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Música

Glass Animals flerta com rap e promove clima nostálgico em novo álbum, 'Dreamland'

Disco sucede coletânea de sucesso 'How To Be a Human Being'

Glass Animals lança "Dreamland" - Pooneh Ghana/Divulgação
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São Paulo

Se nem uma experiência de quase morte conseguiu acabar com Glass Animals, quem dirá uma pandemia. A banda britânica de pop psicodélica, que tem um boa base de fãs no Brasil e é um dos principais nomes deste cenário indie, atende aos pedidos e lança nesta sexta-feira (7), seu terceiro álbum de estúdio, “Dreamland”.

O projeto chega quatro anos após “How To Be a Human Being”, disco aclamado que traz singles como "Life Itself" e “Youth”. Apesar da natureza perdurante do álbum, o novo projeto aposta em ritmos diferentes, como as batidas que remetem aos sons de clássicos de The Beatles e Beach Boys, e ao rap –presente em “Tangerine”, “Waterfalls Coming Out Your Mouth” e a já lançada "Tokyo Drifting”, em parceria com o rapper Denzel Curry. Um presente para os fãs, no ano em que a banda completa uma década de existência.

“Sempre tento fazer algo fresco”, diz o cantor, compositor e produtor do grupo, Dave Bayley. “Estou sempre tentando fazer algo melhor do que fiz antes. E encontrar novos sons –essa é minha atividade favorita”.

Anteriormente, Bayley já havia dito que “Dreamland” seria um álbum que retrataria diversos momentos de sua vida –desde suas lembranças de infância, até agora. “Trata-se de perceber que está tudo bem em não ter respostas e não saber como você se sente sobre as coisas e que está tudo bem em ser e parecer vulnerável. De fato, tudo isso é bastante emocionante. Muitas vezes a vida pede respostas binárias sim ou não. Ele nos pede para nos conformarmos e nos encaixarmos. Mas o mundo é muito mais interessante e colorido do que isso... É um lugar muito mais fluido e incerto”, resumiu.

“Dreamland”, lançado em CD, vinil e nos streamings, também é o primeiro disco da banda britânica desde que o baterista Joe se recuperou de um acidente de bicicleta que o colocou entre a vida e a morte, em julho de 2018.

Bayley, junto aos demais membros da banda, Ed Irwin-Singer e Drew MacFarlane, chegou a pensar que o grupo não continuaria –mas ela segue, com ainda mais vontade de se aproximar do público, e chegou a lançar um site de código aberto, onde compartilha áudio, amostras, artes, arquivos 3D e vários outros materiais que os fãs podem usar para criar suas próprias músicas, animações e filtros de Instagram. Confira abaixo a entrevista completa com o artista:

"How To Be a Human Being" foi um grande sucesso. Você se sente pressionado para fazer algo tão grandioso novamente?
Eu fico feliz que as pessoas tenham gostado do último álbum. Não dá pra repensar dessa forma quando você faz música, é a coisa mais selvagem de se pensar, como as pessoas responderão a isso. Você só tem que fazer música para você mesmo. Se divertir fazendo isso. Fazer algo que signifique algo para você, e que seja importante para você. E eu acho que se é importante para você, outras pessoas verão elas mesmas nisso. Essa é sempre a meta. Você não pode pensar se outras pessoas irão gostar, tem que acreditar em si mesmo, acreditar na sua capa.

O último álbum foi sobre histórias de pessoas anônimas. Que história você quer contar com o novo disco?
Foi bem passional, esse novo álbum. O nome veio assim... Cresci no Texas, na América, e tive uma professora bem atrevida, chamada Sra. Brooks. E ela costumava vir até mim e falar: ‘Acorde, acorde, você está em Dreamland [terra dos sonhos, em inglês] de novo’. Porque eu costumava sempre sonhar, ao invés de prestar atenção na aula. Ela sempre fazia isso e meio que grudou em mim, eu sempre acabo à deriva. E pensando em outras coisas. Eu me peguei fazendo isso muito nos últimos anos. Nosso baterista teve um acidente muito feio, ele estava no hospital e eu estava cuidando dele… E me peguei à deriva desta ‘Dreamland’ novamente. Eu ficava me dizendo: ‘Saia, saia da terra dos sonhos’. Mas sim, é sobre divagar e pensar sobre coisas do seu passado. Pensar sobre a vida, coisas nostálgicas, memórias… E todas as coisas estranhas que aconteceram na sua vida, e as coisas que te transformaram e te tornaram o que você é.

Você traz alguns ritmos novos neste álbum...
Eu sempre tento fazer algo diferente. É chato fazer sempre a mesma coisa várias vezes. Então, não sei, sempre tento fazer algo fresco, estou sempre tentando fazer algo melhor do que fiz antes. E encontrar novos sons, essa é minha atividade favorita: encontrar novos sons e técnicas. Empurrar tudo até o limite. Porque é tudo sobre nostalgia, memórias e o passado, ele toma os sons com os quais eu cresci, o que no Texas foi o rap e a coleção de discos da minha mãe, que tinha Beatles, Beach Boys... E, tipo, [a proposta é] combinar esses sons, mas fazê-los soar um pouco mais modernos. Então eu tomei muito dos sons dos Beach Boys e Beatles. E peguei um pouco de Dr. Dre, dos tambores pesados. Então acabou soando bem diferente. Mas meio que soando com tudo o que cresci, ao mesmo tempo.

Tem alguma música que tem maior significado para você?
É difícil escolher. É tipo uma mãe escolher seu filho favorito. Mas sim, eu tenho um ‘filho favorito’. Mas minha opinião muda, às vezes. Agora eu gosto muito de “Helium”, que fica no final. Eu realmente gosto dessa. Também gosto de “Space Ghost“, que é sobre ser uma criança em Texas, sabe, dirigir carros quando você é jovem demais para isso. É mais divertida. E “Tangerine” é divertida. Estou nervoso.

Vocês tocaram no Brasil no Lollapalooza de 2017. Você se lembra de como se sentiu naquele momento?
Eu tive o melhor momento no Brasil. Nós tivemos momentos maravilhosos! Tem, tipo, multidões lendárias. No mundo inteiro, o Brasil é conhecido por ter um dos melhores públicos do mundo, porque as pessoas se divertem, não sei como. Estava bem quente, estávamos tocando em uma pista de corrida, e é um lugar doido para tocar. Eu me lembro de estar muito calor, e as pessoas dançando e tendo um bom momento. Sinto falta disso. E sinto falta da comida. Do pão, o “pão de queijo”, acho que é isso. É delicioso, eu amo. E os churrascos são incríveis. Mal posso esperar para voltar.
Então, se a situação no mundo melhorar e vocês saírem em turnê para este álbum, consideram passar pelo Brasil?
Com certeza. Eu estive enchendo o saco do meu empresário: "Podemos voltar para o Brasil, por favor?". Vamos voltar, foi muito divertido. Todo mundo da plateia [do Brasil] é muito bom em dançar. Então foi bem divertido assistir à multidão. Às vezes você toca para um público –e não vou dizer onde– que fica meio parado. Mas no Brasil todos se divertem muito.

Neste ano, Glass Animals completa 10 anos. Você acreditava que a banda completaria uma década, quando começou?
Não… Toda a banda foi criada por acidente, nós não sabíamos muito o que estávamos fazendo. Eu escrevi algumas músicas no meu quarto, e então meu melhor amigo Joe, que é o baterista, disse "coloque no Soundcloud". E meio que saiu do controle, e as pessoas só falaram: "Querem sair em turnê?". E eu disse: "Ok". Eu realmente não sabia… Nos colocaram em shows e agora estamos aqui. É superestranho. Nunca esperávamos isso e, sabe, é muita muita sorte. Você trabalha muito e, por fim, tem muita sorte nisso. Encontrar as pessoas certas e estar no lugar certo, na hora certa.

Quando Joe Seaward sofreu o acidente em 2018, você chegou a pensar que a banda talvez acabasse?
Sim. Eu estava horrorizado. Eu perdi outro dos meus melhores amigos não muito tempo depois disso e pensava: "Como isso pode estar acontecendo?". Achávamos que Joe morreria, basicamente. Fomos ao hospital e foi pior do que eu pensei que seria. Ele não conseguia falar ou se mexer. Nós não sabíamos o que aconteceria. É por isso eu comecei a sonhar muito. Você não sabe o que acontecerá no futuro, então você meio que se apoia em memórias e começa a pensar no passado e sonhando um pouco. Porque o futuro é bastante obscuro e assustador. Eu achei que tudo tinha acabado. Mas ele teve uma operação incrível, então agradeço ao cirurgião.

O que você tem feito durante a quarentena?
Tenho sido bastante produtivo. Eu passei dois meses dentro deste quarto, construindo esse álbum, e então saímos em turnê por um mês e meio. E no meio da turnê, o vírus atingiu a América e cancelou toda a turnê. Tínhamos um plano de dois anos de turnê. Foi cancelado, voltamos para cá e foi bem alarmante. Mas eu já costumava passar o meu tempo no quarto, então tudo bem eu voltar para cá, voltar para escrever músicas e fazer músicas. Comecei a fazer alguns covers, porque as canções já estão prontas, e às vezes é mais fácil apenas tocar a música de outra pessoa.

O álbum é quase um refúgio para você neste momento.
Eu não sei como o mundo estará daqui a um mês. É doido. É estranho que crise alinhe ao que o álbum fala. Todos os músicos estão na mesma posição, todos estão em casa, cansados e sem maconha e querem fazer música. Então tenho recebido muitos telefonemas para colaborações… Eu não sei… Todos estão com uma mentalidade um pouco estranha, e não saber o que o futuro guarda estranhamente deixa as pessoas mais criativas, eu acho. Meus amigos estão fazendo coisas, então tenho estado muito ocupado, fazendo muita música.

Você fez alguns covers, do Nirvana e da Lana del Rey. Pretende fazer outros?
Eu adoraria fazer mais covers. É difícil achar um tempo, porque com o álbum chegando, é muita coisa para fazer. Fazer vídeos em isolamento total é bem difícil, então gastamos muito tempo com isso também. Mas será bom fazer mais covers. Tenho escutado muito as músicas antigas que eu escutava quando era uma criança. Como eu disse, o futuro é incerto e procuro por coisas que me fazem sentir confortável, então escutar músicas que minha mãe costumava colocar para mim. Eu cresci com Nirvana e Lana del Rey, e por isso fiz cover deles, porque fazem eu me sentir confortável. Então talvez eu faça um cover dos Beach Boys, seria divertido.

Você sente apoio do seu governo à classe artística, neste período de isolamento social?
Eu acho que o nosso governo provavelmente tem muito o que fazer nesta área. Obviamente tem um problema enorme agora, onde as pessoas estão morrendo e há uma pandemia enorme acontecendo, então acho que todos ficarem seguros é, provavelmente, a maior preocupação. Esperançosamente, nós passamos por isso. Penso que você tem que trabalhar muito para se adaptar a essas situações, e para muitas pessoas é impossível e elas realmente precisam de ajuda. Eu tenho muitos amigos, como amigos da equipe técnica, que dependem da turnê para sobreviver. Eles não têm outros trabalhos, então cabe ao governo ajudá-los a sobreviver, e também depende de nós, porque nós os contratamos. Então achamos novas funções para eles e sim, é complicado, mas espero que o governo intervenha e nos ajude com isso. Todos temos que nos adaptar.

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