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Tony Goes

Fernanda Gentil escolheu mal as palavras, mas não merece ser 'cancelada'

Entrevista da apresentadora à Folha gera onda de críticas nas redes sociais

Fernanda Gentil - Victor Pollak/Globo
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Estamos acostumados a ver celebridades pisarem na bola. Só na última semana, tivemos o vídeo em que MC Gui faz bullying em uma criança na Disney World e Carlinhos Maia rabiscando um quadro em seu quarto de hotel em Aracaju.

O primeiro episódio é bastante grave, e pode descarrilar a carreira do jovem funkeiro. O segundo só confirma o despreparo de um influenciador digital que, volta e meia, enfia os pés pelas mãos. Carlinhos e Gui têm, a seu favor, a juventude e a falta de uma educação aprimorada, o que em parte justificaria a ausência de empatia e traquejo social que demonstraram. Fernanda Gentil não tem esses álibis.

A apresentadora do programa Se Joga (Globo) deu uma longa entrevista ao jornalista Bruno B. Soraggi, publicada na coluna Mônica Bergamo, na Folha, deste domingo (27). Quase no final do texto, estão as declarações que provocaram um tsunami de comentários negativos na internet.

“Respeito quem acha um crime ter o beijo gay. Agora, não vai bater em quem beija, entendeu? [Respeito] quem infelizmente é racista. Agora, vai discriminar, bater, matar porque é de outra cor? Aí não.”

Dá para perceber a intenção de Fernanda Gentil por trás dessas palavras. Ela prefere diálogo ao confronto (o que ela confirma logo depois, ao dizer “quero falar com as pessoas”). Mas as palavras foram extraordinariamente mal escolhidas, o que é grave para uma jornalista.

Quem acha crime ter beijo gay é homofóbico, e a homofobia não merece respeito. Racismo tampouco merece: é um crime inafiançável segundo a legislação brasileira (aliás, homofobia agora também é, depois da recente decisão do Supremo Tribunal Federal).

Diálogo é sempre louvável, mas respeito implica em outra coisa. Implica em tolerância, por exemplo, e racismo e homofobia não podem ser tolerados em hipótese alguma. As palavras de Fernanda Gentil soam ainda mais infelizes quando lembramos que ela é casada com outra mulher há quatro anos, fato que jamais escondeu. Um gesto político corajoso, por mais que ela diga que não gosta de “enfiar goela abaixo” assuntos como este.

Transplantada do esporte para o entretenimento, Fernanda Gentil precisa ser aceita em sua nova função por um público amplo e, em boa parte, conservador. É até compreensível que ela fuja dos antagonismos, ainda mais quando o “Se Joga” luta para se firmar na audiência.

Assustada com a reação nas redes sociais, Fernanda Gentil postou um longo texto em seu perfil no Facebook explicando seu ponto de vista. Ela diz, como é habitual em situações como esta, que suas declarações foram editadas e retiradas de contexto.

Mas também esclarece um ponto importante. “Não existe respeitar a homofobia. O racismo. A gordofobia. E nenhuma outra fobia.” Provavelmente tocará no assunto no “Se Joga” desta segunda (27).

Fernanda Gentil não é “do mal”, tampouco merece ser “cancelada” ("esquecida", na linguagem dos internautas). Ela se expõe e dá a cara para bater. É uma aliada das causas progressistas, e está na linha de frente dos embates culturais que sacodem o Brasil e o mundo.

Mas palavras também importam, e a internet fez bem em reagir. Homofobia e racismo não merecem respeito algum, como a própria Fernanda já admitiu.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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