Daniela Beyruti admite 'ciúmes' de estratégia da Globo e diz que SBT será 'Disney brasileira'
Sucessora de Silvio Santos fala de novo domingo da emissora, planeja homenagear artistas da casa e quer fazer um parque temático; ela descarta a aposentadoria do pai, aos 93
Esqueça o terninho, a camisa branca e outras roupas de "mulheres de negócios" que altas executivas costumam trajar. Foi com uma camiseta de Snoopy e sua turma (desenho animado exibido pelo SBT nos anos 1980, aliás), que Daniela Beyruti, a filha 'número três' de Silvio Santos, posou para o F5 na última terça (18) em sua sala, na sede do canal, em Osasco (SP).
Vice-presidente do SBT desde o ano passado, Daniela, 47, concedeu sua primeira entrevista desde que virou a segunda pessoa na hierarquia da empresa fundada por seu pai, em 1981. Ela se animou a falar muito por causa das mudanças na emissora, principalmente em sua programação de domingo.
Sua irmã, Patrícia Abravanel, à frente do Programa Silvio Santos desde o afastamento do pai, em 2021, é parte das novidades. Não exatamente ela, mas o horário do dominical, que passará a ser exibido mais cedo, às 19h.
Quem também se beneficia é o Domingo Legal com Celso Portiolli, que passa a ter sete horas de duração. Celso irá incorporar parte do que Eliana fazia, como o quadro Minha Mulher Que Manda e o humorista Tiago Barnabé. "É a nossa mudança mais relevante neste dia em 15 anos. Domingo é nossa alma, foi a partir dele que começamos", diz Daniela.
A empresária admite ter ficado "com ciúmes" das recentes homenagens que Luciano Huck fez a estrelas do SBT (como Raul Gil), e até a seus descendentes, caso da "Batalha do Lip Sync" entre os filhos de Gugu e de Faustão. Daniela chegou a postar uma reclamação nas redes, afirmando que Huck (e a Globo) estavam "surfando na onda" de seu elenco. "Nossos artistas merecem ser honrados por nós. A gente percebeu isso", afirma. "Todos nós ficamos enciumados".
A executiva também explica por que não contratou ninguém para o lugar de Eliana, conta que Silvio às vezes demonstra interesse em voltar ao batente e diz que não pensa pequeno em relação ao futuro da emissora: "Quero que o SBT seja a Disney brasileira".
Patrícia Abravanel, sua irmã, está à frente do Programa Silvio Santos desde 2021. Ele não volta mais? Não posso falar que ele nunca mais vai voltar. Sabe por quê? Toda sexta a gente tem um tempo em família, e toda vez ele fala: 'Semana que vem tô lá, mas enquanto eu não tô, Patrícia, você tá cuidando do meu programa, né?'. Então, meu pai pode vir a qualquer momento. Se der na cabeça dele, ele vem.
Assim como 'deu na cabeça' dele reprisar um desfile antigo de Carnaval. [Na noite das campeãs de 2024, Silvio mandou reprisar no SBT o desfile de 2001, da escola carioca Tradição, que o homenageou] Exatamente. Ele estava vendo com a Rebeca a homenagem no YouTube, pensou no desfile das campeãs e disse: 'Vamos reprisar amanhã'. A gente aqui no SBT: 'Ai, meu Deus. O que a gente vai fazer?'. E foi isso, fizemos e colocamos no ar. Esse é o Silvio Santos.
Ele ainda interfere na programação de alguma maneira? Não, ele não tem feito isso. A gente tem conversado coisas mais abrangentes, sabe? Tipo, o que ele pensa sobre algo, sobre entretenimento, sobre o que as pessoas gostam. É uma coisa mais filosófica do que específica. A não ser assim, quando ele tira uma ideia da cartola e fala: 'Vamos fazer'.
Foi sua a decisão de dar mais tempo ao Celso Portiolli e à Patricia, com a saída de Silvio e a iminente mudança de canal de Eliana. Por que não contratou novos nomes? A primeira coisa que pensei quando a Eliana me disse os planos dela foi: 'O que colocar?'. Pensei em alguns nomes. Para ser sincera, eu achei uma pessoa que se encaixaria no nosso domingo. Acho que ela passa a nossa energia. Mas hoje ela é inviável. Não é do ramo da televisão, e sim da música.
Quem seria essa pessoa? Prefiro não dizer. Mas o que eu digo é que depois pensei: 'O Celso e a Patrícia estão honrando tanto o domingo...'
Os dois superaram suas expectativas? O Celso está levando o domingo super bem. A Patrícia tá levando o domingo super bem. Por que não deixar com eles? Eles têm honrado tanto a nossa camisa. Então, decidi apostar nessa dupla.
Como fica exatamente o domingo? O Celso Portiolli assume das 11h15 às 18h15, e antes da Patricia Abravanel tem o Roda a Roda repaginado, com a Rebeca Abravanel das 18h15 às 19h. Vai ter a volta da plateia, novo cenário. Vai ser bem oxigenado. E depois, a Patrícia leva até a meia-noite.
O Portiolli tem brigado pela liderança com o Luciano Huck aos domingos na faixa das 14h. Huck fez homenagens ao SBT, que parecem ter te incomodado. Você pretende fazer homenagens também? Sim. Homenagens dignas. A primeira que a gente vai mostrar mesmo vai ser agora (domingo, dia 23), a da Eliana. A produção da Patrícia fez um trabalho muito bonito, sabe? Contando a história dela aqui desde o começo. A gente tem um acervo muito rico para mostrar.
Você disse nas redes que a Globo e o Huck estavam "surfando na onda" do SBT com homenagens ao elenco da emissora, como o Raul Gil. Foi aí que te veio esse estalo de homenageá-los também? A gente percebeu isso na homenagem do Huck ao Raul Gil. Falamos assim: 'Poxa, a dança lá do filho do Gugu e do Filho do Faustão [em 2023, no programa de Huck] foi uma brincadeira legal, né?'. Deu muitas saudades do Gugu vendo o filho dele, porque lembra muito ele, lá do comecinho. Mas no Raul, pensamos: 'Poxa, a gente tem tanta história para contar. Por que não a gente homenagear os nossos artistas e colocá-los no lugar que merecem?'. Eu fiquei enciumada. Todos nós ficamos enciumados.
Você promoveu muitas mudanças no SBT no último ano. Por quê? Porque era necessário. Acho que a gente demorou um pouco para reagir depois da pandemia. Eu só escutava, era uma coisa que eu me irritava demais: 'ah, porque é digital isso, digital aquilo'. Meus filhos assistem ao Luccas Neto, por exemplo. Eu assisti a todos os filmes do Luccas Neto no Netflix e também assisti ao Lucas Neto no YouTube. Daí eu comecei a pensar: o que é legal no digital? O que as pessoas estão gostando de ver no digital? O que é a TV hoje? O que vai ser a TV do futuro? O digital nunca mais vai sair das nossas vidas, é um fato. E a TV é um fato. Acho que eles são totalmente complementares.
Artistas da internet estão no foco do SBT? Antigamente se achava muito artista no teatro e rádio. Hoje, você pode achar também na internet. Antes o filtro era menor, né? Os canais de acesso eram menores. Comecei a pensar em quem não tem. A gente herdou isso do meu pai. E quem não tem acesso à internet e ao streaming? E se a banda larga não for boa? Será que todo mundo assiste aos podcasts? Pensei: por que não trazer para a televisão? E fiz isso.
Esse avanço do digital junto com a perda de artistas, como a Eliana, não reforçariam a tese de que o SBT perdeu relevância? Eu não acredito nisso. Acho que a gente tem um lugar tão especial dentro do brasileiro. Porque a gente se conecta com ele. Antigamente, meu pai ia para as feiras comprar filmes e produtos e tinha sempre o vencedor do Oscar. Mas ele preferia o Homem Cobra, que dava 40 pontos de audiência. Então, enquanto a gente continuar com essa essência, esse relacionamento com os nossos telespectadores, vamos seguir relevantes. A gente é muito 'o povo na TV'. A gente gosta de mostrar o povo.
O SBT passou a chamar novela infantil de 'novela para a família'. Por quê? É novela que qualquer um pode assistir. Tem o enredo adulto e tem o enredo de criança, mas a gente percebeu que o nosso canal é o maior do YouTube, a gente sempre está nos top 10 do Netflix com nossas novelas. A parceria com a Amazon Prime Video foi maravilhosa, e eles ainda estão lá com os nossos títulos 'Poliana', 'Poliana Moça' e agora 'Romeu e Julieta'. A gente tem percebido que as nossas novelas são um conteúdo safe, sabe? É seguro. Eu tenho a referência da Disney. Quero que o SBT seja a Disney brasileira.
Mas em qual sentido? As pessoas nem perguntavam, nem queriam saber qual era o filme, qual era a série ou qual era o desenho. Era da Disney? Tá tudo certo. E eu acredito que o SBT tem isso. Minha meta é conquistar a vice-liderança isolada e consolidada. É uma meta. Mas eu gostaria muito de ser a Disney brasileira. Gostaria de ter parque temático. A longo prazo, penso bastante nisso.
Sobre a nova programação, qual sua avaliação? A Virginia Fonseca tem cumprido suas expectativas? Eu acredito na nossa grade, mas acho que ela vai precisar de ajustes, claro. Sabia que a nossa audiência não ia ser a jato. O Tirulipa foi uma grata surpresa, ele queria voltar para a TV e nos procurou com todo o conceito de circo. A Virginia foi engraçado. Me falaram que ela não queria ir para a televisão, estava milionária. Quando falei com ela, pronta para levar um não, ela disse: 'É meu sonho fazer TV!'. E ela me disse que amava o SBT, que via o Bom Dia e Cia, via desenhos. Acho a Virginia muito humilde, sincera, verdadeira.
Nos últimos anos, o SBT tem conseguido as suas maiores audiências com futebol. Vocês estão atrás de novos eventos? O sonho da nossa vida era ter futebol no SBT. Só que os direitos são muito caros. Muitas vezes a gente não conseguiu ter, não porque a gente não quis, porque a gente não podia. Foi o caso da Libertadores em 2022 com a Globo, eles cobriram nossa oferta. A gente quer tanto futebol que se ele se pagar, já é bom. O negócio é não dar prejuízo.
Vocês estão tentando o Campeonato Brasileiro em negociação agora? Sim, estamos. Estamos tentando tudo. E quando tiver a Libertadores de novo, nós vamos ficar ali também. Mas gostamos da Copa Sul-Americana. Aquela coisa que tava meio esquecida, caso da Sul-Americana. Nós temos esse histórico lá atrás. A gente faz do limão uma limonada, a gente coloca aquele tempero, porque combina. Sabe quando a coisa casa direitinho? Só que quando isso rola, daí vêm os outros e querem também.
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