Com redação final de Marcelo Adnet e Marcius Melhem, também protagonistas do programa, estreou com muito humor o "Tá No Ar: A TV na TV" (Globo) na quinta-feira (10).

Parece que finalmente o comediante Marcelo Adnet encontrou o seu rumo na Rede Globo. Depois de algumas tentativas um tanto equivocadas, a sua parceria com o humorista Marcius Melhem rendeu bons frutos. E boas risadas!

Descompromissados com o politicamente correto e, aparentemente, livres de quaisquer impedimentos da emissora, o novo humorístico da Globo alcançou o objetivo essencial de um programa dessa linha: fazer rir.

Claro que algumas fórmulas clássicas foram utilizadas, quadros que lembravam pela sagacidade e espírito a boa e velha "TV Pirata" (Globo), do final dos anos 80. Mas nada que pudesse tirar o mérito do humor apresentado no "Tá No Ar".

Logo de cara uma paródia simples e divertida da recente propaganda da empresa de carnes na qual o Rei Roberto Carlos foi o protagonista e que gerou tanta celeuma. Melhem fez o papel do "rei", e a carne no caso se tratava de um homem jovem e cheio de amor pra dar. "Free Bofe, essa carne tem nome e telefone", slogan dito em voz "off" pelo próprio ator Tony Ramos —também protagonista de comerciais da empresa, foi muito bom.

Ricardo Macchi, o eterno cigano Igor da novela "Explode Coração" (1995), mostrou que tem bom humor para rir de si mesmo. Fez uma participação no quadro "Rumo ao Oscar", no qual se comparou à Tony Ramos, Tarcísio Meira e ao premiado Dustin Hoffman.

Os políticos corruptos foram lembrados no "Fiança Esperança". O "Dr. House" virou "Dr. SUS", e saiu diagnosticando "virose" em todo e qualquer paciente, com o seu mau humor característico. E no zapear rápido em que diversos flashes cômicos são mostrados em segundos, aparece até Silvio Santos (Adnet), que reclama de estar no canal errado.

De quando em quando aparece Adnet também na pele de um crítico ferrenho da própria Rede Globo, mas quando quer estender muito a sua revolta, é tirado do ar. Assim como uma constante chamada para a atração "Pesca Fatal" percorre quase todo o programa.

Um pescador em pé, estático, sozinho em seu barco, aguarda o momento em que um peixe fisgue a isca de sua vara de pescar. E essa vinheta com a imagem totalmente parada do tal pescador se repete.

De repente, já na quarta ou quinta vez que a chamada acontece, do nada surge um barco por detrás do pescador e lhe dá um susto tão grande que ele tem um infarto fulminante e cai morto. E o locutor anuncia: "Não percam: Pesca Fatal"! Humor pastelão da melhor qualidade, fazia tempo que eu não chorava de tanto rir.

"Jardim Urgente", paródia de um telejornal da Band ("Brasil Urgente"), trouxe o excelente comediante Welder Rodrigues —que fazia o intrépido Jajá de "Zorra Total" (Globo), vivendo o âncora tenso que, quando pede para o câmera "foca em mim", recebe uma foca de pelúcia na sua cara e comenta entre dentes: "Eu queria saber quem inventou essa palhaçada da foca!". Muito bom.

Quadros de humor inteligente, ágeis, espirituosos, ácidos no ponto, num pastelão bem bolado, sob a direção geral precisa de Maurício Farias, "Tá No Ar: A TV Na TV" tem tudo para agradar. Se continuar no ritmo da estreia, parece mesmo ter vindo para ficar.

Em depoimentos no final do programa, uma moça declarou que preferia o Adnet quando ele estava na MTV. Talvez fosse a opinião de muitos, até a estreia de ontem.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"