No dia 24 de abril, a RecordTV anunciou a contratação do jornalista Matheus Ribeiro, 26, para apresentar o DF Record, telejornal local exibido no horário nobre da emissora, às 19h10. Horas após o anúncio, alegando contenção de despesas, a emissora comunicou que Luiz Carlos Braga, 58, antigo âncora do noticiário, seria dispensado.

Após a decisão do canal, veio a público uma carta aberta enviada pela Redação de jornalismo da RecordTV Brasília à diretoria da emissora em solidariedade a Braga, segundo a colunista Fábia Oliveira, do jornal O Dia. Nela, entre outras coisas, os funcionários reclamam da empresa ter trocado um jornalista com 30 anos de carreira e "ilibada reputação" por alguém "cuja única relevância curricular é a sua orientação sexual".

Braga estava na emissora havia 12 anos e se dividia entre as funções de editor-chefe e apresentador do DF Record. Antes de ser demitido, ele foi convidado para ser comentarista do Jornal da Record, em Brasília, mas no mesmo dia foi informado que seria afastado de suas funções.

Matheus Ribeiro ficou conhecido nacionalmente ao ser o primeiro jornalista assumidamente homossexual a ocupar a bancada do Jornal Nacional. Ele e mais 26 apresentadores — um de cada estado do Brasil e, também, do DF — foram escalados para ficar a frente do noticiário em 2019, ano no qual a atração completou 50 anos.

No início do mês de abril, Ribeiro, que ocupava havia quatro anos a função de âncora da segunda edição do Jornal Anhanguera, pediu demissão em uma troca de emails com a chefia. Nas mensagens declarou não concordar com certas condutas da empresa de comunicação e nem com seu salário.

Procurada, a RecordTV não se manifestou sobre o assunto.

Leia a carta na íntegra:

"Nós, da Redação da Record Brasília, viemos por meio desta carta manifestar irrestrito apoio ao jornalista Luiz Carlos Braga, arbitrariamente desligado da emissora por ordens superiores. A diretoria desta casa optou por escantear uma carreira de três décadas e ilibada reputação, além de incontáveis prêmios, em prol de uma contratação cuja única relevância curricular é a sua orientação sexual.

Antes de ser desligado, Braga havia sido convidado para o posto de analista do Jornal da Record. E, sem nenhum motivo justificável, o convite virou uma demissão unilateral. O motivo? Suposta redução de custos. Algo que, claramente, não condiz com a realidade, tendo em vista as mudanças que se avizinham. Essa Redação, em grande parte, teve o privilégio de conviver com Luiz Carlos Braga por doze maravilhosos anos.

Perde a emissora, ao trocar o certo pelo duvidoso, e perdemos nós. Perdemos o convívio de alguém respeitoso, atencioso, leal e de caráter e reputação ilibadas.Braga nunca precisou de atenção midiática para ter relevância e nunca usou de sua orientação sexual para benefício próprio. Nada temos contra o novo apresentador do DF Record. Mas temos, e muito, a reclamar da maneira inadequada da qual um dos profissionais mais prestigiados da história do telejornalismo do Distrito Federal foi desligado.

Luiz Carlos foi trazido a RecordTV enquanto gozava de grande prestígio na Rede Globo como apresentador do Bom Dia Brasil, no qual esteve à frente por dois anos. Na emissora carioca também fez parte da equipe do dominical Fantástico."