Sob Pressão chega à terceira temporada em plena forma
Não faz sentido a decisão da Globo de terminar com o seriado médico
Custa muito caro desenvolver uma série para a TV. A preparação dos roteiros da primeira temporada – que inclui sinopses, arcos dramáticos, perfis de personagens e a “bíblia” (uma espécie de guia geral do programa), além de inúmeras das versões dos roteiros propriamente ditos – pode levar mais de um ano.
Depois vem o orçamento, a escolha de elenco e das locações, a produção e a pós-produção. Por mais cuidado que se tenha, por mais grana que se gaste, nada disso garante um sucesso. São inúmeros os produtos que fracassam logo de cara.
É por isto que o cancelamento de “Sob Pressão” desafia a lógica. A Globo anunciou que a terceira temporada da série, que estreou nesta quinta (2), também será a última. Segundo a emissora, “o ciclo se fechou”.
Só que não faz o menor sentido encerrar um programa que vai bem por qualquer ângulo que se olhe. “Sob Pressão” tem ótimas críticas, uma dezena de prêmios e índices expressivos de audiência. Ao contrário de outras atrações da Globo na mesma faixa horária, jamais perdeu para a concorrência.
O primeiro episódio da nova safra deixou evidente a maior qualidade da série: mostrar como a duríssima realidade brasileira interfere diretamente na vida pessoal dos cidadãos. Duas páginas tiradas do noticiário serviram de arcabouço para o roteiro: a greve dos caminhoneiros de maio de 2018, que paralisou o país, e a violência endêmica das nossas cidades.
“Sob Pressão” acabou de passar por um “reboot”. Seus protagonistas, os médicos Evandro (Julio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano), agora trabalham para o Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (Samu) do Rio de Janeiro, o serviço municipal de ambulâncias. Um único caso mantém a dupla ocupada durante todo o episódio de estreia da nova fase: um menino que teve o peito atravessado por um espeto de churrasco.
Além das agruras de sempre, os doutores têm que enfrentar a falta de material hospitalar agravada pela greve, a falta de gasolina, a recusa de um hospital particular em atender o garoto e a convivência com traficantes e contrabandistas. Acabam eles mesmos tendo que operar o paciente, em mais uma “gambiarra médica” (termo usado pelos próprios personagens).
Séries médicas costumam ser longevas por uma razão óbvia: os assuntos entram pela porta. A americana “E.R.” durou 15 anos. O mais difícil é construir personagens consistentes e interessantes, e isso “Sob Pressão” conseguiu faz tempo.
Será que, mesmo vendida para o exterior e liderando seu horário, “Sob Pressão” ainda é cara demais? A Globo vem enxugando custos de maneira ostensiva. Diminuiu o salário de grandes estrelas e até o ritmo de produção de séries.
Mesmo assim, é inexplicável a decisão de terminar o programa. A Conspiração, responsável pela produção, garante que gostaria de continuar. O público tampouco está cansado: os primeiros números divulgados da audiência desta quinta (2) são expressivos. Será que rolou alguma treta nas internas, da qual não estamos sabendo?
Se for este o caso, torço para que as partes se entendam. “Sob Pressão” é um produto superior, que leva a televisão brasileira a um novo patamar. Não merece esta morte súbita, como se fosse mal atendida em um precário hospital do subúrbio.
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