Ágil e divertida, 'Bom Sucesso' promete ser subversiva
Novela das 19h da Globo tem muitos negros no elenco e muitos livros
A dramaturgia da Globo passa por um momento curioso. As séries estão ótimas: do realismo de “A Divisão” à irreverência de “Shippados”, nada ficam a dever às congêneres estrangeiras. Mas muitas ainda estão disponíveis apenas na plataforma de streaming Globoplay.
Já na TV aberta, as novelas ainda predominam. Depois de alguns sobressaltos, vão todas bem de audiência. Mas a qualidade dos textos despencou. Tramas óbvias e repetitivas assolam “A Dona do Pedaço”, às 21 horas, e até mesmo “Órfãos da Terra”, às 18 horas, que até deslanchou muito bem, mas não manteve o pique inicial.
A recém-terminada “Verão 90” também deixou a desejar. Sua substituta na faixa das 19 horas, no entanto, parece fugir à regra. O primeiro capítulo de “Bom Sucesso”, de Rosane Svartman e Paulo Halm, foi ao ar nesta segunda (29). Mesmo sem reinventar a roda, trouxe frescor e caras novas.
O mote central da trama nem é dos mais originais. Paloma (Grazi Massafera, melhor do que nunca) – a mulher guerreira e batalhadora de classe baixa, obrigatória em todos os folhetins nacionais – descobre que tem pouco de vida.
Depois de cometer algumas loucuras, ela é avisada pelo laboratório de que houve um engano: seu exame foi trocado com o de outro paciente, o rico empresário Alberto (Antonio Fagundes).
Os dois irão se aproximar, mas só daqui a alguns capítulos. O que se viu na estreia foi a apresentação dos universos dos protagonistas, com direção ágil e ótimos diálogos.
Paloma é costureira e mora no bairro carioca de Bom Sucesso. Também é mãe solteira: cada um de seus três filhos é de um pai diferente. Mas só perde o bom humor quando algo grave acontece – como, por exemplo, a gravidez de sua filha mais velha, Alice (Bruna Inocêncio), que ainda por cima perdeu a prova do ENEM.
Já Alberto vive preso a uma cadeira de rodas, mas ainda dá expediente em sua combalida editora (só em novela que dono de editora no Brasil é milionário). Sua filha Nana (Fabíula Nascimento) tenta salvar a empresa, mas seu filho Marcos (Rômulo Estrela) se afastou do negócio da família e abriu um bar em Búzios.
Marcos irá formar um triângulo amoroso com Paloma e Ramon (David Junior), o pai de Alice, que volta ao Brasil depois de um longo período nos Estados Unidos.
Ramon é negro, assim como metade dos personagens de “Bom Sucesso”. É algo perfeitamente natural para uma novela que se passa no Rio de Janeiro, mas uma novidade absoluta na Globo. Nem mesmo “Segundo Sol” (2018), ambientada em Salvador, tinha tantos negros no elenco. A emissora recebeu muitos protestos por causa disso, e parece ter dado ouvidos.
Outra característica interessante de “Bom Sucesso” é a presença da literatura. Paloma é uma devoradora de livros, e Alberto, como já dito, tem uma editora. Os volumes estão presentes até mesmo na abertura da novela.
Com tantos negros, livros e até mesmo uma transexual na trama (Gabrielle Joie), “Bom Sucesso” vai na contramão da maré de ignorância e preconceito que permeia o país. Neste sentido, é uma novela discretamente subversiva.
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