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Tony Goes

Por que 'Elas por Elas' vai tão mal de audiência?

Apesar do bom texto e elenco, novela bate recordes negativos no Ibope

Deborah Secco, Lázaro Ramos e Ludmila Rosa em cena de 'Elas por Elas'
Deborah Secco, Lázaro Ramos e Ludmila Rosa em cena de 'Elas por Elas' - Divulgação
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Em 1967, Janete Clair foi contratada pela Globo para salvar "Anastácia, a Mulher Sem Destino". Escrita por Emiliano Queiroz, a novela tinha subtramas demais, que confundiam o público. A solução encontrada por Janete entrou para a história da TV: a autora inventou um terremoto que eliminou, de uma só vez, mais de 100 personagens.

Um terremoto talvez seja uma saída radical demais, mas "Elas por Elas", atual ocupante da faixa das 18h da Globo, também está precisando de uma faxina. A primeira versão, exibida em 1982 e assinada por Cassiano Gabus Mendes, foi um grande sucesso de audiência. Por que este remake contemporâneo não está conseguindo repetir a façanha?

Pelo contrário: "Elas por Elas" já amarga o título de novela menos assistida de seu horário em todos os tempos. Na Grande São Paulo, o folhetim sequer tem alcançado a média de 14 pontos, um recorde negativo –e 39% a menos do que "Mar do Sertão" marcava um ano atrás.

E isto apesar do bom texto de Thereza Falcão e Alessandro Marson, que introduziu diversas atualizações sem deixar de ser fiel ao original. O elenco afiado inclui estrelas consagradas e várias caras novas. O destaque vai para um Lázaro Ramos em estado de graça, recriando o atrapalhado detetive Mário Fofoca sem jamais imitar a interpretação clássica de Luís Gustavo.

Qual o problema, então? O primeiro de todos talvez seja o horário. "Elas por Elas" foi concebida para as 19 horas, e era lá que deveria ter ficado. Muitas de suas tramas não têm a água-com-açúcar típica da faixa das 18 horas.

Tampouco há uma história principal. Ou melhor, há sete –as das sete amigas de adolescência que se reencontram depois de mais de 20 anos. Cada uma delas tem um problema diferente e um microcosmo ao seu redor.

Sete tramas paralelas já parecem mais do que o suficiente, mas ainda há outras. Como a do casalzinho jovem que luta para continuar junto. A da mulher traída que demora a perceber que o marido é um canalha. A da golpista que se infiltra numa família rica, e por aí vai.

O resultado é que assistir a um capítulo de "Elas por Elas" pode ser desnorteante. Para piorar, os blocos de uma novela das 18h são bem mais curtos que os de uma das 19h. Ou seja, em pouquíssimo tempo o espectador é submetido a um desfile frenético de tramas e personagens, e nem todos geram o mesmo interesse.

O que fazer, então? A Globo interveio em suas duas outras novelas atuais, "Fuzuê" e "Terra e Paixão". No caso desta última, funcionou: os números do Ibope já rondam os 30 pontos, a meta habitual da faixa das 21 horas.

Mexer em "Elas por Elas" pode ser mais complicado. Eliminar qualquer uma das sete amigas seria uma traição imperdoável ao texto original. Mudar o horário da novela, então, está totalmente fora de questão.

Aqui vai meu palpite, que ninguém pediu: adotar uma solução à moda de Gloria Perez. Sua novela "A Força do Querer", de 2017, tinha cinco protagonistas diferentes. A autora então promoveu um rodízio entre elas: a cada mês, uma delas ganhava destaque, sem que as demais desaparecessem por completo. Deu muito certo.

"Elas por Elas" já está chegando à metade, e só tem mais uns três meses e pouco no ar. Ainda dá tempo de fazer alguma coisa –não para que a novela finalmente se torne um êxito de audiência, mas para que não seja um vexame absoluto.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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