Quarta temporada de 'The Handmaid's Tale' reflete mudanças políticas e culturais
Mais violentos, novos episódios trazem vítimas se vingando de seus algozes
A primeira temporada de "The Handmaid’s Tale" ("O Conto da Aia") estreou nos Estados Unidos em abril de 2017, ainda nos primeiros meses da presidência de Donald Trump. A série foi imediatamente apontada como um prenúncio do que estaria por vir, com a chegada de ultraconservadores a postos-chave do governo.
Não foi proposital. A produção começou muitos anos antes, e o roteiro é baseado no livro do mesmo nome da canadense Margaret Atwood, lançado em 1985. Mas pequenas atualizações (nos primeiros episódios, por exemplo, os personagens chamam carros por aplicativo) deram um sentido de urgência a uma obra que já era um alerta.
O primeiro episódio da quarta temporada estreia na próxima quarta (28) na TV americana, e poderá ser visto no Brasil a partir de 2 de maio na plataforma Paramount+. Os EUA e o mundo já não são os mesmos de quatro anos atrás.
A derrota de Trump nas eleições americanas de 2020 e o fracasso de lideranças populistas frente à pandemia, assim como a ascensão do movimento #MeToo, mostram que os ventos políticos e culturais estão mudando.
A série também mudou, e parece refletir os novos tempos. A ditadura teocrática de Gilead, que escraviza mulheres e ocupa a área de quase todos os EUA, agora está sob ataque dentro e fora de suas fronteiras. A rebelde aia June, vivida por Elisabeth Moss, lidera um movimento que consegue enviar um avião para o Canadá com 86 crianças a bordo –e as crianças são o bem mais precioso de Gilead, que sofre com a infertilidade de seus habitantes.
Enquanto isto, o casal Waterford, está preso em Toronto. Os antigos amos de June foram recuperar a pequena Nichole, a filha biológica da aia que eles criavam como se fosse deles. Acusados de crimes contra a humanidade, Serena Joy, papel de Yvonne Strahovski, e Fred, interpretado por Joseph Fiennes, se voltam um contra o outro.
Esses acontecimentos dramáticos encerraram a terceira fase da série, em 2019. Por causa do adiamento das gravações provocado pela pandemia, só agora saberemos o que vem depois.
E, sem querer dar spoilers, o que vem é mais violência. Os três episódios a que a Folha teve acesso trazem cenas de tortura e execuções a sangue frio. Os burocratas de Gilead cometem novas atrocidades, mas June e suas comparsas retrucam na mesma moeda. O programa retorna impregnado de um novo ímpeto, em que as vítimas dão o troco em seus algozes.
Isso acontece logo no primeiro capítulo, quando June e outras aias em fuga encontram abrigo na fazenda da sra. Keyes –na verdade, uma garota de 14 anos forçada a se casar com um homem muito mais velho, agora senil. Com o marido posto para escanteio, a adolescente dá as cartas, e conta com a ajuda de suas hóspedes para se vingar de um dos vizinhos que a estupravam.
Mas há um problema que ainda não foi resolvido: o eterno retorno de June. A protagonista terminou cada uma das temporadas anteriores com a chance de escapar de Gilead, e em todas preferiu ficar. O motivo é sua filha mais velha, Hannah, adotada por uma família poderosa, a quem ela não tem acesso.
É um recurso narrativo eficaz, mas já desgastado. "The Handmaid’s Tale" – que esgotou o livro de Atwood em sua temporada inicial –corre o risco de se tornar enfadonha, repetindo o mesmo plot para não ter que acabar logo.
Há uma saída à vista: o romance "Os Testamentos", que Margaret Atwood lançou em 2019 e conclui a saga de Gilead. Mas também há empecilhos. Para começar, a ação se passa 15 anos depois do ponto em que a história está na TV.
E há algumas discrepâncias, como a personagem de Tia Lydia, vivida por Ann Dowd. Na versão da telinha, ela é uma adepta fervorosa do regime, e tem um passado distinto de sua equivalente no livro —onde, ao fim e ao cabo, ela acaba se revelando uma perigosa agente dupla.
O trailer da quarta temporada mostra uma cena com June em que ela parece estar em Toronto, testemunhando contra Serena Joy. Será interessante ver como os roteiristas darão prosseguimento a "The Handmaid’s Tale" com a protagonista já em segurança no Canadá. Pois, a série ainda está longe de acabar: pelo menos mais uma temporada, a quinta, já foi confirmada.
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