Marcelo Arantes

'BBB15' - Em meio a 'segredos', Cézar levita entre o circense e o autista

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A ingenuidade é geralmente descrita como algo bom, sinônimo de pureza, dificuldade de ver segundas intenções ou maldade. Na verdade o indivíduo ingênuo é aquele que não consegue enxergar o outro, e isto ocorre quase sempre por pobreza espiritual ou privação intelectual.

A dificuldade de se relacionar com o outro é a característica mais marcante do participante Cézar. Convicto de sua honestidade e de que é o "dono da verdade", ele desqualifica a conduta dos que não agem de acordo com sua visão de jogo, e se tornou um dos participantes mais emblemáticos do "BBB15".

Não é raro que indivíduos ditos ingênuos desenvolvam megalomania, sensação de grandeza, afinal eles acreditam serem espiritualmente especiais, "escolhidos" em função do seu caráter superior. Pressionado pelos colegas de confinamento a revelar que segredo dizia ter, Cézar confirmou na madrugada desta quarta-feira (4) que tal segredo compreende "ser abençoado pelo Espírito Santo".

O fato é que há um clima de impaciência com ele. Nem os colegas de confinamento nem o apresentador Pedro Bial conseguem tolerar mais seus discursos rebuscados de difícil compreensão, a mudança de entonação de voz quando é chamado ao vivo e seus neologismos prolixos. O público parece dividido nas redes sociais, não há unanimidade.


CIRCENSE OU AUTISTA?

Teria Cézar um comportamento característico de autistas de alto padrão de funcionamento? Isto explicaria o isolamento por dificuldade de relacionamento interpessoal, e os limites óbvios no campo da comunicação. Cézar decorou inúmeras palavras difíceis mas não consegue organizá-las de modo lógico e conciso. Também não compreende certas brincadeiras e tem comportamento infantil. O espectro autista justificaria ainda a falta de empatia, de se colocar no lugar do outro, o que explicaria biologicamente sua ingenuidade.

A teatralidade e o exagero levaram à comparação inevitável com os políticos. Cézar parece ter treinado uma técnica de oratória no espelho para enfrentar o medo, falar alto, conquistar atenção e conseguir ser ouvido. Procura emocionar as pessoas e persuadi-las com argumentos impactantes, populistas e bem-humorados. O segredo do caricato Cézar é sentir-se especial, apesar das privações. Na sua busca permanente pela aprovação no palanque do "BBB", ele se promove e se autoelogia o tempo todo.

O personagem que ele cria na frente das câmeras é circense, troca de roupa no palco diante do respeitável público. Lembra o palhaço e deputado federal Tiririca, eleito com milhões de votos por ser engraçado e ter apelo popular.

A FAVOR

Embora frequentemente se perca neste personagem e gere contradições que apenas as estátuas mudas não percebem, Cézar tem características a seu favor: não combina votos e é honesto com seus sentimentos. Parece seguir ainda os preceitos da "Lei da Atração", pela qual pode-se conquistar qualquer coisa bastando desejá-la de modo incondicional com pensamentos positivos e nunca desistir. Só não funcionou com Tamires.

Existem os falsos ingênuos que simulam ingenuidade com intenção de enganar para obter um ganho secundário. Mas Cézar inventou de fato um mundo próprio e especial em que não cabem outras pessoas. Neste mundo ele não as vê como elas são e há clara dificuldade de mudança, características típicas de ingênuos verdadeiros.

Ao longo dos anos, o "BBB" tem premiado vários participantes por sua ingenuidade, o perfil conhecido como "coração bão", grafado assim pois a ingenuidade está relacionada ao "jeitão" de falar do interior, simples, humilde, de poucos recursos. Estudante de Direito, Cézar parece conhecer esta cartilha de cor.

Se o segredo da política consiste em mentir de propósito e Cézar brinca com a curiosidade dos seus adversários, resta ao público definir não apenas se ele mente ou é realmente ingênuo, mas principalmente se merece ser perdoado - e recompensado - por isso.

Marcelo Arantes

Marcelo de Oliveira Arantes (@dr_marcelo_) é psiquiatra, mora em São Paulo e comenta o "BBB" há dez anos, desde que participou do "Big Brother Brasil 8". É autor de “A Antietiqueta dos Novos Famosos”.

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