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Tony Goes

Claudia Raia e Patricia Pillar falam sobre a virada de suas personagens em 'A Favorita'

Reprise da novela chega nesta sexta (15) a uma revelação surpreendente

Claudia Raia e Patricia Pillar em 'A Favorita' - João Miguel Junior/Globo
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Atenção: o texto abaixo contém spoilers da novela "A Favorita"

O Brasil foi enganado. Durante quase dois meses do ano de 2008, os espectadores de "A Favorita" foram levados a crer que a vilã da novela era Donatela, a socialite algo antipática feita por Claudia Raia.

Só que não: no capítulo 56, exibido no dia 5 de agosto daquele ano, foi revelado que a verdadeira assassina de Marcelo, o marido de Donatela, era mesmo a angelical Flora, papel de Patricia Pillar. A personagem amargou 18 anos de cadeia pelo crime, e muita gente acreditou que ela era uma inocente injustiçada.

Atual atração da faixa Vale a Pena Ver de Novo, da Globo, a reprise de "A Favorita" chega hoje a esse ponto de virada, que entrou para a história da teledramaturgia brasileira.

Foi uma aposta arriscada do autor João Emanuel Carneiro, que apostou na dubiedade de suas protagonistas –algo raro no universo das novelas, que buscam sempre ser as mais óbvias possíveis. Deu certo. "A Favorita" deslanchou na audiência a partir de então.

Conversei com Claudia Raia, por videoconferência, e com Patricia Pillar, por email, sobre esse momento importante em suas carreiras. Quis saber, por exemplo, como elas encarnaram essas mulheres tão complexas.

"A dificuldade era construir os personagens de modo que tudo fizesse sentido quando a verdade se revelasse", conta Claudia. "Como explicar as atitudes da Donatela, o desespero, a agressividade, o medo de que a Flora tomasse conta da vida dela de novo? O público tinha que entender cada atitude dela".

"A Flora passa 18 anos na cadeia planejando a sua 'volta por cima'", acrescenta Patricia. "Para isso, ela precisava fazer com que as pessoas acreditassem em sua inocência e em seu amor pela filha. Ela preparou cada passo desse caminho. O que fiz foi acreditar no que a Flora acreditava."

Claudia Raia chegou a contratar o ator e diretor Cacá Carvalho para ajudá-la a compor Donatela, pagando-o de seu próprio bolso. Carvalho, conhecido pelo papel de Jamanta da novela "Torre de Babel", começou o trabalho tirando o andar altivo e sinuoso de Claudia, que é bailarina desde os dois anos e meio de idade.

"Donatela é uma mulher rural, bruta, que comia terra na infância. Ela tinha que se mover de uma maneira muito diferente do que eu."

Para acentuar essa diferença entre atriz e personagem, Cacá Carvalho ainda fez com que a canhota Claudia Raia passasse a usar preferencialmente a mão direita. "Eu tinha que assinar com a direita, comer com a direita. Isso me deu uma outra consciência corporal, que não tinha a memória de ser canhota."

A revelação de quem era quem surpreendeu o público. "Foi um susto para as pessoas, porque essa trama prova o quanto somos influenciados pelas aparências e pelas respostas fáceis, e o quanto podemos nos enganar quando apostamos numa compreensão superficial dos fatos", afirma Patricia Pillar.

"Ao fazer as pessoas se enganarem sobre a Flora, João Emanuel Carneiro mostra a necessidade de colocarmos em cheque o nosso entendimento sobre todos os outros fatos da vida. Um tipo de alerta contra esse jeito simplista de ver as coisas."

Uma outra surpresa foi reservada para o final da novela. O título dava a entender que Flora e Donatela disputavam o favoritismo do falecido Marcelo. Mas, na última cena, sobre as imagens de duas meninas brincando, Flora diz em off que Donatela sempre foi sua favorita.

Havia aí algum subtexto gay, que parece óbvio em retrospecto? "Não sei se era gay exatamente", rebate Claudia Raia. "A Flora quer ser a Donatella, quer ter o que a outra tem. Um amor doentio, de propriedade, uma doença mental."

"A Favorita" ainda inovou por não ter um desfecho definitivo. De certa forma, a novela não acabou, foi apenas interrompida: Flora consegue escapar no último capítulo, e é certo que voltará a atazanar Donatela.

"Dá para fazer "A Favorita 2"", ri Claudia. "Taí, essa é uma boa ideia."

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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