitte está ali no palco, com amor, isso está, Bruna, pode ter certeza.

"Com Amor, Brigitte", de Franz Keppler, sob a direção de Fabio Ock, está em cartaz no Pequeno Auditório do Masp (SP) a princípio até o mês de maio próximo.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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