Nova temporada de 'Malhação' aposta no folhetim para segurar a audiência
Tramas de 'Toda Forma de Amar' passam longe do escapismo adolescente
“Malhação” voltou a estar em crise? A série planejada pela Globo para ser eterna passou por uma intervenção da cúpula da emissora alguns anos atrás. A audiência em queda levou à troca da equipe de roteiristas e a apresentação de uma imagem menos alienada da juventude brasileira.
Deu certo. Os números do Ibope subiram, e a temporada de 2017, “Viva a Diferença” – a primeira ambientada em São Paulo – conquistou o público, a crítica e inúmeros prêmios. E continua repercutindo até hoje: está entrando em produção o spin-off “As Five”, uma espécie de continuação, exclusiva para a plataforma Globoplay.
Mas a safra de 2018 não foi bem. “Vidas Brasileiras”, baseada em um formato canadense de sucesso, não agradou ninguém. Terminou nesta segunda (15), sem deixar saudades.
Preocupada com o futuro de “Malhação” – um produto fundamental para alavancar a audiência do horário nobre – a Globo resolveu apostar no bom e velho folhetim. E aprovou uma sinopse de Emanuel Jacobina, um veterano de outras temporadas, que carrega nas tintas dramáticas e realistas.
O resultado passa longe da desencanação característica dos primeiros anos. Os temas desta vez são tão sérios que cabe até a mesma pergunta que vem sendo feito em relação à novela “Órfãos da Terra”: será que o programa não estaria mais adequado para outro horário?
A história central é dramalhão em estado puro. Rita, 17 anos (feita pela estreante Alanis Guillen, uma dessas estrelas que parecem terem nascido prontas), busca pela filha que teve aos 15 e que julgava estar morta. Depois que seu pai morre, a moça descobre que o bebê foi adotado por Lígia (Paloma Duarte) e Joaquim (Joaquim Lopes), um casal de comercial de margarina.
Vem aí uma batalha nos tribunais pela guarda da criança, temperada por uma complicação extra: Rita irá se apaixonar por Filipe (Pedro Novaes, que também parece ter nascido pronto – também, pudera, seus pais são Marcelo Novaes e Letícia Spiller).
Outra das tramas principais deslancha a partir de um crime testemunhado por Rita e outros jovens. A violência urbana será um dos temas abordados por “Toda Forma de Amar”, e um dos cenários principais da temporada é a nada glamorosa Baixada Fluminense, onde a atuação de traficantes e milícias é muito mais nítida do que na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Também há alívio cômico (uma garota que quer aprender a beijar), um toque de modernidade (um rapaz que se descobre gay) e mais um pé no folhetim clássico (uma filha de mãe solteira parte em busca de seu pai biológico). Para os padrões de hoje, nada de muito inovador.
Faltou uma certa leveza aos dois primeiros capítulos de “Toda Forma de Amar”. A nova temporada está com cara de novela antiga, longe do laboratório de novidades que costuma ser “Malhação”.
Combalida por quedas no Ibope e pelo clima político mais conservador, a Globo preferiu não arriscar. É cedo para dizer se a estratégia está correta: “Malhação – Toda Forma de Amar” estreou com média de 17,7 pontos na Grande São Paulo, a mais baixa das quatro últimas temporadas.
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