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Música
Descrição de chapéu Opinião - Vitor Moreno

Lollapalooza 2024 fez público chafurdar na lama e mereceu o apelido de Lamapalooza

Chuva e tempo ruim não deveriam ser desculpas para falta de estrutura e desorganização

Lamaçal durante o segundo dia de Lollapalooza, neste sábado (23), no Autódromo de Interlagos
Lamaçal durante o segundo dia de Lollapalooza 2024, no sábado (23) - Lucas Brêda/Folhapress
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São Paulo

Ser comparado a Woodstock, o lendário evento que reuniu atrações como Janis Joplin, The Who e Jimi Hendrix no auge da contracultura e da geração sexo, drogas e rock 'n' rol, deveria ser um elogio para qualquer festival. Desde que a analogia seja pelos motivos certos.

Não foi o caso do Lollapalooza 2024, que terminou no domingo (24) após três dias de shows com nomes como Blink-182, Kings of Leon e Sam Smith. O evento, realizado no autódromo de Interlagos (zona sul de São Paulo), lembrou, em alguns momentos, as cenas dos jovens hippies que se jogavam na lama da fazenda a 65 km da cidade de Bethel, no estado de Nova York, em 1969.

A diferença é que não vi ninguém se jogando de propósito. Já gente derrapando sem querer vi aos montes. Tem até um compilado circulando nas redes sociais com os dez melhores escorregões do Lamapalooza (sim, um apelido que o festival carrega há anos e que infelizmente faz jus ao que vi no local).

Estive no Lolla no sábado (23) a convite de uma amiga. Não tinha nenhuma banda que eu estivesse superempolgado para ver —foi-se o tempo em que eu conhecia a maior parte do line up do festival, que sempre apostou em atrações indies e mais nichadas que a farofa pop do Rock in Rio, por exemplo.

Mas esperava ter uma experiência bacana cantando a plenos pulmões no show de alguma banda de quem eu soubesse um par de letras ou mesmo conhecendo novos nomes de quem só tinha ouvido falar. Só de não estar de plantão ou ali trabalhando, como jornalista, já estava de ótimo tamanho.

Ir a um festival envolve um certo grau de perrengue, todo mundo sabe e entende (ou deveria). Vai ter muita gente? Vai. Vai ter fila pra tudo? Com certeza. O banheiro vai estar em condições insalubres? É bem provável. Quer ver algum show bem de pertinho, colado na grade? Chegue cedo e fique lá sem poder ir comprar uma água porque se sair não tem como voltar. Normal, dentro do esperado.

O que eu não esperava era ter que chafurdar num mar de lama (e quem dera isso fosse uma metáfora) para conseguir me locomover de um lado para o outro. Ou ter que procurar o lugar em que ficar parado não significaria submergir até a metade da canela. Ou precisar dançar sem tirar os pés do chão no histórico show de despedida da turnê que reuniu os Titãs para que a sujeira ficasse só na bota.

No trem para casa, parecia que o vagão estava transportando uma equipe de rugby pós-partida ou o núcleo cômico de alguma novela rural do Walcyr Carrasco. E a minha calça, que até então tinha aguentado razoalvemente ilesa pela proteção da capa de chuvas e do meu TOC, ganhou manchas no formato do pé de uma moça que dormia com a cabeça no ombro do namorado.

Nada que a máquina de lavar não resolva —as botas ainda vou pesquisar um tutorial no YouTube para saber como recuperar. No meu caso, fica só a pergunta: se a chuva já estava prevista e vinha sendo anunciada desde o começo da semana, não tinha nada que pudesse ser feito? Por que não aumentar os trechos com piso sintético e facilitar a vida de todo mundo? Faz parte da experiência?

Chuva e tempo ruim não deveriam ser desculpas para falta de estrutura e desorganização. Vale para as prefeituras, que não resolvem os problemas nos locais em que todo mundo sabe que todo ano alaga, vale para o megafestival que cobra a partir de R$ 550 por dia ou R$ 700 pelo pacote (em ambos os casos, os valores são da meia entrada).

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