Renato Kramer

'Stand-up tem muita gente que é o engraçado de casa e acha que é comediante', diz Leandro Hassum

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Em participação no programa "Espelho" (Canal Brasil) nesta segunda-feira (6), Leandro Hassum relembrou seus 26 anos de carreira, quando começou no teatro O Tablado, no Rio.

"Tudo começou com aquela história de ser o mais engraçado da família, que fazia piada, que imitava o tio no Natal, aquelas coisas. Só que eu era muito indisciplinado, eu fui expulso de três colégios!", conta Hassum.

"Três colégios?", ressalta Lázaro Ramos, apresentador do programa. "Três colégios por indisciplina mesmo", confirma o comediante. "No terceiro eu bati no professor de geografia. Não cheguei a bater, mas parti pra cima e aí fui parar na coordenação. Então, no desespero por já ser o terceiro colégio, eu arrisquei: pô, cara, eu sou assim porque o meu pai é alcoólatra e a minha mãe me bate! Mentira, sabe? Não fui expulso, fui suspenso, mas eu nunca imaginei que o colégio ia chamar a minha família!", relata Hassum.

Ele conta que, no colégio, disseram que ele teria talento para o teatro, pela sua personalidade diferente. Por isso ele acabou indo para um curso no Tablado.

"E eu comecei a mergulhar nessa coisa do teatro, terminei o segundo grau meio no tapa pra poder continuar no teatro. Fiz Faculdade de Economia paralelo a isso. Mas chegou uma hora que o teatro se tornou tão grande assim, porque desde muito novo na minha carreira eu sempre fiz muito teatro", declara o comediante.

"Daí eu fiz de tudo! Fiz 'Sem Vergonha' do Guilherme Leme,fiz de tudo, fiz teatro musical —um que também fui indicado ao Shell— "Aracy de Almeida no País de Araca", que eu fazia a própria Aracy de Almeida. Foi uma das melhores experiências que eu tive. Eu sou muito ligado à comédia. Eu optei por isso", confessa o ator.

"Financeiramente começou a ficar muito viável pra mim me debandar para o lado da comédia. Como eu tinha facilidade, então eu falei: cara, é o que eu estou precisando agora! Eu tive uma filha muito cedo, então eu tive que optar: eu tenho que ganhar grana. Foi quando eu estava fazendo o espetáculo 'Sem Vergonha', eu tive e oportunidade de eu fazer uma participação no 'Zorra Total'".


"A partir do momento que a gente começou a ter protagonista de comédia [no cinema brasileiro], eu acho que a gente começou a ganhar uma credibilidade muito legal. É um perigo, tá? É um perigo!", soltou Hassum. "Isso o que eu ia te perguntar: quais são os prós e os contras desse caminho?", quis saber Ramos.

"São os mesmos prós e contras desse movimento do 'stand-up'. A comédia tá muito pulsante, né? Eu posso até jogar um pouco contra o meu time, mas eu acho que tem que parar um pouco. Por enquanto, os teatros estão achando muito bom esse negócio de 'stand up'. Porque você bota quatro peças numa noite. Às vezes você vai com um grande proposta com um peça rica, com cenografia pomposa e os caras dizem, não, a gente vai botar quatro stand-ups sem cenografia nenhuma e que lotam", argumenta Hassum.

E aí Leandro faz uma crítica à enxurrada de comediantes que brotam em qualquer esquina atualmente: "Tudo bem, mas são quatro que se você juntar dá um! Porque o movimento do stand-up, apesar de ser muito bacana e botar muita gente em cena, pegou muita gente que é esse "engraçado de casa" e acha que é comediante! Tem muita porcaria aí!", desabafa Hassum.

"Eu costumo dizer que eu não faço stand-up, eu faço show de humor! Eu acho que se você chega lá num palco merda, sem luz, sem nada e fica fazendo piadinha, eu me sinto desrespeitado por pagar aquela grana!".

Ele falou ainda da sua reação a críticas negativas. "A crítica me incomoda quando fala assim: é constrangedor ver o Leandro tentando arrancar risadas a qualquer custo da plateia quando essa plateia não ri. E eu assisto em diversas pré-estreias, às vezes vou escondido pra sacar a reação do público e eles riem pra caramba. Então é mentira do cara! Eu vejo eles rirem e o cara vem dizer que não?", desabafa o comediante.

"Como é que você consegue não fazer parte de uma turma do humor que é muito criticada por fazer um humor politicamente incorreto?", questiona Lázaro. "Eu agora vou ser meio metido no que eu vou falar. Eu acho que quando você brinca com a plateia, você tem que ter um carisma foda!", explica o comediante.

"E depois de muitos anos fazendo, você tem a manha: na primeira pergunta que você faz para uma pessoa, pelo jeito que ela responde você já sabe se pode ou não brincar com ela. Pouquíssimas vezes eu errei. Em 10 anos de 'Nóis Na Fita' e 8 anos de 'Lente de Aumento', eu nunca tive uma saia justa!", comemora Hassum.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias