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Música
Descrição de chapéu The New York Times

Como Myke Towers se tornou um dos colaboradores mais desejados da música latina

Parceiro de Anitta, rapper explora suas diversas estéticas no recém-lançado 'La Vida Es Una'

O rapper Myke Towers posa para retrato em Miami - Ysa Pérez/The New York Times
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Cat Cardenas
The New York Times

Myke Towers (no Brasil mais conhecido pela parceria com Anitta e Cardi B em "Me Gusta") poderia dizer que nunca soube que um dia se tornaria um grande sucesso, mas não seria verdade. Porque em 2014, seis anos antes de o rapper lançar seu disco de estreia, quando ele estava se preparando para um show decisivo em sua cidade natal, San Juan, em Porto Rico, decidiu que fracassar não era uma opção.

"Porto Rico tem a audiência mais difícil de agradar", disse ele este mês, em uma conversa por vídeo, de um quarto de hotel em Miami, algumas semanas antes do lançamento de seu novo álbum, "La Vida Es Una" (o título é um lembrete de que só vivemos uma vez). "Eles não aplaudem um artista só porque ele está lá; é preciso provar que você é bom o bastante. Se você se der bem em Porto Rico, vai ser sucesso em qualquer outro lugar."

Em seus dois mais recentes álbuns, foi exatamente isso que ele conseguiu. "Easy Money Baby" (2020) ganhou três discos de platina, tomando por base o sucesso do "mixtape" "El Final del Principio" (2016), e incorporando reggaeton, funk brasileiro e melodias colombianas. "Lyke Mike" (2021) foi uma declaração firme de intenções, com um repertório formado por sons mais duros, em estilo trap. O disco chegou ao terceiro posto na parada de álbuns latinos da Billboard e ficou entre os 50 primeiros postos na parada Top 200 de todos os gêneros. Com seu novo álbum, lançado no último dia 23, Towers, 29, planejava combinar as duas abordagens, conseguindo um equilíbrio que ilustre sua flexibilidade criativa.

"Nesse álbum, eu quis fazer música para tocar ao vivo", ele disse, falando animadamente e vestindo uma camiseta branca acompanhada por uma corrente dourada. "Quero dar energia às pessoas para que elas possam sair e esquecer os seus problemas, esquecer aquilo que lhes causa estresse."

Quase uma década atrás, Towers ainda estava à espera de sua oportunidade. Criado no bairro de Caimito, no sul de San Juan, ele cresceu rodeado de música, principalmente os favoritos de sua avó: salsa, merengue, boleros da velha guarda –todo tipo de música latina clássica estava presente na coleção dela. Mas Towers queria abrir um caminho próprio no rap e, quando terminou o segundo grau, começou a lançar músicas no SoundCloud, inicialmente de forma bastante anônima. "No início, eu nem queria mostrar minha cara", ele disse, com uma gargalhada. "Só queria mostrar minhas capacidades. Sabia que precisava colocar muito trabalho no mercado para entrar na disputa."

Ele não se limitou a aprender música e praticá-la. Também a analisou, estudando cada movimento de ídolos como Daddy Yankee e Jay-Z, e descobrindo de que maneira poderia aplicá-los à sua vida. "Estudei o jogo", ele disse. "Tenho minha própria identidade, mas comecei por eles, e pelo respeito que tenho por eles."

À medida que os seus lançamentos ganhavam mais empuxo no SoundCloud, ele começou a colocar seu nome nas faixas –grafando "Mike" como "Myke"— e a tocar em toda a cidade. Towers encarava seus primeiros shows como exames escolares importantes e, em 2014, estava pronto para a graduação: aquela importante apresentação em La Perla, em sua cidade natal.

Para os artistas que cresceram na região, tocar em La Perla, a famosa favela da ilha —localizada em um trecho rochoso da costa da Cidade Velha de San Juan— é um rito de passagem. Em um vídeo do show de Towers postado no YouTube, ele aparece vestido de preto, em pé sob um toldo de praia branco, cantando com toda confiança os versos de "Dinero En Mano", uma canção que falava diretamente de suas aspirações (mais tarde, ele lançaria a faixa, acrescida de cordas ameaçadoras, em "El Final del Principio"). No final da canção, o público já estava cantando com ele.

"Foi um dos meus shows mais importantes", recordou Towers. Ele sacudiu a cabeça e sorriu, quase como se ainda não acreditasse que realmente chegou lá. "Muita gente nem mesmo conhecia minhas canções, mas ficaram pensando quem seria aquele cara, e por que ele tem confiança suficiente para cantar assim?"

Mesmo antes de lançar o seu primeiro álbum completo, Towers já tinha se unido a Bad Bunny e Becky G, deitando as fundações daquilo que faria dele um dos colaboradores mais procurados da música latina. De lá para cá, as participações especiais de Towers em gravações de Rauw Alejandro, Luis Fonsi e Farruko resultaram todas em discos de platina.

Na gravação de "La Vida Es Una", Towers teve dificuldade para selecionar a lista de faixas, peneirando entre mais de 50 canções a fim de selecionar o repertório que poderia demonstrar sua transição, da vanguarda da cena do trap nativa de San Juan à condição de um criador de sucessos estabelecido. Sua versatilidade foi o que primeiro chamou a atenção de Orlando Cepeda, conhecido como Jova, um dos compositores que frequentemente colaboram com Towers, e um dos fundadores do selo porto-riquenho que assinou o primeiro contrato com o rapper em 2018. Depois de ouvir o rap de Towers, Cepeda perguntou se ele tinha algo mais comercial. Cepeda estava impressionado.

"Ele é um artista sem limites", disse Cepeda em uma entrevista por telefone. "É escritor, é compositor, é letrista. Acho que ouvir alguém que vem dos bairros pobres, como ele, inspira, empolga e faz com que as pessoas queiram trabalhar com ele."

Além de voltar a solicitar o trabalho de alguns de seus passados colaboradores, entre os quais Ozuna e J Balvin, para "La Vida Es Una", Towers também recorreu a produtores de toda a diáspora musical latina, entre os quais Sky Rompiendo (da Colômbia) e Tainy (Porto Rico). "Quero mostrar aos meus fãs a diferença entre 'Mike' e 'Myke'", ele disse, explicando os seus esforços para misturar as suas raízes de rap mais brutas às suas ambições de sucesso comercial. "No início, meus fãs comentavam coisas como: ‘Você se vendeu, o que está fazendo?’. Os comentários ficavam na minha cabeça, e eu sentia que estava perdendo a pessoa que sou, mas mesmo assim gosto de me desafiar. Corri muitos riscos nesse álbum, mas confio em que, quando as pessoas o ouvirem, encontrarão algumas das coisas que precisavam ouvir em meu trabalho no passado."

O novo álbum inclui canções para os seus fãs mais pop: "Sábado" e "Ulala (Ooh La La)", uma colaboração com Daddy Yankee, duas faixas prontas para a pista de dança produzidas pela dupla Play-N-Skillz, do Texas. Towers esquenta as coisas em "El Calentón", uma faixa com instrumentação simples que começa como uma jam session de reggaeton antes de evoluir para uma exibição de sua destreza como letrista. E como o título poderia sugerir, "Flow Jamaican", produzida por Di Genius, mergulha em ritmos de reggae, com Towers mudando sua linha vocal para abrir caminho para o grudento refrão.

O álbum foi gravado principalmente em Porto Rico, um lugar com uma história musical tão longa e diversificada, disse Towers, que qualquer um que decida explorá-lo sai transbordando de ideias, influências e potencial. "Onde quer que eu vá, faço música de Porto Rico. Quando estou fazendo música, ouço as pessoas que vieram antes de mim". Seu rosto se iluminou e ele abriu um largo sorriso, enquanto descrevia sua rotina habitual de voltar para casa, depois das turnês, e reencontrar sua mulher e filho, antes de se dirigir uma vez mais ao estúdio.

"A minha família é a base de tudo para mim", disse Towers. "Voltar para eles me traz algo espiritual. Antes de me tornar pai, eu chegava ao estúdio todo dia às 7h. Sempre terei esse espírito batalhador, mas quando descobri que ia ter um filho, meu objetivo passou a ser trabalhar de forma mais inteligente, em lugar de trabalhar mais."

Towers encerra o álbum com uma celebração triunfante, "Lo Logré" ("Cheguei Lá"). "É um hino com o qual muitas pessoas vão se identificar", disse o rapper.

"As pessoas acham que cheguei lá, e que foi fácil. Esquecem o processo, tudo que foi preciso para que isso acontecesse. Valorizo cada momento da minha carreira porque, anos atrás, eu às vezes até chorava, no meu esforço de tentar transformá-la em realidade. Há dificuldades pelas quais você passa, mas, quando você chega ao outro lado, as pessoas só veem que você chegou lá. E eu cheguei lá, sim, mas também não cheguei. Tenho outros sonhos a realizar."

Tradução de Paulo Migliacci

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