Tony Goes
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Que a morte de Nicette Bruno sirva para nos conscientizarmos do perigo da Covid-19

Enquanto a atriz agonizava no Rio de Janeiro, Carlinhos Maia dava uma grande festa em Alagoas

Nicette Bruno
Nicette Bruno - Divulgação
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A morte de Nicette Bruno neste domingo (20) deixou milhões de brasileiros tristes e desnorteados. Ao longo de sete décadas de carreira, a atriz construiu uma imagem pública que misturava muitos de seus personagens na TV com o que ela era de fato na vida real: uma figura materna fortíssima. Quem mais aí teve a sensação de que morreu uma pessoa da família?

Foi, talvez, a vítima famosa da Covid-19 que mais comoveu o público brasileiro, entre as muitas celebridades que já sucumbiram nesta segunda onda. Só nas últimas duas semanas, perdemos o ator Eduardo Galvão, o cantor Paulinho, do grupo Roupa Nova, e a atriz Christina Rodrigues, que morreu à espera de um leito de UTI.

Mas, para uma parcela expressiva da população, a pandemia já deu. Ninguém aguenta mais ficar trancado em casa, o sol está brilhando lá fora, a vida é bela, meu corpo, minhas regras. E assim, vão se tornando cada vez mais frequentes os episódios de aglomeração, impulsionados pelas datas festivas do final do ano.

Enquanto o estado de saúde de Nicette Bruno se agravava na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, o influenciador Carlinho Maia dava uma grande festa em Penedo, sua cidade natal, em Alagoas.

O número de convidados varia de uma notícia para outra: há quem reporte 400 pessoas, há quem diga que foram mil. O que importa é que foi muita, mas muita gente mesmo, e só os garçons e demais funcionários estavam de máscara.

Em abril passado, quando a mortandade causada pelo novo coronavírus estava apenas começando, a influenciadora fitness Gabriela Pugliesi reuniu alguns amigos em sua casa para uma comemoração particular.

O evento teria passado em branco pela mídia, não fosse o impulso irrefreável da anfitriã e seus convidados de tudo compartilhar nas redes sociais. Um vídeo em que Gabriela aparece gritando “foda-se a vida!” viralizou, e custou a ela diversos patrocínios.

O caso de Carlinhos Maia é algumas vezes pior. Sua festa “Natal na Vila”, já celebrada em outros anos, foi comunicada com antecedência à imprensa. O autodeclarado “rei do Instagram” afirmou que o objetivo era promover o turismo em terras alagoanas, mas poucos caíram nessa conversa. Tudo o que Carlinhos Maia faz é para promover apenas a ele mesmo.

O rebu pegou super mal, ainda mais porque teve suas imagens divulgadas no mesmo dia em que Nicette Bruno morreu. Carlinhos Maia recebeu uma saraivada de críticas indignadas. Agora ele está tentando se justificar, dizendo que “seguiu rigorosos protocolos de segurança”, “tudo dentro da lei”, e que só queria gerar emprego e renda para o setor de turismo de sua cidade.

Ele poderia ter feito uma doação para esses profissionais ao invés de gastar na festa, mas sua vaidade falou mais alto. Jamais lhe ocorreu que serve de (mau) exemplo para seus milhões de seguidores. Confirmou, mais uma vez, o título de Mais Equivocada Celebridade Brasileira.

Poucas vezes um cancelamento foi tão merecido, portanto vamos deixar Carlinhos Maia para lá. Voltemos para Nicette: uma mulher luminosa, adorável, com um talento gigantesco e um coração maior ainda.

A atriz passou meses reclusa em casa, tentando escapar do coronavírus. Em novembro, recebeu a visita de um parente que não sabia que estava contaminado. Assintomático, ele acabou infectando Nicette.

Essa tragédia é um lembrete poderoso de que a pandemia está longe de acabar. Todo cuidado é pouco, apesar das declarações estúpidas e diárias do energúmeno que ocupa o Palácio do Planalto –na verdade, tudo o que ele quer é nos distrair das investigações que ameaçam sua família. Para todo o resto, esse despreparado não está nem aí.

Tomara que a morte de Nicette Bruno sirva para que, finalmente, nos conscientizemos da gravidade do momento que estamos atravessando.

A vacina vem aí, mas ainda não chegou. Natal e réveillon com pouca gente pode não ser o ideal, mas temos que nos esforçar para que só aconteçam desse jeito em 2020. Porque a vida é mesmo bela, e fica ainda mais bonita se for longa.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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