'Quando Roberto Carlos se emocionou, eu vi que tinha chegado lá!', conta Fagner
"Um dia eu me tranquei no meu quarto, minha família me chamando, mas eu só saí quando terminei a música ("Mucuripe"). E me lembrei do Roberto (Carlos), que sempre foi meu ídolo", relembrou emocionado o cantor Raimundo Fagner no "Metrópolis" (Cultura) da última sexta-feira (25).
Fagner conta que a cantora Elis Regina tinha gostado de canções dele e o apresentara para o apresentador Flávio Cavalcanti (1923-1986), "o Faustão da época", comenta o cantor. "Então eu estava nos estúdios da (extinta) TV Tupi para me apresentar porque a Elis mandara um recado para o Flávio Cavalcanti, me apresentando como um novo compositor que ela estava gravando", relembra.
"De repente eu ouvi um barulho lá fora e era o Roberto Carlos chegando. Aí ele falou para alguém que queria me conhecer. O Murilo, que era o divulgador da gravadora Phillips, veio pra mim e disse que o Roberto queria me conhecer. Aí Roberto chegou e pediu: Bicho, canta 'Mucuripe'!", relata Fagner.
E a emoção toma conta: "Eu comecei a cantar e ele começou a se emocionar...(Fagner embarga a voz). Aí eu vi que tinha chegado lá!", conclui o cantor de olhos fechados. "E chegou mesmo!", complementou o apresentador Cunha Jr. "Mucuripe", de Fagner e Belchior, foi um dos grandes sucessos do disco de Roberto Carlos de 1975.
Numa entrevista dada à TV Cultura em 1979, o repórter pergunta para Fagner porque ele acha que o público só o descobrira agora. "Você acha que tem algum tipo de fato que marque esse tipo de coisa?". "Tem a própria maturidade do artista, quando ele chega em determinado ponto ninguém o esconde mais. Eu acho os próprios meios de comunicação não tinham também me entendido, a própria máquina não sabia ainda quem era o Fagner e eu cheguei lá com a ajuda do povo. As pessoas não podem dizer que eu mudei, eu sou a mesma pessoa que faz o mesmo trabalho buscando as mesmas coisas", afirmou o então jovem cantor cearense.
Cunha Jr. elogia especialmente o disco "Orós" (1977), que é o nome da cidade onde sua mãe nascera. "Orós quer dizer pedra rara", comenta Fagner. "Esse disco você oferece tanto para a sua mãe quanto para o seu pai", observa Cunha. "O seu pai era imigrante libanês. Isso teve alguma influência na tua vida musical?". "Totalmente. Até hoje a influência é muito grande. Meu pai foi cantor de rádio no Líbano. Eu me criei com meu pai cantando no meu ouvido numa língua que eu não conhecia", relembra Fagner.
E acrescenta: "Ele veio fugido da guerra, igual essas pessoas que a gente vê na televisão hoje! Os pais dele foram executados lá na época. Então meu pai veio com esse trauma todo e me influenciou muito. Cada vez que eu quero cantar mesmo eu tenho que pensar no meu pai, soltar a voz, fazer os floreios que são a minha característica", conta Fagner.
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