Organizar casa pode gerar brigas familiares e desgastar relação; saiba como dividir as tarefas
Cuidar do lar não deve ser obrigação de apenas uma pessoa
Organizar e administrar uma casa demanda tempo, esforço e recursos financeiros. Em um lar compartilhado, o ideal é que cada morador seja responsável por uma ou mais tarefas, para que ninguém fique sobrecarregado nem estressado.
Dividir as responsabilidades da casa é fundamental para manter a limpeza e a ordem dela. Nas famílias, historicamente, ainda é comum que a mulher acumule tarefas, mas não deve ser assim. “As tarefas ficam, geralmente, centralizadas na mãe. Estamos acostumados, por exemplo, a poupar as crianças de ajudar em casa. Muitos pais acreditam que, com isso, estão protegendo os filhos”, introduz a psicóloga clínica Dora Lorch.
Mas, segundo especialistas, é importante ensinar os pequenos a realizar tarefas –desde que sejam compatíveis com a idade deles– e fazer com que desenvolvam disciplina e responsabilidade. Na casa da escritora Ananda Urias, 30, e do marido dela, o administrador de empresas Victor Motta, 34, as crianças desempenham um papel importante.
A filha mais velha, Lara, 9, ajuda a cuidar da casa e da irmã mais nova, Alice, 3. "Se ela vê a Alice fazendo algo errado, já corrige a irmã no mesmo instante”, conta Ananda. "Trabalho em casa e, sem a ajuda delas, ficaria muito pesado para mim. Ou a gente conta com o núcleo familiar, ou não consegue dar conta de tudo que precisa ser feito”, diz ela.
Incentivar as crianças a contribuírem em casa alivia a carga dos pais e também é educativo. Cristina Martin, coordenadora pedagógica da educação infantil do Colégio Renovação, explica que, quanto antes os pequenos começarem a ser envolvidos nas tarefas do lar, melhor. "É importante, claro, assegurar que as funções não coloquem a criança em risco."
“O ideal é estimular o interesse dela. Organizar os brinquedos, por exemplo, pode se tornar uma atividade lúdica e educativa, se ela tiver de separá-los por cores e tamanhos”, ensina Cristina.
A personal organizer Margô Belloni explica que a organização de uma casa deve ser feita de acordo com a prioridade da família. "Se algum membro trabalha todos os dias de camisa social, é preciso priorizar que as roupas estejam limpas e passadas sempre, para serem usadas na rotina."
Arrumar armários também é fundamental para manter o lar em ordem, e cada objeto deve ter o seu local certo. “Em casa bagunçada leva-se mais tempo para executar as tarefas”, diz a personal organizer Ingrid Lisboa.
“Então, a desorganização de armários, geladeira e despensa vai influenciar na qualidade do tempo gasto para realizar cada atividade”, explica ela. “É muito diferente cozinhar em um ambiente já organizado e limpo e começar a fazer isso em um local desordenado”, exemplifica.
Segundo ela, a manutenção básica de uma casa deve incluir faxina uma vez por semana, limpeza da geladeira a cada 15 dias, higienização dos armários por dentro a cada três meses e troca dos lixos do banheiro e da cozinha todos os dias, para evitar o mau cheiro.
O casal Brunna Andrade, 27, maquiadora, e Leandro Sauandaj, 28, empresário, quase se separou por conflitos na manutenção do lar. Sauandaj morava sozinho e cuidava de tudo até Brunna chegar. Acostumada a não ajudar quando morava com os pais, Brunna não sabia realizar muitas das
tarefas nem era disciplinada como o namorado.
"Ela dizia que ia lavar a louça, eu voltava do trabalho, e ela não tinha feito nada”, conta Leandro. “Sempre fui organizado e reservava um horário certo para cuidar da casa. A Brunna ia fazendo conforme dava. Se não tivesse tempo, não fazia”, diz ele.
O empresário ficou nervoso com a situação, e as discussões se tornaram frequentes. “Como sou autônoma, Leandro imaginou que eu teria mais tempo de cuidar da casa, mas eu estava priorizando o emprego”, conta Brunna.
Até que a maquiadora teve uma ideia: compartilhar uma agenda online com o companheiro e listar as tarefas. "Temos um calendário em comum onde escrevemos tudo o que precisa ser feito na casa e também as nossas tarefas profissionais. Assim, um vê o que o outro está fazendo e não dá briga”, conta Brunna.
A iniciativa deixou Sauandaj mais tranquilo. “Para mim é bem prático. Anoto todos os afazeres para não esquecermos nenhum, e cada um assume o que pode”, revela ele.
A psicóloga clínica Dora Lorch ressalta que é importante não exigir que o outro faça as coisas exatamente como você faria. “Se colocar muito defeito na tarefa realizada pelo companheiro, ele não fará mais nada. Não o desmotive.”
Ainda segundo a especialista, ao dividir tarefas, é preciso levar em conta o momento de vida de cada um. “Não adianta pedir ao outro aquilo que é impossível de ele realizar pela completa falta de tempo”, afirma Dora.
Bruna Lamônica, 31, trabalha com marketing digital e é estudante de pedagogia. Ela mora com o marido, Marcos Vinícius Araújo, 33, engenheiro, e com as filhas Manoella, 5, e Rafaela, 3. Ter de trabalhar, estudar, cuidar das filhas e da casa deixou Bruna estressada.
Com muitas funções acumuladas, ela passou a reclamar. “Comecei a dar chilique, por que meu marido não lavava nem uma mamadeira”, conta Bruna. “Além disso, começamos a ter problemas financeiros, e a faxineira, que vinha duas vezes por semana, deixou de vir.”
O desgaste foi tão grande que Araújo se preocupou com a saúde emocional da mulher e percebeu que precisava assumir responsabilidades. “Acho que eu fiquei mal-acostumado, porque tínhamos a faxineira duas vezes por semana”, explica ele.
“Até que a Bruna surtou, e eu percebi que não tinha como uma pessoa cuidar de tudo sozinha. Estava pesado demais para ela”, afirma.
A família ainda se mudou de um apartamento para uma casa de três andares, e o tamanho da área foi outro problema, já que havia muito mais para limpar. “Teve um dia em que eu estava tão nervosa que a Manoella me viu chorando e me chamou para dizer que íamos conseguir organizar tudo e cuidar da casa. Fiquei sem fala”, conta Bruna.
A solução encontrada pela família, então, foi organizar e listar tudo o que precisava ser feito e dividir entre todos, incluindo as crianças. “Hoje, o Marcos leva a cachorra para passear duas vezes por dia, cuida das roupas, faz as compras de mercado e arruma nossa cama”, detalha Bruna.
As crianças ficaram responsáveis por guardar os brinquedos que tiram do lugar e por arrumar as próprias camas, além de pôr o uniforme da escola no cesto de roupas sujas. “Eu cozinho, passo roupa, tiro lixo e limpo a casa, mas voltamos a ter faxineira uma vez na semana. Sem ela não dava”, diz Bruna.
Além da manutenção da casa, é importante que os armários estejam em ordem. “Comece com uma gaveta e separe o que pode ser jogado ou doado”, diz Aline Dellavy, personal organizer.
Segundo a psicóloga clínica Dora Lorch, crianças que ajudam em casa hoje serão adultos responsáveis amanhã. “Elas aprendem a ser responsáveis e justas com os pais e com os futuros companheiros”, explica.
Para quem divide o lar com um amigo, compartilhar tarefas é fundamental. “Não há relacionamento que dure quando um faz tudo, e o outro, nada”, diz Dora. “Você briga uma, duas vezes. Não deu? A amizade acaba”, garante ela.
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