Negra Li exalta o feminismo negro em música: 'Me sinto mais poderosa'
Single 'Comando' é resultado de mudanças internas da rapper
Single 'Comando' é resultado de mudanças internas da rapper
Hoje, aos 42 anos, Negra Li afirma sentir entusiasmo semelhante de quando tinha 16 anos e começou a carreira no rap. Até mesmo, completa ela, com aquela ponta de ingenuidade típica da juventude de acreditar ser possível fazer a diferença no mundo pela arte.
Mas foi só após um período turbulento, que envolveu a separação do marido, o músico Carlos Crésio Júnior, e a chegada aos 40 anos, além da pandemia de Covid-19, que a cantora iniciou toda essa mudança interna que culminou no resgate da empolgação que exibe agora.
E que tem como resultado o single "Comando", lançado na quinta passada (27), e parte de um projeto maior. Até o final deste ano, ela apresenta outros lançamentos —inclusive algumas parcerias ainda não reveladas— que vão compor o novo álbum da cantora.
"Estou me sentindo hoje mais poderosa e empoderada", diz. "É como a Angela Davis fala: 'Quando a mulher preta se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela.'"
"Comando" é um reflexo dessas transformações de uma mulher que tomou às rédeas de sua trajetória artística e pessoal. "Chego chegando, incendiando/ No meu comando, sou eu quem mando", diz a letra inicial da canção.
A música, um rap com toque de afrobeat, é uma parceria de Negra Li com Arthur Marques, Cinthya Ribeiro e Thin de França. "É uma música que fala de mim e, ao mesmo tempo, é um manifesto para falar o quanto as pessoas pretas são caladas, são subestimadas, o quanto ainda não é nos dado espaço. Mas nos conquistamos esse espaço", diz.
"É também uma ressignificação. Estamos agora vitoriosos, em outra posição, em outra situação, enxergando um futuro promissor", acrescenta.
O clipe segue a mesma linha de manifesto. Foi gravado em uma fazenda no interior de São Paulo, da época dos barões do café e da escravidão. Negra Li e outras mulheres pretas cantam, dançam e dominam todos os cantos do lugar, mostrando que o tempo de opressão dos negros e, especialmente, das mulheres negras terminou.
Em outro trecho da canção, ela afirma: "Aqui é Negra Li, apoiada por mais de 50 mil manas", em uma referência ao rap "Capítulo 4, Versículo 3", dos Racionais. "Porque eu me sinto assim [apoiada pelas mulheres]. A [música] é sobre essa empatia, sobre essa união entre as mulheres".
Como símbolo desse legado feminista, Sofia, filha mais velha da rapper de 11 anos, participa do clipe. "Essa menina é uma potência, uma diva. Se ela não fosse a minha filha, eu ia chamar do mesmo jeito [risos]. Ela representa o futuro, a evolução, eu aprendo muito com ela", diz a cantora. Ela salienta que atrás das câmeras a equipe responsável pelo clipe também foi formada majoritariamente por negros.
Chegar até esse ponto atual não foi um caminho fácil para Negra Li. "Eu ressurgi das cinzas, como uma fênix", relata. As dificuldades começaram em meados de setembro de 2019, quando o casamento com o músico Crésio Júnior, conhecido por Júnior Dread, chegou ao fim.
Foram 14 anos juntos e dois filhos —além de Sofia, eles são pais de Noah, 3. Na mesma época, ela completou 40 anos, o que a levou a uma reflexão sobre sua vida e carreira. Teve também mudança de empresário e, por fim, a pandemia e a impossibilidade de fazer shows. "Me obrigou a ficar paradinha e a olhar para dentro", afirma.
Tudo isso, diz ela, foram fatores que contribuíram para a sua revolução interna. "Sim, a gente se perde pelo caminho, tem muitas artistas que uma hora se perdem pelo caminho, perdem a inspiração", afirma. O que ajudou na superação foi, segundo destaca, ter percebido a importância da sua música na vida de muitas pessoas.
"Hoje, a inspiração voltou com tudo. Tenho aquela mesma vontade de quando eu era jovem, de falar, de me manifestar nas músicas. Estou gostando de viver essa época", afirma.
As transformações são também pessoais. Com 1,1 milhão de seguidores no Instagram, ela passou a mostrar um lado nas redes sociais que poucos conheciam. Em uma série de vídeos intitulados "Só uma Tacinha", Negra Li passou a falar sobre diversos assuntos, inclusive, sexo.
Foi uma forma que ela encontrou de sair um pouco do estereótipo da "mina do rap", e deixar transparecer o seu lado mulher, mãe e amiga. "Eu brinco que os homens quando vão me elogiar, até em DM [as mensagens diretas no Instagram], eles falam: 'você está muito linda, mas com todo o respeito, tá'".
"Estou pondo para fora aquilo que, na verdade, eu sempre fui, a Liliane [nome de batismo da cantora] que eu sou com os meus amigos: faladeira e que faz palhaçadas. A Negra Li sempre tentava se manter naquela postura, com medo de errar, de falar e se podando demais."
Ela afirma se sentir satisfeita por superar tabus e hoje ajudar outras mulheres. "Imagina uma mulher que veio do rap, de família evangélica, falar sobre sexo? Mas com o amadurecimento, com essa fase que eu passei de autoconhecimento, me trouxe esse despertar da sexualidade. Fez eu me conhecer e ver que tudo faz parte da nossa natureza, e é tão belo e tão bonito", salienta.
"E eu sou porta-voz de mulheres que passam pelas mesmas coisas que eu. E quando me ouvem falar a respeito se veem representadas ali", prossegue. Fazer terapia foi outro ponto fundamental no período. Ela acrescenta que também foi diagnosticada com Transtorno de Déficit de Atenção e Ansiedade (TDAH).
Com dificuldades para dormir e sem se acostumar a remédios usados para esse fim, Negra Li revela que há dois meses passou a consumir, com prescrição do seu médico psiquiatra, óleo de Cannabis para melhorar o sono. "Estou achando incrível. É um tratamento difícil, porque não é para todos, e é caro, mas está me ajudando. Eu não aguentava os efeitos colaterais dos medicamentos tradicionais."
A cantora afirma estar satisfeita com todas as mudanças pessoais que refletem agora em seu trabalho. "Eu quero que todo o mundo tome essa mensagem do single 'Comando' para si, porque é muito bom estar no comando da sua vida, das suas emoções e da sua sexualidade. É muito bom estar neste lugar."
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