Marcelo Arantes

'BBB' é o espetáculo da rejeição e o público seu sádico algoz

Ali, se vota para eliminar. Ao final, dos 17 participantes, apenas um não será rejeitado 

Viegas, Diego, Ana Paula, Patrícia e Nayara no 'BBB 18'
Viegas, Diego, Ana Paula, Patrícia e Nayara no 'BBB 18' - Paulo Belote/Globo
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O "BBB" é essencialmente um jogo de rejeição porque, com exceção do último paredão, ali se vota para eliminar. Isso significa que ao final, dos 17 participantes, apenas um não será rejeitado, ou dois --se for o caso da família Lima.

E, na batalha para estimular a rejeição, haja trabalho ao editor para mostrar o que essa gente esconde de pior. Na falta de desqualificantes, a edição fantasia. O espectador desatento que não consegue reconhecer os efeitos de áudio, verá um personagem comum se transformar em monstro numa simples frase dita com uma trilha sonora macabra ao fundo.

O certo é que na canja deste "BBB 18" a direção vem cozinhando bem lentamente seus ingredientes. Os protagonistas do enredo até aqui têm sido usados com moderação, às vezes até poupados nas edições noturnas, enquanto os coadjuvantes são cozidos em fogo alto, num preparo rápido para consumo imediato.

Os excluídos Mahmoud, família Lima e Gleici antagonizam com os vilões articuladores Diego, Patrícia e Caruso e esse é o enredo definido do "BBB 18". Kaysar, o palhaço humilde independente, é o plano B do programa e segue em banho-maria.

Destaques no meio de uma horda de coadjuvantes, a direção deve fazer o impossível para poupar todos esses nomes até o limite máximo de suas eliminações, e garantir o enredo mínimo em mais dois longos meses.

Diego, hoje, é o participante mais importante para a trama do "BBB 18", pois é o cérebro da articulação. Jogador contumaz que busca liderar um grupo forte e coeso, não dá espaço para desentendimentos. Partiu dele a iniciativa de unificar Caruso e Lucas, para trazer o cearense ao seu círculo de influências.

Qualquer um dos excluídos poderá antagonizar com Diego e se tornar herói, mas Gleici e família Lima são os mais fortes candidatos até aqui, já que Mahmoud vende uma história ao público de que torce para o vencedor ser do Norte do país, e Diego é do Pará.

Gleici incomoda os adversários porque apresenta condições intrínsecas favoráveis à condição de heroína: a menina sonhadora e humilde da periferia, que pode ganhar por merecimento social. Em meio a tanta doçura, mostra força e coragem ao enfrentar quem deseja tirá-la do quarto dos adversários, onde afrontosa e inteligentemente quer estar para atrapalhar os planos dos inimigos.

Em 17 anos, o público do "BBB" já aceitou que é possível haver combinação de votos, mas Diego, Patrícia e Caruso não aprenderam a cartilha da popularidade de edições anteriores. São excessivamente maldosos, fazem comentários cruéis, cínicos, debochados, e questionam o caráter de seus oponentes em justificativas pouco consistentes ao público.

Eles compõem a rejeição adequada para a sorte do jogo, e garantia do nosso entretenimento. Devem tripudiar os adversários para sobreviver a qualquer preço às indicações ao paredão. Mais um ponto para a direção, que reservará a eles maior rejeição quanto mais longe sobreviverem.

Kaysar e Wagner fazem um jogo independente, com nítido receio de se comprometerem até que tenham plena certeza da popularidade de cada um dos colegas, garantindo assim de que lado devem estar.

No momento atual do jogo, Kaysar tende a se alinhar aos vilões. Desde a saída da amiga Ana Paula, rejeitada com distinção e louvor (palmas, diretor!), seu estilo de jogo precisa ser poupado na edição para evitar que sofra rejeição antes do tempo.

Paula, Breno, Lucas e Jéssica, políticos sedutores, continuam isentos no jogo, buscando sobrevivência às custas de agradar os adversários. No fundo desejam sobreviver à rejeição, mas paradoxalmente o público também os rejeita por sua isenção.

No fim dessa canja, Viegas é a planta que a acompanha, a salsinha batida, e Nayara a torrada. A saída de Nayara do "BBB 18" na eliminação desta terça (20), não trará nada para jogo. A jornalista de óculos estranhos, que transformou a apuração jornalística dos fatos em justificativa para expor a opinião do adversário, passará pelo programa como figurante.

Seu equívoco foi a fantasia da popularidade que atribuiu a Lucas, portanto quis defendê-lo da maledicência de Caruso. Ingenuamente acreditou dar um tiro certeiro ao procurar o modelo cearense e alertá-lo que fora chamado de Judas. Esperava assim angariar votos de uma torcida que acredita gigantesca, do Ceará.

Nayara levantou bandeiras pouco consistentes e será fuzilada por não ter feito a leitura correta do eixo principal do jogo. Terminou excluída pelo grupo que tentou abduzi-la mas não conseguiu. Então virou fogo amigo, e ateou bomba (uma fofoca) no campo dos próprios aliados.

Rejeitada por eles, também o será pelos espectadores, em mais uma semana de sucesso numérico no espetáculo da rejeição.

Marcelo Arantes

Marcelo de Oliveira Arantes (@dr_marcelo_) é psiquiatra, mora em São Paulo e comenta o "BBB" há dez anos, desde que participou do "Big Brother Brasil 8". É autor de “A Antietiqueta dos Novos Famosos”.

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