Encontro de Bolsonaro e Silvio Santos foi conversa entre dois tiozões
Visita do presidente ao auditório do apresentador foi exibida neste domingo (5)
Silvio Santos, 88, tem um longo histórico de bajulação ao presidente da República, não importa quem seja o ocupante do cargo. Com exceção de Dilma Rousseff, todos os mandatários desde a redemocratização estiveram em seu programa no SBT. Neste domingo (5), foi a vez de Jair Bolsonaro.
Os dois estão próximos desde o final do ano passado. Já eleito, Bolsonaro deu uma passadinha no churrasco de aniversário de Silvio, em dezembro, sem tê-lo conhecido pessoalmente antes. Também são notórias as afinidades ideológicas entre ambos.
Era óbvio que Bolsonaro logo seria entrevistado no palco por Silvio, e não há nada de errado com isso. O dono do SBT tem um imensurável poder de comunicação, e às vezes consegue transformar em frases simples os problemas mais cabeludos. De Collor a Temer, os presidentes brasileiros sempre recorreram a Silvio quando precisavam expor conceitos complexos à população.
A bola da vez é a reforma da Previdência, que SS apoia de corpo e alma. O apresentador chegou a se entusiasmar na defesa da reforma, alegando que, sem ela, voltará a hiperinflação. Chegou a usar um exemplo pouco adequado a seu público – “não vou precisar transformar meus reais em dólares”. Bolsonaro precisou lembrá-lo que isto não é uma opção ao alcance dos mais pobres.
Silvio também manifestou uma surpreendente discordância às ideias do presidente, ao dizer que o rearmamento vai transformar o Brasil em um “faroeste”. Mas a paz logo voltou a reinar entre os dois, que concordaram que as leis nacionais são brandas demais e que bandidos passam pouco tempo na cadeia.
Por seu lado, Bolsonaro mostrou-se muito mais articulado e à vontade do que quando tem que discursar. Sem um teleprompter para atazaná-lo, o presidente parecia afável, com respostas na ponta da língua para todas as perguntas (que, é bom frisar, eram todas bastante fáceis).
Ainda assim, ele mais uma vez deu sinais de que governa em benefício próprio. Por que retirar os radares das estradas? Para recuperar “o prazer de dirigir”, respondeu o presidente. As proteções ambientais também devem ser amainadas, para “incentivar o turismo interno”. Bolsonaro, como se sabe, foi multado pelo IBAMA por pescar em área proibida, em Angra dos Reis.
Com apenas meia hora de duração, inúmeros assuntos ficaram de fora da conversa. Que, no entanto, fluiu sem maiores sobressaltos: ninguém passou um vexame histórico, nenhuma grande novidade foi revelada. O saldo foi um papo ameno entre dois tiozões, que já estavam de acordo em quase tudo.
O encontro entre Silvio e Bolsonaro rendeu bons números no Ibope e uma avalanche de comentários nas redes sociais. Resta saber se algum espectador mudou de ideia – ou passou a ter uma – sobre a reforma da Previdência.
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