Renato Kramer

'As referências musicais no Brasil e no mundo mudaram muito', diz Gilberto Gil no 'Altas Horas'

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O cantor e compositor baiano Gilberto Gil esteve no "Altas Horas" (Globo) deste sábado (19) para falar do seu disco mais recente "Gilbertos Samba", no qual homenageia o seu conterrâneo João Gilberto.

"É uma grande honra ter Gilberto Gil aqui mais uma vez", anunciou Serginho Groisman. "Ele que merece tantas homenagens, resolveu homenagear um genial intérprete da MPB que é João Gilberto", concluiu Serginho.

E Gil reverenciou o cantor sem economia de adjetivos: "Grande mestre! Influenciou toda a nossa geração, teve um papel extraordinário na divulgação da música brasileira pelo exterior. A Bossa Nova teve nele um dos seus principais ícones – ele, Vinicius (de Moraes), "Carlinhos) Lira – enfim, todos eles...e baiano também, né? Ainda tem esse detalhe, essa pimentazinha! Então eu resolvi fazer um disco com canções que ele havia regravado, muitas delas ele havia consagrado mesmo – e tá aí: "Gilbertos Samba".

Mudando completamente de assunto, o fantasma da Copa Mundial de Futebol 2014 voltou a ser comentado, depois de apresentados alguns flashes de momentos polêmicos de diversos jogos. Gil fez uma ressalva ao ouvir falarem do pesadelo do Alemanha 7x1 Brasil. "Toda a vez que citam que a Alemanha fez 7X1 no Brasil eu me lembro que na Copa de 1954, a Hungria fez 8x3 na Alemanha. "Mas não foi em casa?" questionou Serginho. "Não, na Copa da Suíça", concluiu Gil. Mas permaneceu no ar um clima que deixava claro que nada compensa o maldito 7x1.


Entre os quadros costumeiros e a presença dos outros convidados: Cléo Pires, Naldo, MC Guimê —a atenção maior do programa foi com o homenageado da noite. No telão, Serginho mostrou uma foto da primeira vez que Gil participou do "Altas Horas"— no dia 1º de abril. Na foto o compositor cantava com o roqueiro Dinho Ouro Preto.

"O Milton querido Nascimento, eu com um pouquinho mais de cabelo, ainda um pouco mais escuro...", comentou Gil com a sua tranquilidade habitual. "Com um pouquinho menos de sabedoria do que hoje?!", arriscou Serginho. Então o cantor baiano soltou uma frase "zen filosófica" que lhe é bastante peculiar: "Sabedoria quem sabe é a própria sabedoria. A gente nunca sabe".

Para o número musical que viria a seguir, Naldo contou uma história que aconteceu antes dele começar a sua carreira. Naldo tinha ido assistir um show de Gilberto Gil e confessou que a sua música "Estrela" lhe marcou muito. Gil canta a canção e faz um dueto com Naldo no refrão. Ao terminar a música Gil solta mansinho: Ele é amiga de Preta (Gil). Preta é louca por ele", confidencia o pai de Preta. "Sou louco por ela também!", retruca Naldo todo orgulhoso.

O segundo número musical fica por conta de "Vamos Fugir", de Gil e Liminha. Serginho faz referência à gravação do Skank dessa música e Gil elogia muito o resultado: "Muito bem regravada, uma recriação extraordinária: o modo de gravar, o ritmo, tudo —mais aproximado da turma roqueira e tudo o mais, é bacana!". E Gil canta "Vamos Fugir" desta vez com o coro da plateia toda.

Serginho ressalta o quanto as pessoas ainda não tem a dimensão exata da importância de João Gilberto na história da MPB. Gil argumenta: "Isso vem do fato de que o tempo passa e as coisas mudam muito velozmente, não é? A música mudou muito. As referências musicais no Brasil e no mundo mudaram muito", afirma Gil.

"Ídolos novos, novos artistas ganhando essa dimensão do reconhecimento popular. Então o reconhecimento dessa profundidade do João fica restrito propriamente a minha geração, à geração dos que vieram logo depois de mim...mas também tem uma coisa: O João, na verdade, nunca propôs esse tipo de resposta do público. Ele sempre quis uma coisa muito quieta, muito tranquila – sempre foi assim. A proposta de João nunca foi ser um ídolo nesse sentido que a gente costuma definir para os ídolos. João nunca foi isso", esclarece Gil.

Gil canta então uma das canções que está no seu disco em homenagem a João Gilberto: Aos Pés da Santa Cruz" (Marino Pinho/ Zé da Zilda). Já quase encerrando, Serginho pergunta de Gilberto Gil tem toda a sua extensa carreira documentada. O cantor explica que tem no acervo do Museu jardim Botânico, no Rio, e muito na sua página oficial da internet. "Então estamos seguros?!", brinca Groisman. "Estamos seguros sim. A memória já tá garantida!", replica Gil no mesmo tom de humor.

Aproveitando o ensejo de uma campanha de leitura que Serginho está agilizando no "Altas Horas", Gil ressaltou a importância e a necessidade da leitura e encerrou a sua participação com um belo verso, poeta que é: "A leitura fortalece o prazer de viver". E lembra que depois de São Paulo, viajará para algumas cidades do Brasil com o espetáculo de "Gibertos Samba". E que este é o seu 54º disco. "O Gil merece todas as homenagens!", declara Groisman. "Tá bom de homenagem já", retruca Gil com toda a malemolência da sua baianidade.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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