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Música
Descrição de chapéu The New York Times

Sucessos de Britney Spears compõem musical festejado por fãs na Broadway

Direção do espetáculo, porém, teme que cantora faça algum comentário que espante as pessoas das salas

Fãs se divertem no musical 'Once Upon a One More Time', em Nova York - NYT
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Julia Jacobs
The New York Times

O autor do libreto de "Once Upon a One More Time", um musical estilo jukebox [em que todas as músicas são canções populares conhecidas, e não composições originais] inspirado em Britney Spears que estreou na Broadway na noite de quinta-feira (22), sempre relembra um momento de cinco anos atrás, quando Britney se sentou num teatro de Manhattan algumas fileiras à frente dele e assistiu a uma leitura inicial do show.

"Eu estava observando Britney e imaginando: ‘Será que ela vai gostar disso?’", disse recentemente o autor, Jon Hartmere, lembrando o alívio que sentiu quando viu Britney sorrir ou aplaudir junto quando uma de suas canções era cantada no palco. "Foi pura alegria."

"Once Upon a One More Time" é uma paródia de conto de fadas que evita a fórmula comum do musical biográfico e em vez disso foca um elenco de princesas da Disney desiludidas e protagonistas de contos de fadas. É o mais recente de uma longa sequência de "jukebox musicals" baseados no catálogo de artistas como Frankie Valli and the Four Seasons, Michael Jackson e Tina Turner e as Tempations a tentar alcançar o ouro nas bilheterias.

Com uma tracklist repleta de sucessos como "Stronger", "Toxic" e "Circus", o musical tem o potencial de fazer sucesso enorme, mas também enfrenta desafios singulares. Concebido originalmente quando Britney estava sob uma tutela que dava a seu pai controle enorme sobre sua vida, a produção garantiu aos fãs que o show foi plenamente autorizado pela própria popstar depois de ela ter sido liberta da curatela.

Mas não está claro até que ponto sua base de fãs ferrenhos vai aderir ao musical. Britney Spears tem 41 anos e é conhecida por fazer posts não filtrados ou imprevisíveis nas redes sociais. Provavelmente bastará um comentário dela para o musical ou conquistar ou perder esse público.

Fãs dentro e fora da produção acompanham constantemente a superativa conta de Instagram de Britney para ver se ela posta alguma opinião sobre o musical (isso ainda não aconteceu). E os membros do elenco e da produção têm procurado assegurar internamente que os lucros do show beneficiem à própria Britney, e não seus ex-empresários ou seu pai, James Spears, que foi nomeado seu responsável em meio a preocupações com a saúde mental dela e então passou a controlar sua vida pessoal e financeira por mais de uma década, enquanto ela continuava a se apresentar.

"Como artistas, queremos que ela possa continuar a tomar suas próprias decisões e viver a vida do jeito que ela esperava viver", disse Keone Madrid, que dirigiu e coreografou o musical com sua esposa e parceira criativa, Mari Madrid. "Todos nós queremos honrar o trabalho dela."

Hunter Arnold, um dos produtores do musical, disse que Britney assinou o contrato ela própria depois de a curatela ter sido revogada e que ninguém mais em seu entorno atual tem qualquer acordo para receber uma parte dos lucros.

A estreia do musical acontece num momento em que a vida de Britney continua a ser tema de fofocas. Desde que o arranjo legal foi encerrado, Britney anunciou seu casamento com Sam Asghari, algo que disse que não havia podido fazer sob a curatela, e voltou rapidamente para a indústria musical, lançando uma faixa com Elton John. A batalha judicial sobre o fechamento da curatela segue adiante em Los Angeles. Os advogados de Britney fizeram objeções a alguns aspectos da contabilidade feita durante os anos.

Dentro da produção, o desejo de agradar a Britney às vezes leva as pessoas a se agarrar às poucas informações que chegam aos pingos de representantes de uma megaestrela que protege sua privacidade.

Britney gosta de contos de fadas? O musical é baseado em um mundo em que Cinderella, Branca de Neve e Rapunzel são amigas. Britney curte borboletas? A produção fez adereços de borboletas e criou algo que parece holofotes em formato de arco-íris de borboleta, debaixo do qual as pessoas podem posar para fotos na entrada do teatro. "O espírito do show sempre foi atender aos desejos dela", disse Hunter Arnold.

Devido às revelações sobre como o pai da cantora e a firma que administrava seus negócios haviam se beneficiado financeiramente da curatela, a estrutura financeira do musical é algo que alguns fãs têm examinado de perto.

Inicialmente, documentos do final de 2019 citavam uma firma chamada Shiloh Standing, Inc., aberta pelo pai de Britney pouco após a criação da curatela, e que teria direito a 7,5% dos lucros líquidos da produção. Larry Rudolph, o antigo empresário de Britney, também estava previsto para receber dinheiro, incluindo um honorário de US$ 30 mil de produtor executivo, mais US$ 1.500 por semana.

Mas os planos para uma temporada rápida em Chicago em 2020 e posterior transferência do musical para a Broadway foram abandonados devido à pandemia. O musical foi suspenso, e durante esse período o mundo de Britney Spears se transformou. Leslie Papa, um porta-voz da produção do musical, disse que o contrato de Britney foi negociado e assinado em 2022, após o término da curatela, e prevê que os pagamentos sejam encaminhados diretamente para ela.

Arnold disse que Britney tem uma participação nos royalties do show e um acordo de direitos subjacentes, que teria sido redigido em reconhecimento pelo papel dela na popularização das músicas, embora boa parte dos direitos sobre as canções pertençam a outros letristas e produtores musicais. Ele se negou a dar detalhes mais específicos sobre a estrutura de pagamentos a Britney, e essa informação ainda não consta de documentos oficiais.

Segundo uma cópia de um orçamento feito em 2022 para um musical da Broadway que foi compartilhado com o New York Times por uma pessoa não autorizada a falar da produção, o adiantamento pelo acordo de direitos subjacentes ligado ao show foi de US$ 80 mil. Arnold destacou que, com espetáculos que fazem sucesso na Broadway, os royalties muitas vezes superam rapidamente o valor dos adiantamentos iniciais.

Algumas das maiores contas de mídia social ligadas ao movimento para acabar com a curatela, conhecido como #FreeBritney, disseram pouco até agora sobre o musical, em contraste com a empolgação dos fãs com a colaboração de Britney com Elton John.

Mas muitas das pessoas que compraram ingressos para as pré-estreias do musical no Marquis Theater se descreveram como fãs devotos de Britney e reagiram vibrando às muitas referências que o show faz à popstar, incluindo um trechinho da coreografia original de "Oops! … I Did It Again" que tende a levar a plateia ao delírio. Como eles passaram o início da adolescência absorvendo as danças de Britney na MTV, Keone e Mari Madrid se consideram "extensões naturais de Britney e de seu trabalho".

"A música dela sempre esteve presente em minha vida de um jeito ou outro", disse Mari Madrid.

Essas referências são como uma piadinha para quem está por dentro, mas que a maior parte do público parece entender. O público não ouve a palavra "Britney" durante o musical inteiro –é apenas no final que a frase de abertura mais famosa da popstar sai dos alto-falantes: "It’s Britney, bitch". Nenhum dos produtos oficiais de merchandising do show traz a imagem de Britney, mas uma sacola que está vendendo muito bem proclama: "It’s Broadway, bitch".

Nelson Saavedra Jr., dono da página #FreeBritney no Reddit, optou por apoiar o musical e já assistiu a duas apresentações de pré-estreia. Ele destaca que qualquer opinião que Britney venha a manifestar diretamente vai influenciar sua própria opinião sobre "Once Upon a One More Time".

"Britney assinou esse contrato depois de estar livre, então vamos passar para frente e aceitar que o que está sendo dito representa a realidade", disse Saavedra. "É claro que isso mudaria amanhã mesmo se ela dissesse ‘por favor não vá ver essa peça’."

Os espectadores podem pensar que o tema central do musical –um grupo de donzelas famosas em situação de perigo que assumem o controle de sua própria vida—é alguma metáfora representativa de como Britney se libertou da curatela. Mas Hartmere disse que os paralelos não passam de coincidência.

"É uma história sobre mulheres aprendendo o que devem e podem receber da vida", disse Hartmere. "A história sempre foi essa."

Para Hartmere, a lembrança de Britney assistindo àquela apresentação inicial do musical provoca certa ansiedade. E se ela ficar decepcionada porque algumas canções não entraram para o musical? Os criadores não conseguiram encontrar uma maneira de fazer a letra picante de sua faixa "Clumsy", de 2016, ser apropriada para crianças, então a canção foi cortada.

No momento, os criadores só esperam que Britney resolva assistir a uma das apresentações. Mas eles admitem que a possibilidade de isso acontecer ou não é uma incógnita.

Tradução de Clara Allain

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