Com Ivete Sangalo, artistas formam frente anti-Bolsonaro que a oposição não obteve
União da classe artística ajudou a derrubar a ditadura militar
União da classe artística ajudou a derrubar a ditadura militar
Ivete Sangalo capitulou. Depois de anos evitando se posicionar, com o mesmo empenho com que o Cascão foge do banho, a cantora baiana finalmente desceu do muro.
No sábado (21), dia em que o Brasil atingiu a marca trágica de 500 mil mortos pela Covid-19, Veveta extravasou sua indignação no Instagram. "É estarrecedor pensar sobre as milhares de vidas ceifadas e dores irreparáveis em torno dessas perdas", escreveu ela. "Não é sobre partidos, é sobre humanidade".
Só que esta última frase caiu mal. Sem citar a colega, Anitta logo respondeu pelo Twitter: "500 mil mortos... É sobre Fora, Bolsonaro, sim! A favor da democracia, da economia, da saúde, da educação, do senso coletivo".
Não demorou para Felipe Neto entrar na discussão. "Desculpa, Ivete, sua música continua no meu coração, mas o quanto eu já te amei como ídola, infelizmente, foi interrompido pelo seu em cima do murismo", tuitou o influenciador. "Anitta mandou o papo. É sobre política e partidos, sim. É sobre #ForaBolsonaro, sim. Sei que um dia você vai perceber."
Não foram só eles. Muitos outros internautas, famosos ou não, cobraram um posicionamento mais claro de Ivete Sangalo. Nem foi a primeira vez: desde, pelo menos, 2018, que a cantora vinha se recusando a dizer de qual lado estava na arena política brasileira.
Em outros tempos, até daria para defendê-la. Muitos artistas alegam que sua missão é fazer o público esquecer de seus problemas. Também dizem que têm fãs de todas as tendências e que não querem alienar ninguém.
Beleza. Só que, agora, temos mais de 500 mil mortos, e um culpado óbvio por tamanha mortandade: Jair Bolsonaro, um presidente despreparado e incompetente, para não dizer mal-intencionado. Chega a ser um dever moral denunciá-lo por seus crimes e trabalhar ativamente para evitar que ele seja reeleito em 2022.
Uma das maneiras de conseguir isto, afirmam os cientistas políticos, seria formar uma frente ampla, reunindo partidos da direita à esquerda. Isso foi feito recentemente em Israel, e o resultado foi que Binyamin Netanyahu deixou o cargo de primeiro-ministro depois de 12 anos.
Só que a oposição a Bolsonaro não se entende. Há inúmeros postulantes à Presidência da República, muitas ambições desenfreadas, pouco senso de patriotismo. Cabe, portanto, à sociedade se organizar neste sentido.
E os artistas são uma das pontas de lança da sociedade. Eles tiveram um papel importantíssimo na derrocada da ditadura militar (1964-1985), no começo da década de 1980. Acabaram incentivando políticos de todos os matizes a aderirem à campanha das Diretas-Já, que acelerou o fim do regime.
Talvez esteja acontecendo algo parecido agora. Até porque a própria classe artística foi atingida em cheio pela má gestão da pandemia: nomes como Paulo Gustavo, Aldir Blanc, Nicette Bruno, Eduardo Galvão e tantos outros já não estão mais entre nós.
Tantas perdas fizeram com que a atriz Samantha Schmütz, por exemplo, se tornasse uma voz aguerrida, exortando colegas como Juliana Paes a se manifestarem. Assim, aos poucos, vemos surgir um consenso entre os artistas.
E não, nem todos querem a volta do PT ao poder. Muito menos, a restituição da imaginária "mamata", que nunca existiu. Querem, simplesmente, alguém adequado para o cargo mais alto da nação.
"Esse governo que aí está não me representa nem mesmo antes de a ideia de ele existir", escreveu Ivete Sangalo nesta terça (22), em suas redes sociais. "E isso vamos resolver quando unirmos forças nas próximas eleições, através do poder do voto."
Que os políticos a ouçam.
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