Na busca por representatividade, BBB 18 confronta gay e homofóbico
Todos os anos antes que um novo BBB comece, público --e imprensa, claro-- saem à caça do passado condenável de cada participante por curiosidade e maledicência. O nome mais comentado dessa edição foi o do publicitário Marcos Caruso, que faz o estilo bad boy e se diz mulherengo.
Descobriu-se que nas redes sociais, certa vez, Caruso tentou defender deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) através de comentários como: "Tá tudo distorcido, eu não sou obrigado a ver dois barbudos se beijando na frente de uma criança [...] Cadê os nossos direitos como hétero? Tenho que respeitar os homossexuais e eles não são obrigados a nos respeitar?".
Em outra discussão, ele usou uma falácia conhecida como "Argumentum ad hominem" (do latim, "Argumento Contra a Pessoa) ao usar a orientação sexual de um jornalista para ofendê-lo: "Não podemos dar atenção a gente que faz sexo com o órgão excretor".
O homofóbico se caracteriza pela repulsa e ódio contra indivíduos que mantêm relacionamento afetivo ou sexual com alguém do mesmo sexo, e a homofobia é composta de alguns elementos, como o machismo, a heteronormatividade e a misoginia.
Não existe um único tipo e, sim, vários tipos e níveis de homofobia na sociedade. Entre elas existe a chamada internalizada, típica dos homossexuais que têm aversão à própria orientação sexual, mas que também pode estar presente em qualquer pessoa homofóbica que não consegue reconhece o fato.
A homofobia é um preconceito que age silenciosamente, com intenção de boicotar e afetar negativamente a autoestima de um homossexual, com intenção de torná-lo invisível.
No BBB 18 Caruso já afirmou inúmeras vezes que seu maior inimigo é Mahmoud, e parece não ser coincidência o fato de o adversário ser homossexual assumido e cheio de trejeitos. Em muitas discussões, Caruso lhe disse a frase "Seja homem" repetidamente, informando ao telespectador atento que ele se incomoda, sim, com a sexualidade do psicólogo que persegue vorazmente.
Desde a saída de Ana Paula do jogo, Mahmoud passou a antagonizar com Caruso que, após sobreviver ao último paredão, empoderou-se. O público viu sua soberba o transformar em um rolo compressor-opressor, capaz de provocar seus colegas de confinamento sem permitir que eles se defendam.
Sua forma de desestabilizar o oponente não para aí. Além de preconceituoso, rude e debochado, Caruso mente que não combina votos, manipula opiniões e intimida os demais com um tom de voz agressivo e truculento. Isso aos poucos o coloca à frente na escala de rejeição até mesmo na frente da dupla Diego e Patrícia, com quem está unido momentaneamente até que consiga eliminar o inimigo homossexual do jogo.
No paredão entre Mahmoud, Paula e Gleici, as enquetes indicam a saída de um dos dois primeiros, e o enredo do BBB 18 perderia bem mais com a saída de Mahmoud que a de Paula.
A mineira não se confronta diretamente com nada, e seu imbróglio amoroso com Breno parece ter deixado de ser interessante. Ou seja, Paula pode ser fofa e simpática mas não reage aos estímulos nem fará qualquer falta à trama que norteia o programa até aqui.
Embora seja um zero à esquerda em estratégia de jogo, Mahmoud desperta o ódio de Caruso, e o público quer mesmo é de fogo no cabaré.
A única certeza deste paredão é que Gleici será a menos votada e irá para o segundo andar da casa espionar o jogo. Certamente, ela vai descobrir que Wagner é dissimulado e articula votos com seus desafetos, e como ela reagirá diante disso mostrará sua força --ou vulnerabilidade.
Se for resiliente, Gleice pode voltar fortalecida e disposta a enfrentar o trio Caruso, Diego, Patrícia e os helmintos que os parasitam: Viegas, Wagner, Jéssica e Kaysar. Esse último, a menos que a edição o salve, vem se afundando progressivamente no gosto popular, por se aliar à maldosa Patrícia, e o favoritismo do personagem cômico que criou deu lugar à incógnita.
Um jogo de convivência em horário nobre, como o BBB, não deveria dar espaço para sujeitos preconceituosos e intolerantes. A emissora, entretanto, parece interessada em representatividade no elenco.
Se o país atravessa um momento sombrio, com a perda de várias conquistas sociais, resta aguardar que o júri composto por milhões de telespectadores tenha discernimento suficiente para eliminar o que não deveria sequer ter sido exposto.
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