Televisão

Novela 'Vale Tudo' deixa canal Viva na liderança entre as TVs pagas

Novela faz sucesso ao debater temas atuais, como a corrupção

Odete Roitman (Beatriz Segall) e Celina (Nathália Timberg) em cena da novela 'Vale Tudo', de 1988 - Folhapress
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Descrição de chapéu Agora
Karina Matias
São Paulo

Crise, falta de emprego, desesperança, corrupção. Esse era o clima do Brasil em 1988, quando foi ao ar, pela primeira vez, a novela “Vale Tudo”, um dos grandes sucessos da Globo. Hoje, 30 anos depois e em sua terceira reprise (a segunda no canal Viva), a trama assinada por Gilberto Braga volta a ser líder de audiência, desta vez entre as TVs pagas, no horário da 0h30 à 1h20.

Para especialistas em televisão, o fato de abordar temas que continuam tão atuais no Brasil, como o desemprego e a falta de ética, é um dos motivos para explicar o interesse do público pela novela.
“Estamos em um tempo de questionamentos políticos e sociais, e ‘Vale Tudo’ faz uma reflexão sobre isso”, afirma Elmo Francfort, diretor do Instituto Memória da Mídia.

Ele destaca também que a trama marcou uma geração ao apresentar personagens icônicos, como a inesquecível vilã Odete Roitman –papel vivido pela atriz Beatriz Segall, que morreu no último dia 5. “Ela virou referência e ficou no imaginário do telespectador.”

Para a atriz Renata Sorrah, que fez a filha de Odete, a alcoólatra fragilizada Heleninha Roitman, 'Vale Tudo' é a melhor novela que já foi escrita na TV brasileira. “Ela soma uma série de pontos positivos, como discutir assuntos pertinentes ao público e que, infelizmente, continuam atuais, como a corrupção e a desonestidade. Ao mesmo tempo, procurava esclarecer e mostrar uma luz, uma saída.”

Índices econômicos apontam um cenário nacional ainda pior do que o daquela época. Em 1988, a média anual de desemprego era inferior a 5%. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referentes ao segundo trimestre deste ano apontam agora índice de 12,4%.

“Vemos um país em que a corrupção toma conta, e a injustiça impera. Daí percebo que o momento atual repete o passado”, analisa o florista e decorador Roberto Rabello, 35, fã da trama. Para ele, outro destaque é a trilha sonora de abertura, com “Brasil”, de Cazuza, na voz de Gal Costa. “Ela já dá o tom do que veremos na TV. É uma novela que nos faz refletir sobre o país que queremos para o futuro.”

NOVELA ABORDOU TEMAS POLÊMICOS

No papel da frágil e problemática Heleninha Roitman, Renata Sorrah conta que teve um grande retorno do público. “Recebia muitas cartas de pessoas alcoólatras me agradecendo por tê-las ajudado. Elas contavam que procuraram o AA [Alcoólicos Anônimos] inspiradas na minha personagem”, diz.

Mesmo 30 anos após a primeira exibição, Sorrah ressalta que o público ainda se lembra de Heleninha, mas de outra forma. “Virou sinônimo de quando querem sair para beber e se divertir.”

Apesar de retratar um momento que continua atual no país –como o cenário de crise e desesperança–, a atriz acredita que o Brasil evolui em outros assuntos, como ao dar maior visibilidade para casais homossexuais na TV.

“Na época, páginas e páginas sobre o casal de lésbicas [Cecília e Laís, interpretadas pelas atrizes Lala Deheinzelin e Cristina Prochaska, respectivamente] eram censuradas. Isso não acontece mais e, felizmente, foi uma evolução.”

Na trama, Cecília morre em um acidente de carro. Segundo o autor Gilberto Braga, a morte já era prevista e não foi uma resposta à reação do público. A ideia era incentivar a discussão sobre o fato de Laís não ter direito à pousada que as duas construíram juntas, já que a união entre homossexuais não era legalizada no Brasil na época.

REPRISES SEMPRE DERAM AUDIÊNCIA

Em sua terceira reprise, “Vale Tudo” é transmitida em dois horários no canal Viva: das 15h30 às 16h20, quando fica em segundo lugar em audiência na TV paga; e da 0h30 à 1h20, quando alcança a liderança.

Em 2010, quando passou pela primeira vez no canal pago, a trama também era sucesso. “Vale Tudo” foi reprisada pela primeira vez na Globo, em 1992, no “Vale a Pena Ver de Novo”, à tarde.

Quando foi ao ar em 1988, conquistou um dos maiores índices de audiência da TV nacional, com média de 68 pontos e picos, no fim, de 86 _os números, que são atualizados ano a ano pelo Ibope, correspondem às estimativas populacionais da época.

O decorador e florista Roberto Rabello, 35 anos, lembra que era criança quando viu “Vale Tudo” pela primeira vez. “Tinha acabado de chegar a televisão na minha casa. Eu não tinha acesso a arte ou cultura, e a novela foi meu primeiro contato com esse meio.”

Para ele, o grande trunfo da trama é a identificação que o público tem com os personagens. “Quando vejo como a Odete Roitman [Beatriz Segall] trata mal os empregados e manipula a vida dos filhos, me dou conta de que conheço pessoas iguais. Ao mesmo tempo, a Raquel, vivida pela Regina Duarte, mostra o perfil do brasileiro guerreiro e honesto. Esse paradoxo dos personagens é incrível.”


Veja momentos marcantes de “Vale Tudo”

Golpe na mãe Logo no início da trama, após a morte do avô, Salvador (Sebastião Vasconcelos), Maria de Fátima (Glória Pires) vende a casa em que a família morava, em Foz do Iguaçu (PR), pega todo o dinheiro e vai para o Rio. A mãe, Raquel (Regina Duarte), só descobre o que a filha fez quando chega em casa

Não te conheço Já no Rio, Raquel começa a vender sanduíche na praia e encontra Fátima tomando sol com Solange (Lídia Brondi). A filha vira a cara para a mãe e finge que não a conhece

Detesta brasileiro Em sua primeira cena, Odete Roitman ( Beatriz Segall) liga para Celina (Nathalia Timberg) anunciando sua volta ao Brasil e lança algumas de suas frases preconceituosas, que se tornariam sua marca: “Você reserva para mim a suíte presidencial de um desses hotéis limpinhos aí. De preferência que não tenha um bando de mendigos na porta tentando agarrar a gente. Por favor, avisa na portaria que eu de-tes-to ter brasileiros de outros estados passando na porta do meu apartamento falando português. Quanto menos eu ouvir falar português, melhor!”

Ficou sem Raquel descobre as armações da filha e a encontra experimentando o vestido de noiva para se casar com Afonso (Cássio Gabus Mendes). Nervosa, Raquel parte para cima da filha e rasga o vestido, gritando: “Eu odeio você”

Escadaria abaixo Grávida do amante, César (Carlos Alberto Riccelli) Fátima se joga das escadarias do Theatro Municipal do Rio ao descobrir que seu marido é estéril

Por engano O assassinato de Odete Roitman mobilizou o país e só foi resolvido no capítulo final. A cena foi gravada no mesmo dia da sua exibição, 6 de janeiro de 1989. Foi  Leila (Cássia Kiss) quem matou a milionária: por engano 

Banana para vocês Corrupto, preconceituoso e debochado, Marco Aurélio (Reginaldo Faria), no último capítulo, foge em um jatinho particular e faz um gesto em cena que se tornaria um clássico da teledramaturgia brasileira 

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