Marcelo Arantes

'BBB15' - Como Lady Macbeth, Talita é uma mulher dominadora e gananciosa

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Ambição e ganância são sentimentos que acompanham o homem em qualquer época. Shakespeare se inspirou no assunto e escreveu a tragédia Macbeth, que questiona até onde o homem se corrompe iludido pelo poder.

O "'BBB" reproduz a luta constante da consciência entre o certo e o errado, e assim como a peça de Shakespeare leva à conclusão final que a ambição tem consequências destruidoras quando se interfere no mundo com atitudes maléficas, cruéis ou egoístas.

Talita é uma aeromoça de 22 anos que entrou no programa com o propósito de ganhar dinheiro para se tornar piloto de avião. Abandonou sua carreira em troca de palavrões e sexo desprotegido diante das câmeras do reality, tendo como aliado, Rafael, de 21 anos.

O público adolescente gosta bastante de casais no programa. Também gosta de caretas, bebida exagerada, de fazer "bullying", desdenhar dos mais velhos simplesmente por serem mais velhos, gosta de liberdade sexual, de acreditar que pode tudo, inclusive se contradizer o tempo todo. Enfim, o público adolescente gosta da falta de limites e Talita parece representá-los genuinamente.

Para quem não demonstra ingenuidade e entrou no "BBB15" negando categoricamente que faria sexo diante das câmeras, Talita se transformou num caso de saúde pública. Deixemos de lado a hipocrisia que inibe moralmente os participantes de fazerem sexo no programa. Os jovens transam cada vez mais cedo e no caso do reality, ele ainda é rota de fuga. Mas não se pode brincar publicamente com o sexo desprotegido, e rir disto. É uma irresponsabilidade social.


Em suas transas mecânicas com Rafael, Talita já tomou duas vezes, em menos de um mês, a pílula do dia seguinte, um contraceptivo de emergência que deve ser usado somente em último caso. Nas redes sociais, adolescentes passaram a fazer piada com o assunto, banalizando questões como gravidez indesejada e aborto. O problema piora se considerarmos as inúmeras vezes que o casal fez sexo desprotegido e associarmos isto aos casos de Aids entre jovens brasileiros que aumentaram mais de 50% no país em seis anos.

Só a impulsividade pode justificar tamanha irresponsabilidade, mas não só isso. Talita parece apresentar sérias dificuldades de adaptação ao ambiente social no confinamento, baixa autoestima, instabilidade de humor, insatisfação pessoal, e irrita-se gratuitamente em explosões de ódio. Lida muito mal com qualquer adversidade, especialmente se envolve rejeição.

Na tentativa de atrair os holofotes, a aeromoça já ameaçou sair do "BBB", já insinuou que tentaria suicídio ("Minha insignificância é tanta que se eu pegar a faca e cortar meu pulso eles deixam"), e que busca atenção permanente de Rafael ("Faço drama para você ficar me adulando"). Possivelmente ela se vê muito pior do que realmente é e por isso acha que a solução está no outro.

Na tragédia de Shakespeare, Lady Macbeth é uma mulher dominadora, de personalidade forte, que convence seu marido a matar o rei para conquistar o trono, levando-o a uma trajetória de crueldade e desequilíbrio. Como a personagem, Talita também precisa de seu general Rafael porque é na dependência afetiva dele que ela alcança segurança.

Vítima de sua vaidade, Talita passou por cima da própria saúde e dignidade na ganância pelo prêmio principal. Ainda que resolva de agora em diante sorrir mais do que odiar, e agir com prudência e respeito aos adversários, não há garantia que o público perdoe essa sucessão de equívocos.

Marcelo Arantes

Marcelo de Oliveira Arantes (@dr_marcelo_) é psiquiatra, mora em São Paulo e comenta o "BBB" há dez anos, desde que participou do "Big Brother Brasil 8". É autor de “A Antietiqueta dos Novos Famosos”.

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