BBB 20 suscita debates sobre assédio e religião, e reflete mudanças na sociedade brasileira
Petrix lidera a turma de boys lixo do programa, que agora também tem 'igreja'
O holandês John De Mol, fundador da produtora Endemol, criou o Big Brother como uma espécie de laboratório do comportamento humano. Inspirado pelo projeto Biosfera 2 – que em 1991, confinou cientistas em uma redoma no deserto americano do Arizona – o formato revelaria como um grupo de pessoas díspares suporta uma difícil convivência forçada.
O sucesso foi imediato, e o reality foi produzido em inúmeros países, adquirindo características próprias em cada um deles. No Brasil, já está na vigésima edição.
Era inevitável que, com tanto tempo no ar, o programa sofresse mudanças de um ano para o outro. Hoje há muito mais provas de resistência e habilidade do que nos primeiros tempos, quando os concorrentes eram deixados mais à vontade.
Também dá para dizer que, para o bem e para o mal, o BBB reflete as mudanças na sociedade brasileira. Em 2005, por exemplo, o país se encantou com um intelectual feinho e simpático, abertamente homossexual, e deu a ele a vitória. Dá para imaginar que Jean Wyllys ganharia essa disputa nos dias de hoje, dado o clima conservador reinante no Brasil?
Com algumas exceções, os primeiros vencedores do BBB se encaixavam em um mesmo padrão: rapazes brancos de classe média. Atualmente, as mulheres predominam. Algo parece ter mudado na cabeça do público votante.
Os grandes temas discutidos aqui fora também eclodem dentro da “casa mais vigiada do Brasil”. O mais candente deles é a masculinidade tóxica. Está virando tradição: quase todo ano, eclode um escândalo sexual no BBB, resultando na expulsão de um jogador.
A bola da vez parece ser Petrix, o macho mais alfa do elenco atual. O ginasta olímpico ganhou notoriedade, antes de entrar para o programa, quando denunciou o abuso sexual que sofreu de técnicos ao longo de sua carreira esportiva. Uma vez no BBB, ele vem protagonizando episódios que as redes sociais estão classificando como assédio – um caso clássico de vítima que se transforma em algoz?
Depois de balançar os seios de Bianca “Boca Rosa” (que afirmou não ter se incomodado) e esfregar suas partes pudendas em Flayslane, Petrix já é alvo de uma campanha que pede sua eliminação sumária da competição.
O atleta não é o único boy lixo do BBB 20. Felipe, Hadson e Lucas, com seus comentários que denigrem as mulheres, já estão na mira das feministas de plantão. Podem ser os próximos a seguir Chumbo, que já saiu do programa.
Se isto de fato acontecer, estamos diante de uma mudança interessante. Nas edições anteriores, machões consumados como Alemão (BBB 7) e Dourado (BBB 10) foram premiados pela audiência com a vitória final. Será que eles repetiriam o feito se concorressem nos dias de hoje?
Um outro fenômeno curioso está rolando na edição deste ano: a roda de oração, já batizada de “igreja” pelos internautas. O programa de terça (29) mostrou alguns brothers e sisters formando um círculo no jardim da casa, para rezar e compartilhar experiências. Telma e Babu, que ficaram de fora, não gostaram do que viram.
É difícil dizer o quanto há de sincero fervor entre os frequentadores da “igreja” e o quanto de exibição para as câmeras, no intuito de conquistar o voto do público evangélico.
De qualquer forma, é a primeira vez que a religião aflora com força dentro do Big Brother Brasil. Mais um sintoma dos tempos conturbados em que vivemos.
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