Marcelo Arantes

'BBB15', uma edição para esquecermos

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Pensador importante do século 19, o poeta Nietzsche dizia que "a vantagem de se ter uma péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez". Todos os anos, a cada início de "BBB" repetimos essa mesma história.

De fato, o "BBB15" começou impecável, com um casting que priorizou conteúdo à aparência e sem personagens-plantas. Mas terminou mais difícil que escolher em quem votar para segundo turno nas últimas eleições presidenciais do Brasil.

Cézar confirma favoritismo e vence o 'BBB15' com 65% dos votos
Amanda é segunda colocada do 'BBB15'; relembre a trajetória dela no programa

Ocupar o horário nobre todas as noites sem uma narrativa convincente que preencha com dignidade até os poucos minutos das quartas-feiras tornou-se uma batalha árdua, e o público perdeu o interesse na reta final do programa quando deveria ocorrer o contrário.

Em seu discurso de encerramento da 15ª edição, na noite de terça-feira (7), ao falar de Amanda, o apresentador Pedro Bial enalteceu-a dizendo que fez com que (seu amado) "não apenas esquecesse o passado, mas apagasse o passado, em nome do futuro mais improvável que se chama utopia". Já podemos considerar considerar o "BBB15" como o "BBB" da utopia.


Mas houve evolução. Em 2015 não vimos a implicância gratuita com a imprensa, especialmente com a cobertura jornalística que tentaram até proibir no ano passado. Levaram inclusive alguns jornalistas para conhecer a casa do Projac, complexo de estúdios da Globo, antes da estreia, numa clara manobra sedutora.

O diretor cedeu ainda aos apelos da audiência (ou simplesmente amadureceu) e superou a mágoa perdoando Tamires, a participante que desistiu. Ela esteve presente no programa de encerramento e voltou a aparecer nos VTs e na vinheta de abertura da final.

Outro ponto a se destacar é a trilha sonora desta edição, melhor que de costume. A modernização da programação visual também trouxe leveza e ousadia. E após quinze edições e sintomas de cansaço, Bial permanece em sua melhor forma. A caracterização de Chacrinha na edição de encerramento merece entrar para a antologia do "BBB".

Restou a triste e torta história de amor de Fernando e Amanda, que não emplacou convencimento nem hashtags nas redes sociais, apenas utopia. O discurso artificial e decorado de Cézar tornou-se opção à união proposital e perversa do casal, e obviamente levou o grande prêmio quem o público não enxergou como uma ameaça social.

A vitória de Cézar não é culpa exclusiva dele, mas da direção que o escolheu e, principalmente, do público que acredita ser ele o merecedor. Já discutimos os riscos que ele representa para as futuras gerações de BBBs, que podem tentar seguir o modelo engessado do isolamento artificial, pouco carisma, da quietude e fuga dos conflitos centrais da trama.

Cézar representa a síntese do desgaste da fórmula e da desvalorização progressiva dos personagens humanos de outras edições do programa, heróis que pulavam de cabeça na narrativa e arriscavam sua reputação em troca do reconhecimento público através do entretenimento.

Mas, em tempos de crise econômica, não só o capital humano se desvalorizou. As festas de quarta-feira se tornaram sem graça, e a produção do programa no geral parece ter empobrecido. O Big Fone se tornou apenas um objeto cafona de decoração no jardim, e a edição pesou a mão ainda mais na depreciação dos candidatos para aumentar sua rejeição, e consequentemente o lucro a cada eliminação. Os participantes se tornaram fontes inesgotáveis de defeitos.

Personagem especial deste ano, com grande destaque na edição, o poeta Adrilles trouxe originalidade e cultura ao programa. E dele veio a frase mais emblemática e definidora para 2015: "Precisamos exercitar o perdão e o esquecimento diariamente".

Era uma vez uma edição que prometia ser a melhor de todas. Sim, o melhor da vida é o que temos para hoje, porque é efetivamente o que ainda nos resta. Mas para o bem da memória do programa, seria melhor que o "BBB15" fosse lembrado como o ano do esquecimento. Só assim poderemos imaginar o "BBB16" como uma realidade possivelmente interessante.

Marcelo Arantes

Marcelo de Oliveira Arantes (@dr_marcelo_) é psiquiatra, mora em São Paulo e comenta o "BBB" há dez anos, desde que participou do "Big Brother Brasil 8". É autor de “A Antietiqueta dos Novos Famosos”.

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