Renato Kramer

'Papo de Segunda' discute a militância excessiva e o 'nude' na net

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O apresentador Marcelo Tas começou o "Papo de Segunda" (GNT) da última segunda-feira (14) dedicando o programa para a atriz Betty Lago (1955-2015) que falecera no domingo (13).

"É uma coisa dúbia", declarou Tas logo de início. "É lógico que a gente está muito melancólico e ao mesmo tempo muito honrado de poder falar dela do jeito que ela sempre falou de tudo: com alegria, irreverência, ironia fina e elegância".

E costurando com a irreverência de Lago, Tas quis saber se estaríamos nos tornando chatos com uma overdose de militância nos dias de hoje, o que chamou de "era do engajadinho". Para isso pediu a opinião do filósofo Luiz Felipe Pondé.

"Eu acho que essa mania de fazer militância hoje em dia ocupa um pouco o lugar da religião", afirmou Pondé. E ponderou: "Veja que essa moçadinha muito militante, com essas causas aí é tudo meio distante da religião, na maior parte dos casos. É gente que come comida 'étnica' e ao mesmo tempo está preocupada com os índios. Quer dizer, tem uma vida super-plugada no contemporâneo e fica achando que na realidade convence alguém que eles acham que a melhor vida é a neolítica!".

E arrematou: "Por detrás das boas intenções existe sempre o que todo o mundo sempre soube na história da filosofia e das religiões: hipocrisia, mentira, orgulho, vaidade". E citou Rochefoucauld (filósofo francês): "A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude".

Crédito: Reprodução/GNT Marcelo Tas no "Papo de Segunda"
Marcelo Tas no "Papo de Segunda"

E encerra: "Hoje em dia a hipocrisia é tamanha, dessa moçada bonitinha, inteligentinha e a favor do bem, que hoje a hipocrisia não quer prestar homenagem à virtude, ela acha que é virtude".

Tas aproveita o embalo e levanta a questão: "Será que o engajamento excessivo não está querendo substituir uma vida sem graça que você tem?". O colega João Vicente responde que gente chata e carente existiu a vida inteira: "Eu acho que o militante muito chato é uma questão de carência. Acho que as pessoas querem pertencer a grupos, sempre foi assim. Mas acho que o 'politicamente correto' é uma coisa positiva em muitos casos", ressalta.

"Ninguém aqui é contra a militância", observa Tas. "É claro que é legal lutar pelas coisas e tal, mas que está rolando um exagero, está!". E salientou: "Com tanta rede social, é fácil você sentir que está fazendo alguma coisa e você virou o Paulo Francis (1930-1997) de si mesmo! As pessoas querem ter opinião sobre tudo!".

O jornalista Xico Sá já vai logo ao ponto: "Às vezes esses caras que ocupam coisa demais, ocupam Wall Street, ocupam isso e aquilo, não podem ver uma causa que entram, às vezes não ocupa a própria mulher dentro de casa! No sentido sexual mesmo", concluiu.

E João Vicente completou: "A rede social trouxe um grande alívio para a pessoa que não faz nada: ela clica e escreve qualquer coisa. Mas também deu voz a pessoas sérias que militam em causas sérias".

No bloco final, Léo Jaime, Xico Sá, João Vicente e Marcelo Tas discorreram sobre a moda de enviar "nudes" pela internet. Quem nunca? Tas assegura que nunca. "Hoje em dia até a madre superiora manda nude!", afirma Xico Sá.

E o comediante ainda relatou: "Eu tenho um amigo que tem um 'book' do próprio pênis!". "Ele tem um cardápio", retrucou Marcelo Tas. "Graças a Deus eu nunca vi, mas segundo ele são 'nudes' com vários chãos, porque as fotos são feitas sempre de cima para baixo, então os pisos são diferentes". E complementa: "Eu acho que o nude é uma expressão sexual e virtual muito válida hoje em dia no mundo".

Segundo João Vicente, tem estudos que afirmam que em cinco anos, todas as pessoas do mundo terão nudes publicados na internet. "Sexo virtual não é sexo, é uma homeopatia do amor", filosofa João. Na pesquisa do "Papo de Segunda" de ontem, 51% do público confessa que manda nudes pela rede.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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