'Ser feliz com a felicidade alheia é um grande desafio', diz Leandro Karnal
"A maioria das pessoas se considera invejada e não invejosa", declarou o historiador Leandro Karnal no "Café Filosófico" (TV Cultura) que foi ao ar na madrugada dessa segunda-feira (21).
"Sempre que falamos da inveja é na terceira pessoa", continuou Karnal abordando "O Pecado Envergonhado: A Inveja". "A primeira característica da inveja, além de ser envergonhada, é que ela jamais se refere a alguém distante, sempre a alguém próximo", expõe.
E exemplifica: "Ninguém aqui desta sala tem inveja das grandes conquistas do imperador romano Júlio César, nem da grande carreira de 16 anos de Napoleão. Mas do cunhado, do vizinho, da síndica, do colega de trabalho. A inveja se dirige a alguém próximo. Eu perdoo o sucesso de alguém distante, jamais perdoo o sucesso de alguém muito próximo", afirma o professor.
E argumenta com pesquisas: "Não importa o quanto eu ganho, diz uma famosa pesquisa americana, importa que eu ganhe mais do que as pessoas ao meu redor", declara Karnal. "A inveja é uma incapacidade de reconhecer uma falha minha e se concentrar no outro".
E continua sua explanação com brilhantismo: "Como eu não me conheço, e pior: aquilo que eu conheço eu não gosto, é melhor eu dizer que o meu fracasso se deveu à inveja". E exemplifica ainda uma vez: "Por que você não foi feliz?", a resposta: "Muita gente invejosa!". Leandro afirma que reconhecer o seu próprio fracasso é uma das coisas mais difíceis do mundo.
E revela o que há por detrás da inveja: "Invejar o corpo, a renda, a habilidade de alguém, sua sociabilidade ou inteligência é dizer que este corpo, esta renda, esta sociabilidade e essa inteligência são acima das minhas. E isso é doloroso reconhecer. A inveja é sempre amargurada, porque ela sempre nasce do reconhecimento da minha fraqueza", conclui.
E arremata: "Ser feliz com a felicidade alheia é um grande desafio. No nosso mundo isso fica restrito a algumas mães heroicas, que conseguem ser muito felizes com o sucesso dos filhos. Poucas pessoas fora deste universo. O genuíno desejo da felicidade do outro é sinal de um afeto excepcional", afirma o historiador Leandro Karnal que ainda desenvolveu o tema com sua oratória de conteúdo e forma sempre brilhante.
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