Com nascimentos em alta, gêmeos fazem sucesso na TV e na internet
Irmãos da mesma gestação nunca foram tão presentes no mundo; entenda fenômeno
Irmãos da mesma gestação nunca foram tão presentes no mundo; entenda fenômeno
Os gêmeos estão em alta. A partir de segunda-feira (8), Cauã Reymond, 41, dará vida aos irmãos Christian e Renato na novela "Um Lugar ao Sol" (Globo). Separados quando crianças, eles se reencontram depois de adultos e descobrem que são iguaizinhos. Não são os únicos no ar.
No Vale à Pena Ver de Novo, na mesma emissora, Murilo Benício, 50, pode ser visto na pele de Lucas e Diogo na reprise de "O Clone" (2001-2002). No canal pago Viva, o público tem vibrado com os embates entre Taís e Paula (vividas por Alessandra Negrini) durante a exibição de "Paraíso Tropical" (2007).
Já Paola e Paulina podem ser vistas em duas versões. Vividas pela atriz Gabriela Spanic, 47, as gêmeas da novela mexicana "A Usurpadora" (1998) estreiam neste mês no catálogo da Globoplay. No SBT, onde a trama original fez bastante sucesso no passado, elas são vividas por Sandra Echeverría, 36, em uma série de 2019 que reconta a mesma história.
O "boom" dos gêmeos, no entanto, não se restringe à ficção. Segundo um estudo publicado neste ano pela revista científica "Human Reproduction", nunca houve tantos gêmeos no mundo. O crescimento do número absoluto e relativo de gêmeos chegou a um nível "sem precedentes".
A média aumentou cerca de um terço desde a década de 1980. Foi de 9,1 para 12 o número de nascimentos desse tipo a cada 1.000 partos. Pelos cálculos dos pesquisadores, por ano, nascem cerca de 1,6 milhão de pares de gêmeos em todo o mundo, um crescimento de 42% com relação ao 1,1 milhão que nasciam há 40 anos.
Uma das explicações é o aumento da reprodução assistida, como a fertilização in vitro, em que os óvulos são fertilizados em laboratório —em geral, mais de um é implantado no útero da mulher para aumentar as chances de sucesso.
O avanço da medicina em geral, que fez com que a gestação gemelar envolvam menos riscos que antigamente, e o aumento da média de idade com que as mulheres têm filhos (já que mulheres mais velhas têm uma tendência maior de liberar mais de um óvulo por ciclo) também contribuíram.
Esse último fator é um dos que a empresária Paty Vilarindo, 36, acredita que influenciaram na dupla gravidez dela, que em 2020 deu à luz Lucca e Matteo, hoje com 1 ano e 9 meses. Ela também relata que há vários pares de gêmeos tanto na família dela quanto na do marido, Flávio, 40.
Com seis semanas de gestação, ela descobriu que estava esperando dois bebês, em vez de um. Mesmo tendo alguma familiaridade com o assunto, ela diz que não foi tranquilo receber a notícia. "Eu fiquei assustada", confessa. "Se um já é difícil, imagina dois. Fiquei preocupada com a questão financeira."
Passado o susto, ela foi assimilando a ideia. "Fui acessando que era o que Deus queria para mim e fomos curtindo a gestação", conta. Os meninos nasceram com 2 minutos de diferença, de cesária, após a bolsa dela estourar com 36 semanas.
Mesmo sendo univitelinos (também conhecidos como gêmeos idênticos), Paty diz que sabe reconhecer quem é quem. "O Lucca é mais gordinho e o Matteo mais magrinho", explica. "Para mim, tem muita diferença. Mas se eu olhar de costas ou de lado, às vezes não sei qual dos dois é, só se estiverem juntos."
Além disso, as personalidades também são diferentes. "O Luca é totalmente 'pá virada', ele sobe nas coisas, se joga, é destemido", brinca. "Já o Matteo é carinhoso, bonzinho e obedece mais. Juntos eles tocam fogo em tudo (risos), mas separados são totalmente diferentes."
Ela diz que os meninos costumam chamar a atenção em todos os lugares por onde passam. Sempre ouve perguntas sobre o trabalho que dá para cuidar dos dois ao mesmo tempo, mas diz não saber comparar com outra situação. "Não tenho essa referência de ter um filho só", explica.
Pelas redes sociais, ela diz que pegou muitas dicas com outras mulheres que estavam em situação parecida com a dela. "Acho que as mães de gêmeos ficam tão desesperada que vão buscar informações com outras mães", conta. "E não é a mesma coisa de falar com quem teve um filho só."
O perfil pessoal dela acabou virando um perfil familiar, onde ela posta imagens dela e dos meninos. "Criei muita amizade com várias mães de gêmeos, algumas que eu nem conheço pessoalmente", diz. "O legal é que cada uma tinha uma coisa para compartilhar."
A internet também tem sido um refúgio para muitos pares de gêmeos, que têm feito sucesso nas redes sociais com perfis conjuntos em aplicativos como o TikTok e Instagram. Os conteúdos costumam exploram as semelhanças em fotos, vídeos curiosos e dancinhas.
É o caso dos irmãos Vitor e Vinicius Barreto, 22, que acumulam quase 3 milhões de seguidores desde que publicaram o primeiro vídeo em novembro de 2020 no TikTok. Nascidos em Recife, eles dizem atualmente morar "no Brasil" porque viajam bastante para gravar vídeos.
Antes, ambos tinham perfis separados no Instagram. "O meu tinha 630 seguidores e era privado", conta Vinicius. No perfil conjunto criado há menos de um ano, eles já acumulam quase 1 milhão de seguidores.
O primeiro conteúdo que bombou muito foi com as também gêmeas Brena e Bruna Amaral. Nele, os dois pares de irmãos simulavam estar diante de um espelho, deixando ver depois que se tratavam de duplas idênticas, e não de um reflexo.
Os irmãos dizem não saber explicar por que gêmeos geram tanto fascínio nas pessoas. "Acho que as pessoas normais, únicas, costumam fazer sucesso por se diferenciar das outras", avalia Vitor. "Quando você é gêmeo, a estatística diminui. A probabilidade de ver gêmeos na rua ou na escola é bem menor, assim como nas redes sociais."
"Tudo o que foge do comum chama a atenção", concorda Vinicius. "Sendo gêmeo, você já nasce com um bônus. Além disso, a gente nunca está só, são sempre duas cabeças pensantes."
Eles dizem que não conseguem imaginar a vida um sem o outro. "É muito legal ter um irmão gêmeo, deve ser um terror ser sozinho, a gente divide tudo", avalia este último. "Por mim, a gente teria até mais um", completa Vitor.
O único momento em que os dois se separam é quando Vinicius vai visitar a namorada, que mora em Curitiba. "Mas nunca passamos mais de 7 dias separados", conta Vitor.
Apesar de serem idênticos para a maioria das pessoas, eles contam como os pais e pessoas mais próximas fazem para diferenciá-los. Vinicius é 2 cm mais alto e tem 3,5 kg a mais, enquanto Vitor tem um sinal do pescoço que o irmão não compartilha.
Mesmo assim, claro, já houve confusão. "Todo mundo confunde em algum momento, principalmente quando um está usando uma roupa que o outro usa muito", comenta Vinicius. "A minha namorada já confundiu e deu um beijinho no ombro dele. E o meu irmão é mala, ele deixa (risos)."
"Claro, vou renegar carinho?", brinca Vitor. "Ela já chegou me abraçando", defende-se.
Os dois, no entanto, já usaram a semelhança a favor deles. "Um já fez prova pelo outro, também já pagamos só um rodízio de sushi e uma vez, numa festa, um esqueceu a identidade, esperou o outro entrar e entrou depois com o mesmo documento", conta. "A gente apronta muito (risos)."
Acostumadas a lidar com a curiosidade sobre o tema, as irmãs Adriana e Tatiana Medeiros, 53, também costumam usar as redes sociais para falar sobre curiosidades da vida de gêmeas. Elas dizem que a pergunta que mais escutam é se é verdade que uma sente o que a outra sente.
"A resposta é não, isso é mito", garante Adriana. "Nós temos uma conexão muito grande, algo que sempre é relatado no caso dos gêmeos. Recentemente, eu perdi meu cachorrinho e minha irmã compartilhou do momento ruim, mas só depois que isso foi verbalizado."
Com profissões diferentes (Adriana é fisioterapeuta, enquanto Tatiana é médica) e morando em cidades distintas (a primeira vive em São Paulo; a segunda, em Curitiba), elas conseguiram aproveitar essa liga no trabalho. Resolveram tocar juntas a Simples Mente Corpo, que oferece práticas ligadas ao bem-estar e à qualidade de vida, além de palestras sobre o tema para empresas.
As personalidades diferentes não atrapalham em nada, pelo contrário. "Eu sou bem mais formal, tranquila e quieta, enquanto a Adriana é mais comunicativa e conectada", conta Tatiana. "Apesar das diferenças, nós nunca competimos, e agora com a maturidade super nos completamos no trabalho."
As duas não costumam se vestir igual nem usar o mesmo corte de cabelo. Dizem que isso é fruto da educação dada pela mãe, Arlete, já falecida. "Ela respeitava muito as nossas diferenças e nunca nos comparava", alogia Adriana.
Mesmo assim, elas já foram confundidas até em ocasiões importantes. "Na formatura da Adriana, os 50 primeiros que vieram me cumprimentar eu avisei que não era eu, depois eu já passei a receber os cumprimentos e não falava nada", brinca Tatiana.
Já no casamento desta última, Adriana era madrinha, estava vestida de vermelho e, mesmo assim, teve gente que falou com ela achando que era a noiva. "Achavam que era uma daquelas festas em que a noiva troca de roupa no meio da festa", conta.
Elas também já foram pegas fazendo a prova de física uma pela outra (foram denunciadas pelo fato de uma ser destra e a outra canhota) e, eventualmente, algum dos namorados as confundia. Porém, foi outra a confusão que mais mudou a vida de uma delas.
Como fisioterapeuta, Adriana atendia à equipe de judô do Palmeiras. "Saí uma vez com uns amigos e um dos atletas veio conversar comigo achando que era a Adriana, eu falei que ele devia estar me confundindo com a minha irmã, começamos a conversar, namoramos e hoje somos casados há 27 anos", conta Tatiana.
Para Adriana, o fascínio exercido pelos gêmeos vem desde a Bíblia, onde Esaú e Jacó eram rivais desde o parto (o texto diz que Jacó saiu segurando o calcanhar de Esaú, que nasceu primeiro). "As pessoas tentam colocar um rótulo de bem versus mal", avalia. "A curiosidade é para saber qual dos dois gêmeos é o que vai colocar fogo no parquinho."
Elas lembram que até hoje a ficção costuma trazer esse tipo de conflito, sendo Ruth e Raquel de "Mulheres de Areia" um dos pares mais lembrados pelo público. As gêmeas foram vividas por Eva Wilma na extinta Tupi em 1973-1974 e por Glória Pires no remake da Globo em 1993.
"Eu particularmente não gosto dessa representatividade do bem e do mal, da competição", diz Tatiana. "Temos personalidades diferentes, mas não tem isso de gêmeo bom e gêmeo mau. Acaba que as pessoas acreditam nisso."
"Em termos de novela ou filme, não encontrei nada que contasse das possibilidades de harmonia e cumplicidade, nada que pareça real", concorda Adriana. "A minha dica para os pais é que eles busquem outras fontes de informação para facilitar as coisas para os filhos. O importante é entender que são duas pessoas, tem que respeitar o jeito de cada uma e nunca comparar."
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