Renato Kramer

'Eu nunca tinha passado por uma traição até o PT', diz Irene Ravache

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A entrevista da atriz Irene Ravache, a Vitória de "Além do Tempo" para o "Roda Viva" (19/05/2014, TV Cultura) foi reapresentada na íntegra na última quarta-feira (6).

Entre tantos assuntos abordados, Irene falou sobre as tentações das intervenções estéticas para manter a jovialidade. "A ideia de fazê-las é muito tentadora, mas assim como eu tenho visto coisas muito boas, tenho também visto coisas não tão boas como resultado. Aí o medo é: e se dá errado?", confessa a atriz.

E ironizou, em alto astral: "Todo o mundo tem um rosto irregular. O meu é muito irregular. Eu sempre tenho a ideia de que eu possa me tornar um quadro de Picasso! E pode ficar esquisito! Por outro lado, tem uma coisa que até não me agrada muito: é que eu já estou me acostumando com esta cara do jeito que já está", completa.

Mas mesmo assim a atriz confessa que ao se ver na televisão volta a achar que "puxa, ia ficar bacana se desse uma puxadinha aqui. Não estou defendendo uma tese de que não se deve fazer, se eu não fiz foi por receio mesmo", confirma Ravache. "Mas eu acho que fotografo bem, sou harmoniosa", conclui.

Sobre a sua preferência pela dramaturgia feminina, Irene argumenta: "Eu adoro mulher. Gosto, gosto! Mulher é mais macia, mulher acolhe, mulher é mais fácil. Casei com homem porque gosto de homem!", brinca Ravache, "sou do ramo". Mas para o convívio, a atriz prefere as mulheres e se identifica mais com as autoras. "Eu não queria ser homem nem por um decreto real".

Quanto à política do país, a atriz confidenciou que se sentiu completamente traída como cidadã pelo PT. "Quando surgiu o PT eu achei que o 'gigante' finalmente ia acordar. Um partido novo, que era um sucesso na oposição, um partido que diz o que eu tenho vontade de dizer", relembra Ravache.

"Fiquei feliz quando Lula ganhou, porque achei: agora nós vamos. Eu achava que nós estávamos muito bem na foto. Como meus namorados foram sempre muito elegantes, eu nunca fiquei sabendo se me traíram ou não. Então, eu nunca tinha passado por uma traição até o PT. Fiquei no chão!", afirma a atriz. "Daí foi uma traição com direito a tango, a 'eu não mereço isso', sabe o que eu queria? Uma explicação! A mulher com uma boa explicação até aceita de volta", cutuca Irene.

Crédito: Thalyta Veras/Divulgação A atriz Irene Ravache é uma das entrevistadas do programa "Damas da TV", exibido pelo Canal Viva Crédito: Thalyta Veras/Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
A atriz Irene Ravache

Sobre a crítica teatral, Irene declara que quem diz que não lê ou não se importa com a crítica é mentira. Mas eu sempre espero que o crítico me veja e além disso, goste muito de teatro. "Por vezes os críticos de teatro são críticos de gastronomia também, por vezes nem curtem teatro! E acho que os críticos ficam muito à mercê de seus editores".

Quanto às possibilidades de atuação: televisão, cinema e teatro, Irene Ravache faz as suas distinções entre os veículos. "O hospital é um só, as enfermarias é que são diferentes", brinca Ravache. "Na enfermaria do teatro todo o mundo é de todo o mundo. As coisas são mais fáceis, é mais artesanal. Você demora mais tempo debruçada no texto, todo o mundo dá palpite, com algumas exceções de diretores estelares", relata a atriz.

"Na televisão é tudo tão rápido! Agora, lá na Globo, nós temos uma coisa maravilhosa que são os encontros pré-gravação. A produção apresenta um leque de tudo o que você vai precisar, de pesquisa e é o tempo que você tem até pra conhecer os atores, porque muitas vezes um núcleo não vai esbarrar mais no outro. Depois você tem quatro diretores e aquele ritmo de indústria, como jornal diário, que tem que colocar na rua! Na direção sempre tem um que se acha o primo mais importante de Deus, um outro já acha que também é um parente próximo. Gente distante de Deus tem poucos, mas tem", alfineta.

Quanto ao cinema? "Olha, cinema é assim: a técnica não fala com a gente. Você chega e diz bom dia pra quem está do teu lado, mas não sei, ninguém te vê. É engraçado isso. O negócio do cinema é que eles estão sempre tão debruçados em cima daquela câmera, é tudo tão exato, que nada mais importa. Aliás eu aconselho: em caso de perigo no set de filmagem, tenha uma câmera por perto! Já é uma relação mais complicada", observa a atriz.

"Os diretores têm muita verdade absoluta, eu tenho tanto medo de verdade absoluta! Eu tenho uma verdade absoluta: escovar os dentes faz bem!", encerra a grande Irene Ravache.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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