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Tony Goes

Globo anuncia mais uma reprise na faixa das 21 horas, e a vida parece andar para trás

Sensação de normalidade com a volta de 'Amor de Mãe' durou pouco

Regina Casé e Adriana Esteves em cena da novela "Amor de Mãe"
Regina Casé e Adriana Esteves em cena da novela "Amor de Mãe" - Divulgação
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“Amor de Mãe” ia de vento em popa quando chegou a pandemia. Como quase todas as produções brasileiras de teledramaturgia, a novela de Manuela Dias teve suas gravações interrompidas, e o último capítulo da “primeira fase” foi ao ar no dia 21 de março de 2020.

Na semana seguinte, a Globo começou a exibir uma versão compacta de “Fina Estampa”, novela de Aguinaldo Silva transmitida originalmente em 2011. A perspectiva era a de que, depois dessa reprise, “Amor de Mãe” voltasse ao ar, lá por julho ou agosto do ano passado.

Só que a Covid-19 não deixou. A doença se alastrou pelo país, e o número de mortos explodiu. Para proteger elenco e equipe, a emissora retomou as gravações da novela em agosto, em ritmo lento, adotando rígidos protocolos de segurança. Mesmo assim, atores como Vladimir Brichta, Jéssica Ellen e Taís Araújo acabaram se contaminando.

“Amor de Mãe” foi concluída em novembro passado, mas não voltou ao ar de pronto. Após o término de “Fina Estampa”, a Globo passou a reprisar “A Força do Querer”, novela de Glória Perez de 2017. Marcou então uma nova data para o folhetim de Manuela Dias reestrear: 1º de março de 2020, o que de fato aconteceu.

Durante as primeiras duas semanas, está indo ao ar uma breve retrospectiva do que já aconteceu na trama. No dia 15 de março, começa a exibição dos capítulos inéditos – apenas 23, concentrados nos personagens principais. E então, no dia 12 de abril, finalmente chegaria “Um Lugar ao Sol”, de Licia Manzo, adiada em quase um ano.

Foi delicioso reencontrar “Amor de Mãe” nesta semana. Ao rever os momentos-chave da história, também estamos revendo uma época em que não precisávamos usar máscaras nem praticar distanciamento social. A ideia de que em breve veríamos o desfecho, suspenso por tanto tempo, também era reconfortadora: a vida parece voltar aos eixos e novamente andar para a frente, seu sentido natural. A pandemia está acabando!

Só que não, é claro. Enquanto boa parte do mundo vê os níveis de contaminação caírem e os números de vacinados avançarem, aqui no Brasil reina o caos absoluto. Novas variantes do vírus ceifam os mais jovens, enquanto o despreparado que ocupa a presidência da República diz que é tudo “mimimi”.

A Globo já tem cerca de 70 capítulos gravados de “Um Lugar ao Sol”, e mesmo assim achou arriscado estreá-la. Quando “Amor de Mãe” acabar, volta ao ar “Império”, mais uma obra de Aguinaldo Silva, exibida em 2014 e vencedora do prêmio Emmy Internacional de melhor novela.

É angustiante e desanimador, e não só porque a sombria “Império” não é exatamente a distração mais adequada para este período tão difícil. Uma terceira reprise na faixa das 21 horas da Globo –a de maior audiência da televisão brasileira, a do intervalo comercial mais caro– é um sinal inequívoco da barafunda em que nos metemos.

Mas é o que temos para o momento. O Brasil cometeu a sandice de eleger alguém sem a menor experiência em administração para o mais alto cargo da República, e deu o azar de uma pandemia nos atingir justamente quando este incompetente está no poder. O resultado está aí: quase dois mil mortos por dia, economia em queda livre, nenhuma luz no fim do túnel. Numa situação como esta, suportar mais uma novela reprisada é o menor dos nossos problemas.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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