Renato Kramer

Adriana Falcão conta ao 'Entrelinhas' como se tornou especialista em diálogos

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A escritora e roteirista Adriana Falcão ("A Grande Família") conversou com Daniel Antônio, um dos apresentadores do "Entrelinhas" (TV Cultura) neste domingo (11).

"Pode-se dizer que você é uma especialista em diálogo?", perguntou Daniel. "Dentro dessa fase de roteiro para cinema ou para TV é o que eu mais gosto de fazer, o diálogo", respondeu Adriana. "Eu virei especialista em diálogo primeiro porque eu acho que o Brasil não tem essa tradição". E explica: "Acho que a indústria do cinema ainda está se organizando, hoje em dia a gente tem muitos bons roteiristas, mas lá quando eu comecei, tudo estava começando, eu dizia 'gosto mais de fazer diálogo'. Eu pedia para fazer o diálogo. De tanto fazer, meio que eu virei uma especialista assim, por experiência própria", conclui Falcão.

"Diálogo para cinema e para a TV e diálogo para a literatura é bem diferente. Em televisão, "A Grande Família " (Globo) que eu escrevi por 11 anos, a base é o diálogo. A história é contada através do diálogo. E um livro pode não ter diálogo nenhum, pode ser todo narrado", compara a escritora.

"No diálogo para o cinema ou televisão, você está contando a história, o serviço dele é contar aquela história. Então eu procuro contar a história com alguma graça —não necessariamente humor, mas algo de emocionante, de poético ali. Como eu posso ter diálogo ou não no livro, eu só abro o diálogo com a pretensão dele ser muito bom", declara Falcão.

O seu livro "Mania de Explicação" (editora Salamandra), que foi lançado em 2001 e recebeu o prêmio de melhor livro para criança da Federação Nacional de Literatura Infanto Juvenil, já virou peça de teatro e recebeu uma nova versão em 2014. A musa inspiradora desta obra foi a sua filha mais moça, Isabel, então por volta dos nove anos de idade, quando se preocupava muito com o significado das palavras.


"Solidão é uma ilha com saudade de barco". Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia". "Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa" – frases extraídas de "Mania de Explicação". "Eu gosto muito desse caminho, um modo de ver seu, particular".

Adriana Falcão nunca tinha escrito para teatro até se aventurar em "A Máquina". "Eu trabalhei com o (diretor) Guel (Arraes), no "Auto da Compadecida" (2000) – então eu estava muito impregnada daquela linguagem nordestina. Eu morei em Recife dos 11 aos trinta e poucos anos. E um ator pernambucano chamado Tuca Andrada que eu adoro, me falou: Adriana, escreve uma peça com tema nordestino", conta Falcão.

"E eu comecei a escrever mas eu sofria tanto para escrever aquilo porque eu não tava conseguindo encontrar... Um dia o João Falcão (diretor com quem foi casada por 30 anos) viu que eu estava sofrendo e disse: deixa eu ler isso para ver porque você tá sofrendo tanto! Aí ele leu e disse: Adorei, agora não é uma peça mesmo não. É literatura! Mas termina de escrever que eu adapto para o teatro", confidenciou a roteirista.

Sobre o seu livro "Luna Clara e Apolo Onze" (Moderna - 2002), já para o universo infanto-juvenil, Adriana declara ter optado pelo realismo mágico por ser muito fã desse estilo. "Foi muito importante para mim, quando eu tinha 13, 14 anos – a descoberta de Gabriel García Marques, do Júlio Cortazar – então eu fui por esse caminho, que é uma caminho que me dá muito prazer", argumenta Adriana Falcão.

"Esse trabalho tem também uma coisa poética", observa Daniel. "Eu adoro poesia. Eu sou louca por poesia!", confessa a escritora e roteirista, "mas eu não tenho coragem de escrever poesia. Eu acho que é pretensão demais! Eu acho poesia uma coisa tão sublime que eu penso quem sou eu para escrever poesia! Então na minha prosa eu tento me aproximar da poesia muito timidamente", assume Adriana Falcão.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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