'Pacto Fashion': 32 empresas da moda se comprometem a preservar o meio ambiente
Trinta e duas empresas da indústria da moda –da produção à distribuição– lançaram nesta sexta-feira (23), paralelamente à cúpula do G7, o “Fashion Pact”, ou “Pacto Fashion”. O texto é um compromisso a favor do meio ambiente para reduzir as mudanças climáticas, além de ajudar a biodiversidade e os oceanos. O acordo inclui gigantes do setor, como Hermès, LVMH, Kering e Adidas.
A indústria da moda é uma das mais poluidoras por causa dos microplásticos encontrados nos tecidos e que terminam nos oceanos após cada lavagem. Além dos pesticidas usados na produção de algodão ou dos produtos químicos das tintas. Por fim, o transporte de roupas é responsável por pelo menos 10% das emissões mundiais de CO2.
O governo francês encarregou, em maio, François Henri Pinault, chefe do grupo de luxo Kering, de mobilizar o setor em relação a seu impacto ambiental. Dessa medida nasceu o acordo de 32 empresas que se comprometem a tomar precauções como, por exemplo, usar 100% de energias renováveis até 2030.
O texto foi visto com desconfiança pelas ONGs. Para agir de forma direta pelo clima, a ação mais efetiva é conhecida de longa data, segundo as organizações ambientais: acabar de vez com a “fast fashion", isto é, com a indução ao consumismo. Será preciso também eliminar as fibras sintéticas e levar em conta as condições de trabalho desastrosas da produção.
"Slow Fashion" busca minimizar impactos da moda no meio ambiente
Enquanto grandes marcas continuam com sua produção em massa, muitas vezes explorando a mão de obra e poluindo o ambiente, alguns designers, produtores, fabricantes e consumidores pensam a moda de maneira alternativa e ecológica: este é o ponto de partida da Slow Fashion, um movimento mundial para a desaceleração da indústria da moda.
É o caso da jornalista e consultora de moda Ana Fernanda Souza, criadora do coletivo Justa Moda, em Salvador, que prega a justiça social e ambiental em toda a cadeia de produção.
“O próprio nome, Justa Moda, é uma brincadeira com isso. Quando a gente compra uma roupa nova, na promoção, a gente diz 'paguei um preço superjusto’, que significa ‘paguei barato’. E a questão é: justo para quem? Uma calça de R$ 10 é um preço justo? Pode ser para quem compra, mas e para quem faz? Para quem colheu aquele algodão? Para quem está no balcão, para aquela vendedora que está ali 12 horas em pé, vendendo aquela roupa? É muito importante que a gente pense na justiça como um valor para toda a cadeira da moda. Não apenas para quem está na ponta, consumindo. Alguém está pagando este preço que eu não pago”, afirma Ana Fernanda.
A troca, o compartilhamento, o remendo e até a reutilização de tecidos antigos: vale tudo para diminuir o impacto. Para consumir com mais responsabilidade e limitar seu impacto ecológico, alguns tomam a decisão de parar de comprar roupas novas e até mesmo usadas.
Mudança de concepção
Segundo a Agência francesa para o Meio Ambiente e a Gestão de Energia (Ademe, em francês), mais de 100 bilhões de roupas são vendidas no mundo. A produção duplicou entre 2000 e 2014. A indústria da moda emite 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa a cada ano. Para fazer uma camiseta, são necessárias o equivalente a 70 duchas de água.
A marca Les Récuperables busca mudar a concepção, a produção e também o consumo da moda. "É um método que é necessário porque há excedente de produção. E porque também é inerente à produção ter mais material que o que vai ser utilizado. Por outro lado, continua a ser uma solução de emergência. A solução é realmente o ecodesign, com um material inovador, o menos prejudicial para o meio ambiente possível, com uma duração máxima do produto. E o sonho seria poder plantar sua roupa no fundo do jardim e que ela sirva para alimentar a sua horta", defende Anaïs.
Se a indústria têxtil, muitas vezes apresentada como a segunda mais poluidora do mundo, continuar sua ascensão, em 2050, ela representará 26% das emissões de gases de efeito estufa, de acordo com um relatório da Ellen McArthur Foundation publicado em 2017. Em oposição à fast fashion –que engloba a manufatura, a distribuição e principalmente o consumo em massa–, a Slow Fashion seduz cada vez mais.
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