Meu cachorro também é fã de Paul McCartney
O domingo respirava futebol e meu cachorrinho pressentia o 'foguetório' mesmo antes do primeiro estouro. O bichinho fica com o coração acelerado, como se o mundo fosse desabar sobre a sua cabeça. Fechar bem as janelas e colocar música alta, que possa despistar o barulho lá de fora, é uma das poucas alternativas para tranquilizá-lo.
Foi quando peguei o controle da TV e, zapeando, me deparei com Paul McCartney cantando "Hey Jude" no Multishow HD. Pronto. Foi só aumentar o volume e meu cão e eu serenamos.
Mais tarde fui descobrir que se tratava de um show que o ex-beatle dera em um festival da BBC de Londres --Electric Proms, na Roundhouse (2007). Sir Paul McCartney dominava a plateia com todo o carisma de sempre. Parou de cantar, pedindo que só o público ficasse no melodioso refrão de "Hey Jude" (Lennon e McCartney). O público inteiro cantava, desde os bem jovens até os mais maduros - que certamente conhecem o acervo musical do cantor desde o seu sucesso com The Beatles.
Por alguns momentos, Sir Paul ficou administrando aquele imenso coral. Ora pedia que só os homens cantassem, ora só as mulheres. Toda a fleuma, característica do povo inglês, parece ter sido posta um tanto de lado para chegar mais perto do músico cultuado por décadas. Mais ainda: emoção a olhos vistos quando Paul sentou-se novamente ao piano e deu os primeiros acordes de "Let It Be" (Lennon e McCartney).
Por um segundo me veio à mente uma cena em que eu pedia ao meu colega Juarez Kern Jover do primeiro 'clássico' (Colégio Estadual Júlio de Castilhos --POA) a letra dessa música. Dias depois ele realmente a trouxe e eu a decorei, no mesmo papel em que ele escrevera, com uma letrinha miúda, e nunca mais esqueci. Isso era 1970. Quando se tem quinze anos de idade e as pessoas dizem que o tempo passa rápido, tem-se a certeza absoluta de que isso é pura força de expressão... Nunca mais tinha lembrado dessa história, nem nunca mais soube do amigo Juarez.
Quando me dei conta, meu cachorro estava deitado ao meu lado me olhando fixamente. Talvez porque percebera que me emocionei ao lembrar dos tempos do colégio, parecia me dizer: é, as tuas lembranças te assustam mais do que os 'fogos' a mim!
Para mudar o rumo da conversa, Paul ataca de 'Lady Madonna" (Lennon e McCartney), animando o auditório que continua a cantar com ele. E as câmeras passeiam pelo público mostrando que a faixa etária é muito variada. Mas todos cantam como se as canções estivessem na atual parada de sucessos. Isso se chamava 'beatlemania' nos anos sessenta. Agora dizemos que são 'clássicos'.
E como saudade pouca é bobagem, a emoção que ainda estava trancada na garganta explode quando Paul solta "I Saw Her Standing There" (Lennon e McCartney). Tanto na Roundhouse quanto 'in my house'. Para estraçalhar de vez, Paul ainda canta a bela "Eleanor Rigby' (Lennon e McCartney). Com essa então, literalmente 'lavou a alma'.
Então, ao som de "Get Back" (Lennon e McCartney), Sir Paul McCartney termina o seu show na Roundhouse, em Londres. Muitos aplausos, muitos gritos para o 'beatle' talentoso e sempre muito querido. Lá fora, muito barulho, muitos fogos pela vitória de um time muito querido do povão. No meu colo, o meu muito querido cão dormia. Tranquilizara-se por completo com as músicas de Paul McCartney. Pronto, pensei. Mais um 'beatlemaníaco"!
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