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'Terra e Paixão': Esse Mato Grosso do Sul da novela é real?

Da senadora Soraya Thronicke à figurinista da Globo, moradores e especialistas falam sobre a representação da cultura do estado na novela

Caio (Cauã Reymond) e Antonio (Tony Ramos) em 'Terra e Paixão' - João Miguel Júnior/Globo
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São Paulo

"Terra e Paixão" é mais uma novela do filão "regional" da Globo, agora ambientada no interior do Mato Grosso do Sul. Saindo da abordagem rústica de "Pantanal" e entrando no mundo do agro, os aspectos culturais do estado permanecem como ponto importante e pauta de comentários nas redes.

Na ficção, a novela se passa em Nova Primavera. Na vida real, além dos estúdios Globo no Rio de Janeiro, ela é filmada entre Dourados e Deodápolis, cidades da região Centro-Sul e Sudeste do estado. Separadas por 80 km, são praticamente os mesmos aspectos culturais que pairam sobre as duas, mas Dourados é a que inspira Nova Primavera.

O que se vê na tela corresponde à realidade? O Mato Grosso do Sul que os espectadores de outros estados conhecem pela TV fazem sentido para quem é familiarizado e entende do assunto? O F5 ouviu opiniões de sul-mato-grossenses sobre como roupas, sotaque e a culinária local estão sendo representados na trama. Também foram ouvidas a figurinista da novela e especialistas em linguística, que comprovam ou rebatem as colocações dos espectadores.

FIGURINO

Algumas variações nos figurinos dos personagens podem deixar o público um pouco confuso. Antônio La Selva, personagem interpretado por Tony Ramos, por exemplo, usa jaqueta de couro no dia a dia. Já Aline (Barbara Reis) está invariavelmente de blusa de alcinhas, estilo verãozão, enquanto trabalha na plantação.

O mesmo acontece com outros personagens: em um mesmo dia da trama, as roupas parecem variar de estação e localização geográfica, mesmo estando todos no mesmo estado e na mesma época do ano.

Paula Carneiro, figurinista da novela, explica que as variações climáticas e as ocupações de cada personagem influenciam na escolha das roupas. "Nós partimos da ideia de que quem trabalha no campo, como a Aline, usa visuais mais acalorados. Quem trabalha em ambientes fechados, como o Antônio, usa roupas mais quentes".

SOTAQUE

A maioria dos moradores de Nova Primavera tende a falar com um sotaque considerado "caipira", evidenciando a letra R. Para Gel Faccina, professor da rede estadual de Ivinhema, cidade vizinha a Deodápolis, não é assim que se fala por lá: "Acho que o sotaque está errado, bem mais para o interior paulista".

O F5 também conversou com a senadora e ex-candidata a presidente Soraya Thronicke (União Brasil/MS), natural de Dourados. Ela se descreve como uma "douradense orgulhosa", e integrante de uma das famílias fundadoras da cidade.

Soraya explica que o município é conhecido como "capital do interior", existindo até uma rixa com a capital de fato, Campo Grande, e que os sotaques das duas são, na verdade, bem parecidos.

Além disso, Soraya destacou também a influência paraguaia e indígena: "Cidades da fronteira acabam misturando o espanhol, o guarani e o português", disse ela. Dourados fica a 120 km da fronteira com o Paraguai. Já pela parte dos povos originários, o Mato Grosso do Sul é o segundo estado com maior população. Cerca de 80 mil habitantes, representados por 8 etnias diferentes, vivem no estado, segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI/MS).

Para Manoel Mourivaldo Santiago-Almeida, professor titular e chefe do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo (USP), mesmo que toda novela regional busque evidenciar as características da área por meio do sotaque, este não precisa, necessariamente, ter verossimilhança absoluta: "Na maioria das vezes, há um certo exagero e a coisa pode ficar muito caricata. Imagino que de propósito".

O professor explica os aspectos técnicos da pronúncia: "A caracterização linguística fica mesmo na pronúncia do dito R caipira, o retroflexo, utilizado para situar o interior paulista, que faz sentido na maioria dos personagens de Terra e Paixão. O surgimento do R caipira tem a ver com história social da região centro-oeste a partir dos movimentos, entradas, bandeiras e monções partindo de São Paulo".

Ele confirma a teoria de Gel: "Não é exagero dizer que a caracterização linguística em Terra e Paixão seria a mesma se a novela fosse ambientada no interior de São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Espírito Santo".

COMIDA

Soraya Thronicke enumera as principais comidas típicas do Mato Grosso do Sul: "A sopa paraguaia (que é, na verdade, uma espécie de torta salgada de legumes), o arroz carreteiro, a chipa (uma variação da receita de pão de queijo mineiro) e o tereré (bebida gelada feita com infusão de ervas verdes)". Bingo. Este último é bastante consumido na novela, principalmente por Caio, personagem de Cauã Reymond -assim como era pelos peões de Pantanal... Está faltando sustança ao cardápio regional da novela das nove.

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