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Música
Descrição de chapéu

Show apoteótico dos Titãs inaugura temporada de celebração dos 40 anos de tudo o que importa dos anos 1980

Para a geração das pessoas nascidas nos anos 1970, só uma coisa a dizer: pre-pa-ra!

Branco Mello, Tony Bellotto e Paulo Miklos em ação: hit atrás de hit para uma plateia extasiada - Van Campos / AgNews
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São Paulo

Uma vez saiu escrito em algum lugar que o gosto musical de uma pessoa é "cimentado" no cérebro por volta dos 14 anos. Claro que todo mundo evolui muito depois dos 14 anos, mas é com essa idade que o que faz as pessoas levantarem da cadeira e irem para a pista, seja ela de um casamento, de um clube ou de estádio de futebol, e cantar aos berros, dançar como se não tivesse ninguém olhando e, se bobear, de olho fechado e mãos para o alto, vai fazer pelo resto da vida.

Ou, se sua vida encaretar demais e não for adequado se comportar dessa maneira, vai ter que segurar aquele cavalo doido da tentação e fazer isso sozinho, em casa, provavelmente no chuveiro.

Mas isso, ufa, não aconteceu com nenhuma das 50 mil pessoas que lotaram o estádio do Palmeiras na noite deste domingo (18), no terceiro e por enquanto último show paulistano dos Titãs nessa turnê de reencontro da formação original, com duas horas e meia de hit atrás de hit.

Desde a entrada dos sete músicos no palco, uma imagem clássica instantânea, que estampou até a capa da versão impressa da Folha nesta segunda-feira, 19/6, só com as silhuetas de Nando Reis, Sérgio Britto, Arnaldo Antunes, Charles Gavin, Branco Mello, Tony Bellotto e Paulo Miklos iluminados por trás, em cima de uma escada de ferro imensa, ficou evidente que aquele seria um show de rock estilo superprodução.

E foi. E não só pela trilha espetacular. O cenário, com telões gigantescos que alternavam imagens dos músicos em ação com outras em movimento que complementavam ou contrastavam com os temas das canções, foi dos mais espetaculares e bem feitos e lindos e arrebatadores que eu já vi. E olha que eu sou dos anos 70, já vi muito show de rock de banda rica.

Que U2 que nada. Rolling Stones, Coldplay, pode incluir a banda que quiser, pode até ser que alguma pegue um segundo lugar com louvor, mas, até o último domingo à noite, o show de rock mais lindo da minha vida foi esse dos Titãs.

Eu nem era tão fã assim da banda, sempre achei meio enciclopédica a maneira como eles faziam suas músicas de protesto. Me parecia que tinham saído de uma lista feita como uma lição de casa de tudo que aqueles meninos bem-nascidos e malcriados eram contra: família, igreja, capitalismo, desigualdade social, casamento, monogamia, carreira.

Mas, entre aqueles oito garotos insolentes (que agora são sete, depois da morte precoce e trágica do guitarrista Marcelo Fromer, em 2001), tinha pelo menos dois músicos e letristas geniais: Arnaldo Antunes e Nando Reis. Não é por acaso que são os dois músicos que têm carreiras solos mais relevantes depois de saírem da banda.

Arnaldo, aliás, tem a genialidade de não ficar preso a nenhum estereótipo, seja ele de estilo de dançar, cantar ou se vestir. Enquanto todos os seus colegas se vestiram com variações de roupas pretas, cinzas e brancas, jeans rasgados, tênis All Star ou botas de cano alto, estampas de caveira no blazer de Paulo Miklos e nas luvas de Branco Mello, quadriculado na jaqueta de Sérgio Britto, Arnaldo Antunes entrou no palco de caftan vermelho estampado sobre uma calça preta.

E voltou do camarim na segunda parte do show com outro figurino, uma calça solta de veludo molhado vermelho sangue e uma jaqueta sem gola cor de vinho. E não porque vermelho é a cor mais punk, mas porque Arnaldo é muito maior que os Titãs, e esse reencontro era uma celebração, não uma montagem teatral. Não precisava ninguém botar figurino de roqueiro.

Também não precisava pedir para o público bater palma ou cantar junto, estava todo o mundo dando tudo de si naquele estádio. Mas deve ser irresistível. A emoção deles era tão evidente, quase palpável, que assistir àquele show foi muito como ter participado dele. E hoje, imagino, devo estar me sentindo como muita gente que lotava aquele estádio do Palmeiras naquela noite gelada: com dor na lombar, rouca, exausta e com a alma lavada.

PS – Esse não foi um show de comemoração dos 40 anos dos Titãs, pois, como o Tony Bellotto contou no camarim, os Titãs se formaram em 1984. Mas Malu Mader, mulher dele que também estava lá, uma das imagens que mais representam os anos 80, assim como os Titãs, o Legião Urbana, o Ira!, o Barão Vermelho, a peça Feliz Ano Velho, a campanha das Diretas Já, não aconteceu antes de 1983. Era como se a década de 80 não tivesse um rosto, um jeito, antes daquele ano. Então, meus amigos, minha gente, turma que estava de olho aberto e coração pulsando nos anos 80: prepara, porque aquilo tudo que a gente viveu ainda há de pintar por aí.

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