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Tony Goes

RedeTV! abriu mão de Sikêra Jr. por faturamento, não por ideologia

Apresentador bolsonarista acumula polêmicas e processos na Justiça

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"Nos últimos meses de 2022, um tsunami cultural abalará as emissoras que se alinharam com o preguiçoso que dançou funk enquanto a Bahia se afogava. Ávidas para seguirem nas graças do governo, qualquer governo, esses canais defenestrarão nomes como Alexandre Garcia, Augusto Nunes, Luís Ernesto Lacombe e Ana Paula do Vôlei. Só Sikêra Jr. sobreviverá, agora sob a sua nova identidade: Sikelly Star, apresentadora do reality competitivo ‘A Drag Mais Fechativa do Brasil’".

Desde que comecei a escrever no F5, todo final de ano eu solto uma coluna com previsões para o showbiz no ano que se inicia, sempre em tom de galhofa. O parágrafo acima vem da minha coluna de 30 de dezembro de 2021. Minha profecia contém um único erro: Sikêra Jr. também entrou para o rol dos dispensados por suas emissoras.

A RedeTV! confirmou ao F5 no sábado (8) que deixará de exibir o programa Alerta Nacional, comandado por Sikêra Jr. desde 2019 na TV Crítica de Manaus e, em rede nacional, desde 2020.

Sikêra Jr com Flavio Bolsonaro - Sikêra Junior no Instagram


Não chega a ser uma grande surpresa. Em menos de três anos, o apresentador acumulou polêmicas, foi alvo de inúmeros processos e perdeu patrocinadores. O perfil Sleeping Giants Brasil do Twitter iniciou uma campanha feroz online, pedindo que muitas marcas deixassem de anunciar no Alerta Geral. Sobrou a propaganda estatal –até que Lula foi eleito para um terceiro mandato.

Assim como a Jovem Pan e outros veículos escancaradamente bolsonaristas, a RedeTV! de repente se viu do lado errado da história. Enfrentando a fuga dos anunciantes e a antipatia do novo governo, esses canais resolveram mudar suas linhas editorais, mostrando que seu apoio à extrema direita só ia até a página 2.

Um canal de TV pode ser de oposição ao governo de plantão? Pode, contanto que não dependa de verbas oficiais para sobreviver. É o caso da Globo, que muita gente esperava ver definhar nos últimos quatro anos. Não foi o caso. A emissora perdeu audiência e faturamento, mas continua sendo a líder incontestável.

Para as emissoras menores, o papo é outro. Um único processo milionário perdido na Justiça pode abrir um rombo considerável. Um único patrocinador que vai embora já é o bastante para abalar suas finanças. E Sikêra Jr. tornou-se radioativo. Um repelente de prestígio, credibilidade jornalística e dinheiro.

Seria lindo pensar que seu programa sai do ar em rede nacional porque o público não se interessa mais por sua pregação violenta, anticientífica e homofóbica. Infelizmente, esse gênero de atração continua florescendo em todo o Brasil. São inúmeros os equivalentes regionais de Sikêra Jr., todos adotando mais ou menos o mesmo estilo sensacionalista: apoio histérico à morte de suspeitos pela polícia, pregação antivacina, piadas machistas, homofóbicas e racistas.

Sikêra Jr. sai do ar, mas o caldo de cultura que permitiu sua emergência continua por aí. No momento, o vento virou, e não há mais condições políticas e econômicas para que seu programa continue sendo exibido. Mas fica aqui um alerta geral: as coisas sempre podem mudar de novo.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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