Final da "Fazenda de Verão" premia quem mais ofendeu colegas
O que dizer de um programa que supervalorizou a candidata que teve as atitudes mais grosseiras e lamentáveis durante todos os 93 dias de sua permanência no reality rural de verão?
Campeã da "Fazenda de Verão" posta foto beijando namorada
O que dizer do "povo brasileiro" que, segundo a produção, escolheu premiar com um milhão de reais a pessoa que ao mesmo tempo ganhava o troféu "bom de briga" --como quem mais ofendeu os seus colegas de programa?
"O que faz alguém ganhar a torcida do público? Trabalhar muito e ser legal com seus parceiros [Isis] ou, apesar de ser polêmica (leia-se 'barraqueira') e independentemente de suas intenções ter o que se chama de 'carisma' [Angelis]? Quem tem 'carisma' nunca passa despercebido", salientou Rodrigo Faro.
Então, não passar despercebido é o foco, pelo bem ou pelo mal? O negócio é centralizar as atenções, nem que seja com as piores atitudes e posturas possíveis? Bem...triste raciocínio, tristes programas que precisam alimentar-se da "baixeza" humana para alcançar seus pontinhos no Ibope. E pior: conseguem cativar um certo público que aplaude e premia esse esquema lamacento.
Mas quem se surpreende exatamente com esse universo em nosso país? Quantos representantes da nossa política não fazem parte desta "corja" e estão lá por escolha desse mesmo "povo"? Medo desse Brasil que vota por esses critérios.
"Nessa montanha russa emocional, conta muito uma palavra abstrata: 'carisma' --independentemente das intenções de quem a possui", afirmou Rodrigo Faro. Raciocínio perigoso, este. Quantos ditadores carismáticos não causaram males incalculáveis em tantos povos que bem conhecemos no desenrolar da história humana?
A sempre sensível produtora musical Laura Finocchiaro abriu o programa da grande final com a bela canção francesa "Non, je ne regrettte rien...rien de rien, je ne regrette rien" ("Je Ne Regrette Rien" --Édith Piaf). "Não, eu não me arrependo de nada...nada,nada...não me arrependo de nada...".
Mas a vencedora da "Fazenda de Verão" devia. Arrepender-se de ter passado por cima de todo e qualquer escrúpulo e valor para alcançar uma quantia de dinheiro que pode até ajudar a resolver certas questões em sua vida, mas que dificilmente vai apagar a imagem dos ardis lamacentos que precisou fazer uso para conquistá-lo.
É bem verdade que quando a pessoa não tem consciência de certas coisas nem sofre mesmo com elas. Mas não foi de muito ingênua que a vencedora chegou lá: "tudo aconteceu do jeito que eu quis!", confidenciou Angelis sorrateiramente em meio a depoimentos esparsos.
Que tipo de programa é esse que valoriza quem mais "ofende" os colegas da forma mais torpe possível? Que público é esse que vê valor nesse jogo sujo e grosseiro? Será que o tal "carisma", seja lá com que intenções venha, vale mais do que qualquer caráter e postura?
É...os tempos mudam. E mudam para melhor, em muitos aspectos. Em outros, regridem desastrosamente.
Na "crônica de um final desastrado" desta quarta-feira (30), Thyago Gesta ficou em terceiro lugar; Ísis Gomes ficou em segundo e ganhou um carro zero; Angelis Borges, a "meiga menina mineira", com 69% dos votos, venceu a primeira edição da Fazenda de Verão e recebeu o desejado "milhão".
"Tudo aconteceu do jeito que eu queria!", vangloriou-se a campeã. Machiavel ficaria constrangido.
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