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Viva Bem

Dia dos Pais: Confira histórias de famosos e anônimos que passam paixões de pai para filho

Há quem herde do pai o gosto por carros, por time de futebol e pela profissão

Pipo, Bell e Rafa Marques no Globo de Ouro: pai e filhos reunidos na música

Pipo, Bell e Rafa Marques no Globo de Ouro: pai e filhos reunidos na música Heber Barros/Divulgação

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São Paulo

Se você tem um time de coração, uma banda preferida ou dá continuidade a uma profissão que aprendeu a gostar desde pequeno, possivelmente teve como base forte para essas escolhas a influência familiar. Em muitos casos, essa referência é paterna e ajuda a formar e a definir gostos e predileções para o resto da vida.

Há muitas histórias de filhos que herdaram paixões dos pais, sejam elas sobre hobbies, carreira e esporte. São amores que passam de geração para geração. Apaixonado por carros, o engenheiro civil paulistano José Rubbo Neto, 65, fez questão de transmitir o que ele chama de “ferrugem no sangue” para o filho.

Com interesse em comum por carros antigos, ambos largaram suas profissões, abriram uma oficina e vivem do amor pelas máquinas, modificando e personalizando carros. "Comecei aos 15 anos, meu pai já mexia [com carros] e meu avô também. Sempre gostei de mexer nessas tranqueiras e deixá-las novinhas. Hoje nós dois não podemos ver um carro abandonado que já bate forte o coração", diverte-se Neto.

O filho, o corretor de seguros Luciano Laruccia Rubbo, 32, conta que lembra como se fosse hoje do momento exato em que percebeu que também tinha a paixão pelas quatro rodas na veia. "Tinha cinco anos quando fomos a uma feira e meu pai estava louco para comprar um carro antigo. Ele me mostrou dois modelos e disse para escolher um. Quis uma réplica de um Alfa Romeo vermelho e ele me deu de presente", recorda.

Os dois, atualmente, têm de seis a sete carros antigos, parte da frota guardada está em uma garagem em Santana e a outra na casa do pai, na Serra da Cantareira, ambas ficam na zona norte de São Paulo. Para Neto, os carros unem pai e filho cada vez mais. "Tentamos disseminar essa adoração por carros para família e vizinhança. Virou uma febre. Temos outras divergências, mas com carro antigo a gente fica doido. Toda folga que temos estamos enfiados na garagem, e neste Dia dos Pais não será diferente."

E já há um novo membro da família de olho nos carrões que brilham na garagem. Neto de José Rubbo, o filho de Luciano, que vai completar dois anos em setembro, já mostra sinais de que a paixão vem de berço. “Ele já nasceu nesse meio e já brinca de estar dirigindo. Tem afeição desde novinho. Provavelmente o filho do meu filho também terá esse gosto", completa Luciano.

Já o amor por um time de futebol, mais precisamente pelo Corinthians, é o que une cada vez mais a família Oliveira. Pai, filho e neto torcem para o mesmo time e não sabem o que é assistir a um jogo do Timão separados. É tradição.

"É algo herdado do meu pai, que passou para mim, e eu passei para meu filho, que passou para o meu neto. É uma paixão que rege nossos papos", revela o patriarca Antonio Carlos de Oliveira Gomes, 51, metalúrgico de São Bernardo do Campo (ABC paulista).

No Dia dos Pais, os três vão estar juntos para assistir o jogo entre Corinthians e Internacional, às 11h pelo Campeonato Brasileiro. Jogo perfeito para uma vitória do time de coração e um almoço feliz na sequência. "Tenho muitos jogos marcantes ao lado do meu pai, como a partida entre Corinthians e Vasco na Libertadores de 2012. Lembro da cena de a gente estar quase levando um gol [de Diego Souza] e depois, com a defesa do goleiro Cássio na jogada, a gente se abraçar e gritar", diz  Rodolfo Melchiades Oliveira, 31, corretor de seguros, que recorda também da final do Mundial de 2000 contra o Vasco: "Choramos de emoção". 

O filho de Rodolfo, Henrique, 10, já segue os passos do pai e do avô. O garotinho, porém, quer ir além: fazer com que os fanáticos pelo Timão de sua família torçam por ele como jogador do clube. “Quero ser jogador. Jadson, Pedrinho, Cássio e Fagner são meus ídolos. A família toda torce junto”, diz o garoto, que adora bater uma bola na quadra do prédio. Quer ser meia, ao estilo camisa 10.

A paixão herdada do pai, porém, quase que fica pelo caminho, como conta Antonio. "Teve um jogo que marcou, no qual o Corinthians perdeu nos pênaltis [semifinal da Libertadores de 2000] para o Palmeiras. Rodolfo caiu no chão, chorando. Desse dia em diante parei de torcer, porque nossa paixão magoava o meu filho e isso eu jamais queria. É como se eu tivesse punindo o que mais gostávamos. Isso tinha mexido com meu bem maior, meu filho. Fiquei cinco anos sem torcer, mas ele mesmo pediu para eu voltar."

FILHOS DE PAIS FAMOSOS SEGUEM PROFISSÃO

Dos maiores atores de todos os tempos, Antonio Fagundes, 70, vê seu filho, Bruno, seguir o seu caminho nas artes. O rapaz, de 30 anos, começou a atuar aos 16. Segundo Fagundes, não houve influência direta para essa escolha.

“A gente sempre tomou cuidado de não influenciar na decisão dele, até porque é angustiante para um pai saber que o filho pode seguir sua profissão e pode não dar certo. Fico muito satisfeito de saber que essa foi uma escolha dele e fico mais satisfeito ainda em ver que ele está sendo um profissional de primeira linha", ,diz Fagundes, que tem outros três filhos, mas nenhum nesse caminho.

Juntos, Fagundes e Bruno fizeram um filme, “Contra a Parede” (2018), e mais três peças de teatro. Ambos também contracenaram lado a lado na novela “Meu Pedacinho de Chão” (Globo, 2014). “Além do prazer que foi trabalhar com ele por ser meu filho, foi um prazer redobrado trabalhar com um profissional competente, disciplinado, interessado e apaixonado pelo que faz. Tive orgulho e prazer de trabalhar com um profissional de alta linha, além do fato de ser um filho querido”, opina Fagundes.

Bruno Fagundes conta que, embora o pai sempre tenha deixado claro que ele poderia ir por qualquer destino, sempre teve em casa o maior professor de todos. “A presença dele foi meu primeiro olhar e me direcionou para pontos de interesse em comum. Ele sempre fez questão de me incluir em sua vida. Eu o via como um modelo de sucesso a seguir”, define o filho, que está em cartaz com a peça "Zorro - Nasce uma Lenda", em São Paulo. 

Emoção para valer quem também sentiu foi o cantor Bell Marques, 66, quando viu pela primeira vez seu trio elétrico, ainda com o Chiclete com Banana, cruzar o mesmo caminho do trio dos filhos Rafa e Pipo, que começavam na música seguindo seus passos. O encontro emocionante aconteceu em Salvador, na praça Castro Alves, em 2012.

Ver seus dois pupilos foi o maior momento do astro do axé em 40 anos de carreira. “Foi mágico e inesquecível porque nunca imaginei aquela cena. E olha que convivi com todos os meus ídolos: Dodô e Osmar, Luiz Caldas, Moraes Moreira. Ver suas crias no mesmo ramo que você é diferente”, define Bell.

E engana-se quem pensa que Bell incentivou a escolha dos meninos pela música. Foi o contrário, como conta Rafa, 31. “Ele e minha mãe eram meio contra, porque sabiam de toda a dedicação que vinha com o trabalho musical, o isolamento, o cansaço das viagens. E ainda assim, quando decidimos que era o que a gente queria, ele depositou 100% da energia dele. O apoio diário, o olhar dele de orgulho e o encorajamento quando dividimos palco ou quando ele foi da plateia marcaram muito.”

Pai e filhos já fizeram participações conjuntas em DVDs e estão sempre juntos. No Dia dos Pais, a dupla já percebeu que o paizão estará em São Paulo, e a passagem aérea e o almoço estão garantidos. Para Pipo, 25, é um orgulho poder ter como inspiração um dos maiores nomes da música popular brasileira.

“A gente cresceu admirando e babando embaixo dos palcos. Nós o ouvíamos 24 horas por dia. Entramos na música por ele. Trazemos suas referências, mas com nosso toque autêntico. Temos uma enciclopédia musical dentro de casa”, comenta Pipo.

Para o pai coruja, que já tem 40 Carnavais na bagagem e diz querer “morrer cantando”, é hora de fazer os meninos brilharem. "É a vez deles. Eu só pego carona. Em um primeiro momento eu fiquei assustado, pois não sabia se eles tinham talento e precisa ter. Eles conseguiram! São artistas que vão ocupar o espaço deles na música popular brasileira. Dou uma dica ou outra, de vez em quando. Não penso que eles tenham de alcançar o meu patamar. Provavelmente, farão melhor do que eu."

Já o jogador de vôlei e levantador da seleção brasileira Bruno Rezende, o Bruninho, 33, conta que neste dia 11 estará em quadra pela última partida do pré-olímpico, contra a Bulgária. Se vencer o jogo, poderá garantir a vaga da equipe canarinho na Olimpíada do ano que vem.

“E esse será o meu presente ao meu pai. Infelizmente não poderemos estar juntos nesse dia. Mas nossa vida é assim”, comenta ele, que foi treinado por Bernardinho, seu pai, por dez anos. Embora a relação de ambos tenha sido mais complicada nos três primeiros anos, hoje, após a saída de Bernardinho do posto (em 2016), a relação melhorou muito.

"Hoje é um relacionamento mais de pai e filho, mas ele ainda cobra muito. Qualquer coisa que eu faça tem de haver dedicação extrema. É algo que vou levar sempre comigo", diz Bruninho.

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