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Organizar casa pode gerar brigas familiares e desgastar relação; saiba como dividir as tarefas

Cuidar do lar não deve ser obrigação de apenas uma pessoa

Brunna e Leandro Sauandaj
Brunna e Leandro Sauandaj - Robson Ventura/ Folhapress
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Lara Pires
São Paulo

Organizar e administrar uma casa demanda tempo, esforço e recursos fi­nanceiros. Em um lar compartilhado, o ideal é que cada morador seja respon­sável por uma ou mais tarefas, para que ninguém fique sobrecarregado nem es­tressado.

Dividir as responsabilidades da casa é fundamental para manter a limpeza e a ordem dela. Nas famílias, historicamente, ainda é comum que a mulher acumule tarefas, mas não deve ser assim. “As tarefas fi­cam, geralmente, centralizadas na mãe. Estamos acostumados, por exem­plo, a poupar as crianças de ajudar em casa. Muitos pais acreditam que, com isso, estão protegendo os filhos”, intro­duz a psicóloga clínica Dora Lorch.

Mas, segundo especialistas, é impor­tante ensinar os pequenos a realizar tarefas –desde que sejam compatíveis com a idade deles– e fazer com que de­senvolvam disciplina e responsabilida­de. Na casa da escritora Ananda Urias, 30, e do marido dela, o adminis­trador de empresas Victor Motta, 34, as crianças desempenham um papel importante.

A filha mais velha, Lara, 9, ajuda a cuidar da casa e da irmã mais nova, Alice, 3. "Se ela vê a Alice fazendo algo errado, já corrige a irmã no mesmo instante”, conta Ananda. "Trabalho em casa e, sem a ajuda delas, ficaria muito pesado para mim. Ou a gente conta com o nú­cleo familiar, ou não consegue dar con­ta de tudo que precisa ser feito”, diz ela.

Incentivar as crianças a contribuírem em casa alivia a carga dos pais e tam­bém é educativo. Cristina Martin, coor­denadora pedagógica da educação in­fantil do Colégio Renovação, explica que, quanto antes os pequenos come­çarem a ser envolvidos nas tarefas do lar, melhor. "É importante, claro, asse­gurar que as funções não coloquem a criança em risco."

“O ideal é estimular o interesse dela. Organizar os brinquedos, por exemplo, pode se tor­nar uma atividade lúdica e educativa, se ela tiver de separá-los por cores e ta­manhos”, ensina Cristina.

A personal organizer Margô Belloni explica que a organização de uma casa deve ser feita de acordo com a priorida­de da família. "Se algum membro tra­balha todos os dias de camisa social, é preciso priorizar que as roupas estejam limpas e passadas sempre, para serem usadas na rotina."

Arrumar armários também é funda­mental para manter o lar em ordem, e cada objeto deve ter o seu local certo. “Em casa bagunçada leva-se mais tem­po para executar as tarefas”, diz a per­sonal organizer Ingrid Lisboa.

“Então, a desorganização de armários, geladeira e despensa vai influenciar na qualidade do tempo gasto para realizar cada ativi­dade”, explica ela. “É muito diferente cozinhar em um ambiente já organiza­do e limpo e começar a fazer isso em um local desordenado”, exemplifica.

Segundo ela, a manutenção básica de uma casa deve incluir faxina uma vez por semana, limpeza da geladeira a ca­da 15 dias, higienização dos armários por dentro a cada três meses e troca dos lixos do banheiro e da cozinha todos os dias, para evitar o mau cheiro.

O casal Brunna Andrade, 27, maquiadora, e Leandro Sauandaj, 28, empresário, quase se separou por conflitos na manutenção do lar. Sauan­daj morava sozinho e cuidava de tudo até Brunna chegar. Acostumada a não ajudar quando morava com os pais, Brunna não sabia realizar muitas das
tarefas nem era disciplinada como o namorado.

"Ela dizia que ia lavar a lou­ça, eu voltava do trabalho, e ela não ti­nha feito nada”, conta Leandro. “Sem­pre fui organizado e reservava um ho­rário certo para cuidar da casa. A Brunna ia fazendo conforme dava. Se não tivesse tempo, não fazia”, diz ele.

O empresário ficou nervoso com a si­tuação, e as discussões se tornaram frequentes. “Como sou autônoma, Leandro imaginou que eu teria mais tempo de cuidar da casa, mas eu estava priorizando o emprego”, conta Brunna.

Até que a maquiadora teve uma ideia: compartilhar uma agenda online com o companheiro e listar as tarefas. "Temos um calendário em comum onde escre­vemos tudo o que precisa ser feito na casa e também as nossas tarefas profis­sionais. Assim, um vê o que o outro está fazendo e não dá briga”, conta Brunna. 

A iniciativa deixou Sauandaj mais tranquilo. “Para mim é bem prático. Anoto todos os afazeres para não es­quecermos nenhum, e cada um assume o que pode”, revela ele.

A psicóloga clínica Dora Lorch res­salta que é importante não exigir que o outro faça as coisas exatamente como você faria. “Se colocar muito defeito na tarefa realizada pelo companheiro, ele não fará mais nada. Não o desmotive.”

Ainda segundo a especialista, ao dividir tarefas, é preciso levar em conta o momento de vida de cada um. “Não adianta pedir ao outro aquilo que é im­possível de ele realizar pela completa falta de tempo”, afirma Dora.

Bruna Lamônica, 31, trabalha com marketing digital e é estudante de pedagogia. Ela mora com o marido, Marcos Vinícius Araújo, 33, enge­nheiro, e com as filhas Manoella, 5, e Rafaela, 3. Ter de traba­lhar, estudar, cuidar das filhas e da casa deixou Bruna estressada.

Com muitas funções acumuladas, ela passou a re­clamar. “Comecei a dar chilique, por­ que meu marido não lavava nem uma mamadeira”, conta Bruna. “Além disso, começamos a ter problemas financei­ros, e a faxineira, que vinha duas vezes por semana, deixou de vir.”

O desgaste foi tão grande que Araújo se preocupou com a saúde emocional da mulher e percebeu que precisava as­sumir responsabilidades. “Acho que eu fiquei mal-acostumado, porque tínha­mos a faxineira duas vezes por sema­na”, explica ele.

“Até que a Bruna sur­tou, e eu percebi que não tinha como uma pessoa cuidar de tudo sozinha. Es­tava pesado demais para ela”, afirma.

A família ainda se mudou de um apartamento para uma casa de três an­dares, e o tamanho da área foi outro problema, já que havia muito mais para limpar. “Teve um dia em que eu estava tão nervosa que a Manoella me viu cho­rando e me chamou para dizer que ía­mos conseguir organizar tudo e cuidar da casa. Fiquei sem fala”, conta Bruna.

A solução encontrada pela família, então, foi organizar e listar tudo o que precisava ser feito e dividir entre todos, incluindo as crianças. “Hoje, o Marcos leva a cachorra para passear duas vezes por dia, cuida das roupas, faz as compras de mercado e arruma nossa cama”, detalha Bruna.

As crianças ficaram responsáveis por guardar os brinquedos que tiram do lu­gar e por arrumar as próprias camas, além de pôr o uniforme da escola no cesto de roupas sujas. “Eu cozinho, pas­so roupa, tiro lixo e limpo a casa, mas voltamos a ter faxineira uma vez na se­mana. Sem ela não dava”, diz Bruna.

Além da manutenção da casa, é im­portante que os armários estejam em ordem. “Comece com uma gaveta e se­pare o que pode ser jogado ou doado”, diz Aline Dellavy, personal organizer.

Segundo a psicóloga clínica Dora Lorch, crianças que ajudam em casa hoje serão adultos responsáveis ama­nhã. “Elas aprendem a ser responsáveis e justas com os pais e com os futuros companheiros”, explica.

Para quem divide o lar com um amigo, compartilhar tarefas é fundamental. “Não há relacionamento que dure quan­do um faz tudo, e o outro, nada”, diz Dora. “Você briga uma, duas vezes. Não deu? A amizade acaba”, garante ela.

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