A garota Malvina (Vanessa Giácomo) marca encontro com o engenheiro Rômulo (Henri Castelli) na praia. Mas o seu encontro furtivo não passa desapercebido. As três beatas da cidade, sob o comando de Dorotéia (Laura Carrdoso), fazem questão de observá-la e ir contar para o seu severo pai, o coronel Melk (Chico Diaz).

O coronel, seguido de sua esposa a quem chama desdenhosamente de 'jumenta' (Bel Kutner) chega no local do encontro de arma em punho. Ele desenvolve uma cena execrávelmente machista, costumeira 'naqueles tempos e lugares' - para a qual o ator se entrega de corpo e alma.

Tinha tudo para cair no exagero, no dramalhão. Mas o texto enxuto e a atuação brilhante de Chico Diaz fez valer o capítulo de ontem de 'Gabriela', a novela das 23 horas da Rede Globo.

Vanessa Giácomo foi verdadeira em sua dor. Malvina foi chicoteada e arrastada até a sua casa, enquanto a sua parva mãe nada fazia com medo profundo do grosso do marido. Bel Kutner faz bem a mulher submissa que se contorce toda por dentro, mas acha que, segundo os costumes, o seu marido está certo.

Malvina ainda recolhe forças para se vestir e ir ao encontro de Rômulo mais à noite, enquanto os pais dormem. Nessa sequência a atriz pecou levemente na continuidade. Quem apanhou como ela acabara de apanhar, não teria saído tão serelepe quanto Malvina saiu na mesma noite do acontecido.

Na noite seguinte, Malvina foi até o pai e pediu-lhe perdão e ainda beijou-lhe a mão, desejando que Deus estivesse sempre com ele, num tom de despedida - que o rústico coronel não pareceu perceber. "É bom mesmo que você vá até a igreja se confessar...parece que você começou a respeitar seu pai", comenta Melk.

Esta cena lembrou demais a cena em que Julieta (de 'Romeu e Julieta', de William Shakespeare), depois de ter apanhado feio do seu pai, acaba articulando uma saída para confessar-se e assim pedir ao frei que a ajude a resolver a sua situação. Até o pedido de perdão antes de sair é igual.

Malvina combinara de fugir com Rômulo na noite seguinte. Ela tenta sair de casa sozinha e sua mãe não deixa. Já que a filha vai à igreja, pediu para ir junto. Chegando na porta da igreja, Marinalva surpreende a filha dizendo ter vontade de se confessar. "Cada vez que teu pai me chama de 'jumenta' me sobe um ódio...e não é bom a mulher sentir ódio do marido", confessou ela para a filha.

Malvina vai mais tarde ao encontro de Rômulo, que prometeu pegá-la na praia para fugirem juntos. Ela vai e espera. Ele se vai sem ela.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"