'BBB15' - A cultura do disfarce
Meios de Cultura fazem parte da rotina de laboratórios e existem para permitir o crescimento de microorganismos. Não há muitas formas de associar os termos "cultura" e "Big Brother Brasil", reality considerado pela elite intelectual como o entretenimento culturalmente mais raso da TV brasileira, mas existe sim uma conexão entre eles.
Meios de cultura, para que sejam considerados ideais, devem oferecer condições semelhantes às condições naturais. Pensando nisso, a produção do "BBB" resolveu que sua décima quinta edição deveria ser assim, asséptica, sem interferências, uma redoma limpa e fechada onde os escolhidos pudessem desenvolver ao máximo suas potencialidades.
Algo deu errado. Um participante entrou no tal meio depois que ele já estava hermeticamente fechado, contaminou-o e então a experiência sofreu uma derrota: a saída precoce de Francieli. O "BBB" já teve baixas memoráveis em seus primeiros paredões, da transexual Ariadna à blindada Aline, mas a eliminação de Franciele deixou um rombo no coração de 42% da audiência que viu nela a esperança de uma edição mais competitiva e inteligente.
Francieli morreu no "BBB15" e o laudo do IML diagnosticou ansiedade antecipatória e ingenuidade. A frase infeliz escolhida pela Globo como seu cartão de apresentação ("vou fazer muitos aliados no início, mas depois vou queimar todo mundo") caiu nas mãos do adversário Marco que, campeão de pôquer, transformou-a em "royal straight flush".
Foi uma eliminação acompanhada de previsões terríveis nas redes sociais. Há quem garanta que o jogo perderá a graça, acusação injusta para onde ainda habitam Fernando, Marco, Adrilles e Cezar, embriões de protagonistas, sabe-se lá heróis ou vilões. Apenas vão correr atrás de novos argumentos que convençam o público da história meio hipócrita de que só é digno de vencer o "BBB" quem não faz jogo explícito, o erro de Francieli.
Começou a temporada dos disfarces! É hora de insinuar sutilmente em quem vai votar, de se fazer de vítima, de acusar o adversário de manipulação enquanto manipula, de se isolar para gerar comoção pública, hora de formar casal loucamente apaixonado, de fazer o ingênuo do coração bom, hora de se esconder dos conflitos centrais, encarnar o mimetismo, tornar-se planta para passar despercebido, mirar no jogo e acertar na floresta do Projac.
A edição deve agora concentrar seus esforços em Fernando e Marco, jogadores influentes e impiedosos que precisam de novos inimigos de infância para combater em nome da virtude, do narcisismo e da autoestima elevada. A saída da gaúcha deixa-os confiantes mas sem alvo de ataque, e é bem provável que um se torne o alvo do outro. Quem vencer o "BBB15" (Globo) leva R$ 1,5 milhões, preferencialmente quem melhor entreter o público até abril.
Em meio a tantas regras novas, certamente virão surpresas em 2015. Dá até pra retomar a história do meio de cultura, aquele que deve oferecer condições melhores possível para o experimento ser bem-sucedido. Num meio de cultura ideal para o "BBB15", dariam a mesma chance de Marco à Francieli, ou seja, ela voltaria à casa com informações privilegiadas. A audiência agradeceria.
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