Renato Kramer

Juliana Silveira e Beth Goulart são destaques na estreia sem graça de 'Vitoria'

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"Vitória" (Record), salvo raras exceções, estreou nesta segunda-feira (2) num tom de "faz de conta" um tanto difícil de acreditar.

Não é nada muito palpável, mas é um certo ranço costumeiro na teledramaturgia da emissora que faz com que as cenas pareçam "de mentirinha". Diálogos jogados meio que da boca para fora.

É justo destacar a atuação intensa e convincente de Beth Goulart (Clarice), que deu um depoimento emocionado logo de início e soube mostrar, com total verossimilhança, a sua dor e decepção quando o seu filho Artur (Bruno Ferrari) resolve interná-la à força em uma clínica psiquiátrica.

Destaque também para a vilã de Juliana Silveira —a neonazista ferrenha Piscila, que já no primeiro capítulo mostrou a que veio. Ao estacionar o carro, atropela com gosto um flanelinha negro que tentava ganhar o seu troco. Ficou chateada por não tê-lo matado. "Era menos um preto. A gente vai limpar essa cidade", prometeu a perigosa. Má, fria e calculista, sem exageros nem caricatura, a entrada de Priscila na trama foi muito feliz, embora a atriz já deva estar preparada para ser odiada pelo público. "Meu sonho é ter um bar sem veado, negro e nem judeu!". Pense numa pessoa "boa".


Claro que as cenas paradisíacas de Curaçau encheram os olhos, mas o romance rápido como um raio, embora com a devida passagem de tempo, entre Artur e a sua meia-irmã Diana (Thais Melchior) não convenceu. Mal tinha começado o primeiro capítulo e já existia um casal que nunca havia se visto, cujo motivo do encontro era um grande desafeto, e como num passe de mágica já estavam em lua de mel fazendo juras de amor.

O incêndio na cocheira do haras de Gregório (Antônio Grassi) também pareceu de mentirinha. Muita gritaria, muita correria, mas não deu para entrar na dos personagens. A única aflição verdadeira ali era imaginar que, Deus o livre, algum dos cavalos pudesse realmente correr algum perigo. Mas é claro que a produção não permitiria.

E culminou com a cena que deveria ser a mais importante do primeiro dia: o filho Artur se revelando para o pai Gregório, querendo vingar-se do abandono sofrido desde que ficara paraplégico. Cena que deveria ser de grande emoção, com o pai infartando e o filho surtando, mas que ficou truncada e apenas na forma. Arranjos que a direção de Edgard Miranda ainda pode ajustar.

Bem, era apenas a estreia. Vamos aguardar o desenrolar dos temas polêmicos prometidos pela autora Cristianne Fridman. O certo é que que os números que medem a audiência não foram muito significativos no primeiro dia. Temos que dar tempo ao tempo.

A "salada de chuchu sem tempero, a novela das 21h que não acontece, ninguém suporta", como a Record indiretamente ironizou, "Em Família" da rival Globo ainda manteve mais do que o dobro do Ibope da estreia de "Vitória". Talvez não fosse o caso de cantar vitória antes do tempo.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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