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Descrição de chapéu The New York Times

Do peito nu ao short: Nova geração muda o tapete vermelho do Oscar

Timothée Chalamet, Zendaya e Kristen Stewart foram destaque no evento

Timothée Chalamet no tapete vermelho da 94ª cerimônia do Oscar REUTERS

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Vanessa Friedman
The New York Times

É difícil lembrar agora, em meio às brumas do tempo, que já houve um momento, antes da Covid, em que existia um movimento em Hollywood propondo #askhermore [pergunte mais coisas a ela], no tapete vermelho. E a ele também.

Um esforço para tentar transformar algo que estava literalmente se tornando uma oportunidade de marketing pago para a indústria da moda, e para as celebridades que usavam seus produtos, em um meio de contar histórias sobre valores e escolhas pessoais. O esforço não durou muito.

Pelo menos não se levarmos em conta o primeiro evento de tapete vermelho do Oscar realizado sem máscaras e sem distanciamento social nos dois últimos anos. É possível compreender, de alguma forma: era tão absurdamente empolgante estar de volta, e poder voltar a usar roupas fabulosas, em massa.

E, além disso, há muita coisa sombria acontecendo no planeta, nesse momento, e se o mundo do cinema é bom em alguma coisa, é em escapismo. Mas será que precisa ser um escapismo que envolve volta ao passado ou um salto para dentro da bolha de celuloide? A pandemia ofereceu uma oportunidade de reiniciar a máquina.

Será que o tapete vermelho não deveria ser reiniciado, do mesmo modo? Uma reformulação de como definimos as roupas de festa, a elegância e a sensação de uma entrada vistosa? Seria possível que os convivas enfim viessem a deixar de lado as sereias e os contos de fadas (por sobre as cintas elásticas). No começo parecia que não.

Jessica Chastain, indicada ao Oscar de melhor atriz, apareceu em um modelo Gucci reluzente, dourado e lavanda, com detalhes delicados na altura dos ombros e um babado gigante na bainha, como uma princesa saída diretamente de um filme da Disney e das fantasias de muitas meninas pequenas.

Nicole Kidman, outra das indicadas, usava um Armani de linhas retas, cinza azulado, com um enfeite generoso na cintura. Zoë Kravitz parecia estar canalizando Audrey Hepburn, com um Saint Laurent cor-de-rosa, em coluna, enfeitado por um laço de fita também rosa.

Billie Eilish parecia um merengue gótico, com um modelo Gucci de moiré. Por mais adoráveis que todas elas estivessem, seus vestidos eram como que uma biblioteca de referência às lendas das telas, recuando ao longo do tempo. O dourado era muito frequente, como costuma ser o caso quando a estatueta está envolvida; o exemplo mais notável foi o modelo Prada de Lupita Nyong’o, com franjas e lantejoulas.

Maggie Gyllenhaal decidiu correr um risco digno de uma passarela, com um modelo Schiaparelli que parecia um gaveteiro surreal de Narnia, e Jada Pinkett Smith fez o mesmo com um vestido verde esmeralda de Glenn Martens para a linha Jean Paul Gaultier couture.

A coisa mais surpreendente foi que a guerra na Ucrânia passou quase sem reconhecimento. O tema da noitada era "amantes do cinema, uni-vos", o que poderia pelo menos ter sugerido alguma união em torno de acessórios azuis e amarelos, mas, excetuados alguns pequenos detalhes –o lenço de bolso azul e amarelo de Jason Momoa, o prendedor de gravata de Benedict Cumberbatch, as fitas azuis usadas por alguns refugiados–, esse tema esteve praticamente ausente.

Uma vez mais, como sempre, o tapete vermelho viu muito vermelho: Marlee Matlin em um elegante modelo Monique Lhuillier de mangas longas, Rosie Perez em um vestido Christian Siriano em chiffon, Tracee Ellis Ross com um Carolina Herrera muito decotado e o que pareciam ser dois pequenos porta-copos sobre os seios.

Mas foi então, também, que as coisas começam a se tornar um pouco mais interessantes. Porque, observando um pouco mais de perto, o Lacroix vermelho cereja de Kirsten Dunst era na verdade um modelo "vintage", de 2002. E a capa de Arianna DeBose complementava um bustiê e calças pregueadas Valentino, redefinindo o conjunto de três peças.

Foi quando chegou Timothée Chalamet. Sem camisa. Os homens vêm movendo o ponteiro, no que tange a roupas de gala, já faz algum tempo. E havia alguns pavões, dessa vez, especialmente Kodi Smit-McPhee em um terno Bottega Veneta azul bebê e quaquilhões de quilates de diamantes Cartier.

Sebastian Yatra usou rosa pétala e Wesley Snipes estava vestindo um paletó de smoking cor de vinho acompanhado por bermudas e "leggings". Mas Chalamet levou a coisa para um novo patamar. Sobre o peito nu, ele usava uma jaqueta de renda bordada da coleção feminina Louis Vuitton para a primavera de 2022, acompanhada por dois colares Cartier de diamantes e esmeraldas, braceletes e anéis combinados.

Foi uma exibição reluzente e provocativa que subverteu de maneira direta muitos dos velhos estereótipos sobre quem pode usar o que, como e quando. Ele talvez tenha sido a pessoa a exibir mais a pele em toda a noitada. E pode ser até que faça história, como o primeiro homem a ir sem camisa ao Oscar (ao menos em muitos anos). No mínimo, ele tem lugar garantido em todas as listas de "looks memoráveis" do Oscar.

Com suas roupas, ele deu a entender, sem dizer uma palavra, que uma reacomodação das velhas regras estava por vir, afinal. E não foi o único a trabalhar com essa ideia. Zendaya, com uma camisa de cetim branco abotoada, mas cortada pouco abaixo dos seios e uma saia que era uma cortina de franjas prateadas (tudo isso criação de Valentino) estava brincando com a história, citando Sharon Stone, que foi ao Oscar de 1998 com uma camisa Gap branca e uma saia Vera Wang, na época uma combinação muito controversa, que Zendaya agora atualizou.

Kristen Stewart usava um short Chanel e um paletó de smoking, com uma camisa branca desabotoada até o umbigo, e trocou os saltos altos por tênis assim que passou pelos fotógrafos do tapete vermelho. E H.E.R. estava usando um tomara que caia Carolina Herrera amarelo neon, com a saia muito curta e uma capa que flutuava atrás dela como uma nuvem.

Nenhum desses modelos parecia requerer o uso de roupas de baixo blindadas ou que aqueles que os vestiam mantivessem uma pose permanente de mão na cintura e quadril rebatido para um dos lados. Isso é um passo à frente, podem ter certeza. E merecedor da atenção de todos.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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