Televisão

Matheus Ribeiro, 1º âncora gay do JN, diz que não fez carreira baseada na sexualidade

Jornalista chega à nova casa e promete reformular DF Record: 'Desafio enorme'

O jornalista Matheus Ribeiro

O jornalista Matheus Ribeiro RecordTV Brasília/Divulgação

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São Paulo

O jornalista Matheus Ribeiro, 26, está de casa nova. Chegou à Record TV nesta semana e se prepara para estrear como apresentador e editor-chefe do DF Record, na próxima segunda-feira (4), com promessa de reformulação, bem ao seu estilo: dinamismo e interatividade com o telespectador, afirma ele.

A oportunidade vem depois de Ribeiro conquistar seu lugar na história do maior telejornal do país, ao se tornar o profissional mais novo a ocupar a cadeira de âncora do Jornal Nacional (Globo). Mas o que ganhou as manchetes na ocasião foi o fato de ser o primeiro jornalista assumidamente gay a ocupar a função.

Segundo Ribeiro, que atuava na TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiás, a decisão de tornar pública sua orientação sexual não foi bem sua, mas sim dos sites de fofoca que começaram a vasculhar seu perfil nas redes sociais após ele ser anunciado como um dos âncoras do rodízio de comemoração pelos 50 anos do telejornal –celebrado em setembro de 2019.

“Eu nunca tive motivo para me envergonhar de quem sou, das escolhas que faço ou das situações que vivo. Por isso, ainda que seja minha vida pessoal, eu decidi assumir a autoria dessa história. Postei uma foto com meu namorado e pronto! Mas nunca fui eu que coloquei em debate ou tentei me promover em cima disso.”

Fato é que Ribeiro recebeu muito apoio e elogio por assumir sua sexualidade, mas também muita crítica. Uma suposta carta de funcionários de sua nova casa direcionada à diretoria do DF Record apontou que sua “única relevância curricular é a sua orientação sexual”. Eles protestaram contra a demissão de um colega.

O jornalista, no entanto, contesta essa ideia de que foi beneficiado por ter se assumido gay. “Eu sou um homem de 26 anos, trabalhador, que veio de uma família pobre do interior de Goiás, tudo que eu construí na minha carreira e que construo na minha vida é baseado em muito estudo, em muita dedicação.”

​Antes de trabalhar na Anhanguera, Ribeiro, que é natural de Piracanjuba (GO), trabalhou nas TVs universitárias da UFG (Universidade Federal de Goias), onde se formou, e da PUC, antes de trabalhar na Band, onde fez sua primeira grande cobertura, sobre o serial killer de Goiás. "Fui o primeiro repórter a entrevistar esse sujeito", recorda.

“Eu não construí minha carreira baseada na minha sexualidade”, continua ele. “Enquanto milhões de pessoas sofrem preconceito por serem homossexuais, seria até contraditório e uma fuga da realidade dizer que eu me privilegio da minha sexualidade para construir minha carreira. Pelo contrário.”

Apesar do vazamento da carta feito pelos funcionários da Record, Ribeiro afirma que está tendo a melhor recepção possível na emissora. “A postura que tenho observado aqui na emissora tem sido muito legal. Acho que eu nunca fui tão bem recebido numa casa, como aqui na Record”, afirma ele.

Segundo foi informado por alguns sites, a equipe da Record em Brasília teria protestado contra a demissão de Luiz Carlos Braga, 58, antigo âncora do DF Record, que foi dispensado após 12 anos na emissora. Ribeiro, porém, afirma que não tem conhecimento de que essa suposta carta tenha chegado à chefia local.

“Obviamente, eu entendo o fato de uma demissão gerar algum sentimento de solidariedade em alguns colegas, mas de forma alguma isso me colocou numa situação constrangedora, numa situação de me sentir mal recebido. Pelo contrário, isso não condiz com a realidade que eu tenho vivido aqui na emissora.”

REFORMULADO

Além da boa recepção, Ribeiro afirma que está muito feliz pela oportunidade de reformular e dar a sua cara ao DF Record. Segundo ele, que chegou oficialmente à emissora na última segunda (27), a equipe toda está vivendo uma correria para deixar tudo pronto para a próxima segunda (4), quando estreia no ar.

“É reunião pra pensar cenário novo, pra mudar identidade visual, figurino... Está sendo um desafio enorme, não só apresentar, mas também ser o editor-chefe do jornal, foi um voto de confiança da casa. Acho que me sinto não só animado, mas também com uma responsabilidade muito grande”, avalia Ribeiro.

Algumas coisas, no entanto, já estão definidas. A bancada do DF Record deve dar lugar à apresentação em pé, para dar mais dinamismo, enquanto a interatividade com o telespectador deverá aumentar. Importante para Ribeiro, que chegou a reclamar da falta de liberdade nas redes quando estava na TV Anhanguera.

"Essa interatividade é um caminho sem volta", afirma ele, que também comemora a mudança para Brasília num momento tão importante politicamente: "Eu me sinto muito realizado. Esse é um momento em que os olhos do brasileiro estão tão voltados para a capital."

“Hoje [quarta, 29] eu comecei a pesquisar apartamento, parece que é uma novela boa que começa. Estou gostando muito dessa oportunidade de estar na capital do país, que é essa cidade vibrante, uma cidade onde as notícias acontecem num ritmo e de uma forma diferente de como acontecem em Goiânia.”

GRATIDÃO ENORME

Em lua de mel com a Record, Ribeiro parece ter conseguido na nova casa suprir algumas das reclamações apontadas quando deixou a TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiânia, como a liberdade para interagir com seus seguidores em redes sociais e manter suas empresas de marketing e mídia.

Na ocasião, vazou à imprensa uma carta do jornalista aos seus chefes, em que ele declarou não concordar com certas condutas da empresa de comunicação. “Me proibir de fazer uma live para conversar com meus amigos e bater papo com os seguidores beira a censura, desmotivada”, chegou a dizer ele.

"O fato de aquela mensagem ter vazado não significa de forma alguma que haja uma magoa em relação a tudo que eu vivi. Muito pelo contrário. Tenho um sentimento de gratidão enorme, foram anos incríveis e o que eu trago no peito é somente alegria e satisfação”, diz ele, que ficou quase seis anos na emissora.

Mas, com a Record, o jornalista afirma que fez “algumas pontuações” na negociação, que deixaram tanto ele quando a emissora “em uma situação confortável”. Segundo ele, seus seguidores podem contar com novas interações e suas empresas continuarão funcionando normalmente.

Apesar disso, Ribeiro diz que não estava procurando a nova oportunidade. Após a demissão, ele pretendia dar um tempo da televisão, se dedicar a outros projetos, mas poucos dias depois surgiu o convite: “Eu pude ver que amo fazer e me dedicar ao jornalismo de televisão. É uma oportunidade incrível”.

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