A força da TV linear vai acabar junto com 'Game of Thrones'?
Série da HBO pode ser último programa regular que reúna tanta gente ao mesmo tempo
Como sempre acontece logo antes de uma nova safra, “Game os Thrones” dominou as redes sociais nos últimos dias. Boa parte dos internautas manifestou sua ansiedade pela estreia e fez apostas sobre os prováveis mortos na trama. Enquanto isto, uma minoria se orgulhava de nunca ter visto a série – que tolinhos, não é mesmo?
Depois, quando o primeiro episódio da oitava e última temporada entrou no ar, pela HBO, parecia que meio mundo havia prendido a respiração. Quando ela finalmente foi solta, durante os créditos finais, começaram a brotar online uma infinidade de comentários, memes e gifs. Ah, que delícia que é assistir a um programa junto com centenas de milhões de outros espectadores!
É bom aproveitar esta sensação, porque pode ser a última vez. Depois que “Game of Thrones” terminar, no dia 19 de maio, talvez só eventos esporádicos como a Copa do Mundo consigam reunir tanta gente ao mesmo tempo na frente dos aparelhos de televisão.
Será o fim de uma era? O prego que faltava no caixão da chamada “TV linear” – aquela com horários fixos, intervalos e grades de programação? A única que conhecíamos antes do advento das plataformas de streaming?
Muitos dirão que não, de jeito nenhum. Afinal, os canais abertos ainda são dominantes no mercado brasileiro, abocanhando a maior parte da audiência e das verbas publicitárias. Os canais pagos, por sua vez, ainda têm mais assinantes do que os serviços de vídeo sob demanda. Mas os números vêm caindo, para as duas modalidades de TV linear.
Ao mesmo tempo, uma parcela crescente do público vem mudando de hábitos. Desde 2013, quando a Netflix disponibilizou de uma só vez todos os episódios da primeira temporada de “House of Cards”, que cada vez mais gente faz maratonas de suas séries favoritas. Senta no sofá e vê de uma só tacada quantos episódios quiser, na hora em que bem entender.
Quase todas as plataformas de streaming aderiram a este sistema – inclusive a Globoplay, que disponibiliza para seus assinantes, às vezes com mais de um ano de antecedência, atrações que ainda irão ao ar pela Globo. Uma estratégia arriscada, mas que vem dando certo até agora.
A única a resistir é justamente a HBO GO. O serviço da HBO só oferece episódios de suas séries mais badaladas depois que eles foram exibidos pela emissora-mãe – ou poucos dias antes, mas só um de cada vez. Apenas programas menos importantes, como “The Shop”, têm suas temporadas disponibilizadas na íntegra.
Quanto tempo mais a HBO GO irá remar contra a corrente? A própria HBO vem tentando lançar um novo campeão de audiência, mas ainda não conseguiu. O impacto de “Westworld” deixa muito a desejar. Talvez em 2020, quando deve estrear um spin-off de... “Game of Thrones”?
Nem a TV aberta vem logrando grande coisa. As novelas da Globo não produzem mais um fenômeno como “Avenida Brasil” (2012), mesmo que os índices do Ibope ainda sejam bons. As outras emissoras, então, não dão nem para o cheiro.
Por tudo isto, é provável que “Game of Thrones” seja o último programa que mobilize uma audiência “vertical” tão grande na mesma data, na mesma hora, no mesmo canal. Os próximos grandes sucessos serão “horizontais”, espalhados por muitos dias e horários.
Muito mais confortável, é claro. Mas, também, sem a comunhão planetária que sentimos viver agora. Foi bom enquanto durou, não foi?
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